PROFISSÕES

Além do afeto e da proteção: carreira profissional como herança da mãe

Na véspera do Dia das Mães, a Folha de Pernambuco traz uma matéria que mostra o quanto elas têm influenciado na carreira dos filhos, que, de forma espontânea, resolveram acompanhá-las

Sophia e Gabriela, do La Cuisine, parceiras profissionais há 17 anos - Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Associada sempre à ideia de afeto, proteção e amor, a figura materna também pode ser fonte de inspiração para os filhos quando o assunto é carreira profissional. Assim como gosto musical, preferência por algum tipo de comida, gênero de filme ou obra literária, a profissão, muitas vezes, também pode ser herdada pelos filhos.

O curioso é que a escolha geralmente acontece na adolescência, fase da vida em que a rebeldia, muitas vezes, é preponderante,e um estágio no qual se rebela contra o mundo e os pais. Para quem segue a profissão da genitora, no entanto, ouvir das pessoas próximas frases como ‘você é igual a sua mãe’, é motivo de orgulho.

Para a psicóloga e orientadora de carreira da Unit-PE, Karina Paz, muitas vezes o que leva um jovem a escolher a profissão é a referência. “Escolher a mesma profissão da mãe pode ser de grande ajuda, porque ela vai indicar algumas coisas, como o que passou, inclusive no processo acadêmico e de construção profissional, já no mercado. Vai dar o caminho das pedras, porém a vivência é individual. O que para a mãe pode ter sido fácil na profissão, para aquele jovem pode não ser”, explica.

A mãe, segundo Karina, vai estar sempre ao lado dando apoio, mas precisa deixar o filho seguir o seu processo individual. Para a psicóloga, saber os percalços que a mãe teve na carreira não garantirá que o filho que segue a mesma profissão não vá passar por isso, também. “Ele (o filho ou filha) pode sentir um pouco mais de segurança no processo de escolha por ter alguém próximo para ajudá-lo, mas o processo é único. Não tem como proteger de tudo, e o ideal é que não proteja mesmo, mas que cada construção seja única”, acrescenta.

Para Karina a profissão como herança nasce a partir do momento em que o filho ou a filha se encanta pela área profissional da mãe. “Esses laços profissionais aproximam muito mais, porque eles vão trocar muitas ideias”, destaca. A psicóloga alerta que no trabalho a relação de parentesco deve ser deixada de lado.

“Naquele momento, ela não é a mãe, é a chefe que vai precisar orientar aquele filho para o negócio. Não é porque é mãe que vai passar a mão na cabeça quando o filho faz algo errado. Tem a proximidade, isso é importante, mas é preciso saber administrar essa relação”, diz.

A empresária Isabela Coutinho divide a sociedade na loja de móveis Itálica Casa e na franquia da Casa Cor Pernambuco com a sócia, Carla Cavalcanti. Isabela é graduada em engenharia civil e a filha Gabriela, 29 anos, em arquitetura. Não é exatamente a graduação que uniram as duas, mas a Casa Cor. Ainda quando era estudante, ela começou a estagiar na franquia da mãe, e foi notada pela superintendente da Casa Cor de São Paulo na época, Lívia Pedreira, que esteve no Recife e ficou impressionada com o comprometimento dela no trabalho, externando o interesse de levar a estudante para estagiar em São Paulo.

Gabriela, em 2017, terminou ficando um ano em São Paulo e não foi contratada porque não quis. Voltou, terminou os estudos e continuou trabalhando com a mãe. “Como ela é arquiteta, agrega à implantação de projeto, divisão de ambientes, tem noção de espaço etc. A cada ano que passa, ela ganha mais relevância nesse projeto. É uma cabeça nova, arejada, que traz ideias interessantes. Tem empolgação e uma postura bacana”, elogia.

Isabela se orgulho em ter a filha como parceira profissional, mas esclarece que nunca fez pressão para que os filhos a seguissem na carreira. “Nunca fui uma mãe de induzir meus filhos. Tenho quatro, cada um com uma profissão diferente", esclarece ela.

