Em Petrolina, mãe se tornou atleta-guia da filha, que tem deficiência visual; conheça história
Rosangela Calixto e a filha Sthefany Alice integram a Associação Petrolinense de Atletismo (APA)
Muito se fala sobre a mãe ser aquela pessoa em que a força e amor dela se tornam o alicerce e a luz guia da vida de todos. Mas o amor é uma relação de troca, em que cabe também aos filhos serem suporte e condução daquelas que geraram suas vidas. Em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, Rosangela Calixto e Sthefany Alice são um exemplo fiel de cumplicidade entre mãe e filha e que, por meio do atletismo, encontraram um espaço seguro para superar as maiores dificuldades da vida.
Há 13 anos, Alice nascia de maneira prematura, com cerca de seis meses e meio de gestação. Pesando apenas 1,1 kg, a recém-nascida não teve tempo suficiente para desenvolver a retina, nascendo com deficiência visual. A condição nunca foi um limitadora, e desde cedo foi incentivada em casa para praticar esportes, passando pelo judô e a natação.
Com a indicação de uma professora de natação, Rosangela levou a filha à Associação Petrolinense de Atletismo (APA), onde pôde experimentar o novo esporte. A depender do grau de deficiência visual do atleta, será estabelecido o suporte e as regras de utilização de atletas-guia, podendo variar de acordo com a classe em que está inserido.
Mais que mãe e filha
No caso de Sthefany Alice, a mãe não esteve por perto somente nos primeiros passos enquanto ainda era bebê, mas também acompanhou a menina quando ensaiou as primeiras corridas, sendo a guia da filha nas pistas, algo que era novo para as duas. “À medida que ela foi conhecendo a corrida, eu também fui conhecendo, porque até então eu não tinha nenhum contato com esse esporte”, disse a mãe.
Para além dos momentos dentro de casa, Rosangela e Alice também se tornaram inseparáveis nas pistas de corrida, estando juntas nas sessões de treino e nas competições. Mas em 2022 toda a rotina teve que ser interrompida, e mãe e filha tiveram que desfazer a parceria esportiva.
“Em 2022 eu engravidei, foi uma gravidez de risco e nisso eu tive que parar completamente. Ela seguiu treinando e eu parei, tive que ficar em repouso total durante cinco meses. Fiz cirurgia durante a gravidez, foi bem complicado. Meu bebê nasceu prematuro, e ficou com a gente durante 13 dias, foi quando Deus pegou de volta e foi uma fase bem complicada”, relembrou.
Nesse momento em que a vida não seguiu a ordem "natural", os sentimentos tristes tomaram conta da casa e a família se afastou daquele espaço que antes era sinônimo de alegria. “Eu decidi parar de correr. Já tinha parado há um certo tempo por conta da gravidez, mas aí Alice também decidiu parar. Passaram alguns dias, foram alguns meses bem difíceis”, contou Rosangela.
Volta por cima
Foi quando se inverteram os papéis e se tornou necessário que Alice fosse a guia da mãe num dos momentos mais tristes da família.
“Alice chegou pra mim e falou que precisava voltar a correr, que sentia falta. Perguntei se ela tinha certeza daquilo e ela confirmou. Essa decisão dela de voltar a correr me tirou de um abismo, da ponta de um precipício que eu estava e não sabia como e nem se tinha forças para sair. Ela sem saber acabou me tirando disso”.
A volta da rotina aos treinos e competições se tornou algo importante para afastar a mãe de uma possível depressão, conseguindo ultrapassar esse tempo triste e lidando melhor com os sentimentos. “Não sei se a palavra certa é superar, mas eu digo que foi aí que eu aprendi a conviver com a dor de ter perdido meu filho. Ela também aprendeu a conviver com a dor de ter perdido o irmão dela, foi na corrida que a gente se ergueu de novo”, disse.