Essência da cultura nipônica em “Novo Lobo Solitário”

Mais do que uma aventura samurai ou de vingança, o lançamento editorial se prova um dos melhores registros de época dos quadrinhos

Essência da cultura nipônica - Hideki Mori / divulgação

O “Lobo Solitário”, a saga samurai mais conhecida e respeitada dos quadrinhos, ganha continuação para surpresa e estranhamento dos fãs. Surpresa por se tratar de um lançamento dessa importância e com tão pouca divulgação. Estranhamento porque retomar a odisseia de Itto Ogami (que para muitos trata-se de uma obra fechada, perfeita para outros), deixou meio mundo nerd de orelha em pé. Como nossos corações já foram partidos muitas vezes em empreitadas semelhantes, o medo é legítimo.

Com o desenhista original (Goseki Kojima) falecido em 2000, e sua importância no sucesso das histórias, ficou a dúvida: como retomar uma obra cujo resultado era a simbiose perfeita entre dois autores de incontestável talento? Quem estaria à altura? Coube a Hideki Mori encarnar a arte apontada por seu predecessor em um resultado que reverencia sem copiar. Seu desenho em nada agride o leitor mais exigente. Ao contrário, reconhecemos Kojima naquelas linhas e hachuras, acolhemos o novo e vamos lentamente deixando cair as desconfianças prévias.

O “Novo Lobo Solitário” continua exatamente de onde terminou a série original, criando um vínculo imediato, transportando o leitor para o ponto exato onde tinha sido deixado. Frustra-se quem esperava ler histórias de Daigoro jovem, ou adulto. Ele continua a criança misteriosa, quase muda, que trilhou com o pai o caminho do Meifumadou (estrada do assassino), testemunhando todo tipo de atrocidade e violência. Agora, resgatado por outro samurai, Daigoro segue vítima do destino e dos ardis daqueles que brigam por ocupar funções estratégicas junto à hierarquia do Shogunato.

O novo arco com 18 volumes inicia amparado na fórmula conhecida de personagens fortes e tramas complexas de conspirações e jogos de poder. Em A Rainha... mais uma vez Daigoro se encontra no meio de uma disputa acirrada por interesses comerciais de diferentes clãs com o Shogun. Agora adotado pelo samurai peregrino Shigekata Togo, o filhote do Lobo Solitário aprende aos poucos a confiar em seu novo protetor e ao mesmo tempo seguir a vida e seus aprendizados com mais leveza.

O original
A estratégia de lançamento em conjunto de “Novo Lobo Solitário” e da série original é um deleite para os fãs cativos, mas termina sendo um spoiler para os novos. O final dramático da primeira série “se revela” nas primeiras páginas da continuação. Não desanime. Vale a leitura dos dois títulos. A obra andava tão cobiçada que sua coleção original de 28 livros andava sendo comercializada por volta de R$ 1 mil nos sebos.

“Lobo Solitário”, mais do que uma aventura samurai ou a história de uma vingança, é um dos melhores registros de época em quadrinhos. Seu êxito nesse sentido está menos na reconstrução visual e histórica do Japão feudal. O que o leitor realmente experimenta lendo essas histórias é entrar no pensamento e filosofia que rege a retidão das ações e motivações dos personagens daquele período. Muitas das histórias são verdadeiras parábolas, facilitando a percepção da cultura nipônica em todo seu sentido e riqueza. Tudo escrito com poesia, leveza e pertinência. Diversão garantida para os olhos e para a cabeça.

Serviço >
“Novo Lobo Solitário” (volumes 1 e 2)
Autores: Kazuo Koike (roteiro) e Hideki Mori (arte).
Editora: Panini
Quanto: R$ 18,90

“Lobo Solitário (vol. 1 e 2)”
Autores: Kazuo Koike (roteiro) e Goseki Kojima (arte).
Editora: Panini
Quanto: R$ 18,90

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