Violência reduz acesso a ônibus em São Lourenço da Mata

Motoristas dos coletivos têm se recusado a passar por certas vias à noite por causa da insegurança

Quatro linhas têm sido afetadas. Moradores têm que andar cerca de 650 metros, no escuro, para conseguir pegar a condução - Anderson Stevens

A falta de segurança, que, por si só, já é uma afronta a uma garantia constitucional, tem afetado outro direito dos cidadãos em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife (RMR): o de ter acesso ao transporte público. Por medo de assaltos, motoristas de ônibus têm se recusado a fazer viagens por cinco ruas do bairro Parque Capibaribe durante parte da noite e da madrugada.

Devido ao “toque de recolher”, passageiros que voltam tarde ou saem cedo para trabalhar ou estudar têm que se expor ao perigo a pé, percorrendo até 650 metros do trecho que deixa de ser atendido pelos coletivos até a parada mais próxima. A Polícia Militar (PM) prometeu fazer mudanças operacionais para dar condições de o serviço voltar à normalidade.

Quatro linhas têm sido afetadas: 2402-Parque Capibaribe/TI Caxangá, 2410-Parque Capibaribe/TI TIP, 2492-Parque Capibaribe/TI Camaragibe e 2457-São Lourenço (Bacurau). Segundo moradores, elas têm deixado de percorrer a avenida 01 e as ruas 75, 71, 75-A e 49. É um trecho de ladeiras estreitas e mal iluminadas.

O horário das restrições não é certeza nem mesmo entre a população. “Depende da semana. Quando tem assalto, os ônibus deixam de passar das 23h às 7h, até mesmo o bacurau. Quando os casos dão uma diminuída, eles não passam das 4h às 7h. Nessa confusão, o melhor que a pessoa faz é ir para a avenida, porque ficar esperando aqui é se arriscar à toa”, conta um morador da rua 75-A, sem se identificar.

Na localidade, assim como ele, os poucos que falam sobre o assunto têm medo de mostrar o rosto. “É gente daqui que faz esses assaltos. Eles são presos e ninguém tem coragem de reconhecer na delegacia”, conta a cabeleireira E.M.C., cuja filha é cobradora numa das linhas que atendem ao bairro. “Ela já foi assaltada três vezes”, completa.

Morador da rua 75, o conferente M.B, 24 anos, relata que os roubos se intensificaram desde julho de 2016 e que pouco tem sido feito para evitar. “Chego do trabalho pela manhã, cedo, e não tem ônibus. Normalmente, passa na minha porta, mas, nesse horário, ele não entra aqui. O que mais revolta é que a gente tem um batalhão da polícia no nosso bairro e parece que não adianta de nada”, desabafa.

O Sindicato dos Rodoviários chegou a enviar um ofício ao 20º Batalhão da PM informando sobre a decisão dos motoristas de não circular por essas ruas em parte do período noturno e pedindo soluções. “A situação está séria lá. Já teve motorista que levou coronhada durante um assalto. Por isso, foi tomada essa providência”, afirma o presidente da entidade, Benilson Custódio, lembrando que em localidades como Mustardinha, na Zona Oeste do Recife, e Zumbi do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes, ônibus também já tiveram que mudar de itinerário por iniciativa dos motoristas para fugir de pontos violentos. O sindicato contabiliza mais de 1,9 mil assaltos a coletivos neste ano. Para a Secretaria de Defesa Social (SDS), foram 731.

Em nota, a PM informou que, no início do mês, representantes participaram de uma reunião promovida pelo Grande Recife Consórcio de Transporte (GRCT) em que o fato foi mencionado e que, diante disso, “já foi traçado um plano operacional para atuar nessas áreas”. A corporação explicou, contudo, que o 20º Batalhão não tinha conhecimento de detalhes dos assaltos citados pelo sindicato, “já que as empresas realizavam o boletim [de ocorrência] diretamente com a Polícia Civil”.

A PM disse ainda que lançou ordens de serviços para intensificar o policiamento na área com o Grupo de Apoio Tático Itinerante (Gati), “que vem realizando abordagens das 4:30 às 6:00 da manhã, horário de maior incidência de assaltos”, e destacou que, desde então, não houve registro de crimes do tipo. Por fim, esclareceu que pediu imagens das câmeras de segurança dos ônibus assaltados à empresa operadora dos veículos.

Já o GRCT informou que “teve ciência da decisão dos motoristas” e que determinou à empresa operadora que os serviços fossem restabelecidos sob pena de adoção das medidas cabíveis no regulamento do Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR. A previsão, segundo o órgão, é de que os ônibus voltem a atender as ruas afetadas a partir de hoje.