A empresária e designer de bolo Lucinha Cascão foi criada imersa nas tradições culinárias da bisavó portuguesa passadas de geração em geração. A herança culinária foi habilmente transmitida para sua mãe, Dona Marly, mestra na cozinha que dominava as panelas com a destreza.

Tudo começou em 1960, quando a família decidiu transformar receitas caseiras em um negócio familiar. Dona Marly, mãe de quatro filhos, transformou seu talento em uma fonte de renda, inicialmente atendendo pedidos de vizinhos e amigos.

À medida que a demanda crescia, foi necessário expandir não apenas o espaço físico, mas também a equipe de trabalho. Foi então que Lucinha Cascão entrou em cena, e juntas, mãe e filha, deram um novo impulso ao negócio. Com o tempo, a marca Lucinha Cascão & Marly ganhou reconhecimento nos eventos sociais.

Os conflitos de gerações sempre vão ocorrer quando pais e filhos trabalham juntos, mas, no caso delas, nada que chegasse a atrapalhar o negócio. “Teve um momento, não início, mas depois, que precisamos fazer alguns ajustes por conta dos pensamentos diferentes, mas nada que a gente não contornasse”, ressalta Lucinha.

A empresária diz que com a entrada dela no negócio, muitas ideias novas foram introduzidas, uma delas foi abertura de uma loja em um shopping da cidade há quatro anos. Além do estabelecimento comercial, elas têm uma fábrica que produz, segundo a empresária, uma média de 20 mil doces e trinta bolos de noiva por semana e emprega cerca de 40 pessoas.

Sophia Lins, do La Cuisine Eventos, é outra que teve a sorte de contar com a filha como companheira profissional. Há 17 anos, quando resolveu ampliar os negócios – na época, já comandava o La Cuisine Bistrô –, a empresária, que já havia adquirido expertise em eventos, fechou um de grande porte e precisou contar com a ajuda da filha Gabriela Maranhão, hoje com 36 anos. Era o nascimento do La Cuisine Eventos.

Na época, Gabriela cursava jornalismo e estagiava em uma agência de publicidade, mas resolveu ajudar a mãe. Depois disso, não deixou mais de trabalhar com Sophia e, para se aprimorar, passou a cursar administração.

Para Sophia, a união foi perfeita. “Gabriela cuida mais da parte operacional, é muito organizada, muito responsável, é mais introvertida que eu. Isso foi uma junção excelente porque eu já não sou tão operacional como ela. Eu sou mais corporativa, mais relações públicas da empresa”, conta Sophia.

A vice-presidente da farmacêutica Cimed, Karla Marques Felmanas, tem dois filhos que resolveram seguir os passos dela na profissão: Juliana, 25 anos, e Eduardo, 23 anos. “Foi uma consequência natural. Sempre dei liberdade para os meus filhos escolherem o caminho que gostariam de seguir. Assim como eu e meu irmão, eles cresceram dentro da Cimed, e sempre demos o exemplo, falando do nosso negócio com amor e carinho e sobre o propósito de proporcionar saúde e bem-estar para os brasileiros”, conta Karla.

Para Juliana, que é da área de Novos Negócios e Planejamento Estratégico, seguir a carreira da mãe, dando continuidade aos negócios da família, é incrível e faz com que ela aprenda todos os dias. “Ela é uma mulher com uma visão excepcional de negócios, lembra de detalhes das operações e mantém uma visão macro da situação, acho surreal. Ela me ensinou a pensar que as coisas sempre vão dar certo, o que traz uma leveza para a vida. Além disso, tenho o privilégio de encontrar minha mãe todos os dias e sei que nem todos têm essa sorte”, afirma.

Já para Eduardo, que está à frente do marketing esportivo da empresa, tem sido uma jornada muito prazerosa. “É um privilégio poder seguir os passos dela e crescer junto com a Cimed, buscando sempre proporcionar mais saúde e acessibilidade para todos os brasileiros. Através do nosso propósito, conseguimos gerar um impacto positivo e significativo na vida das pessoas”, ressalta ele.