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USS George Washington: Oficiais do Brasil contam como é estar a bordo do superporta-aviões dos EUA

É a primeira vez que a operação Southern Seas, realizada pelos EUA desde 2007 no Atlântico Sul, embarca uma comitiva estrangeira; ao todo são mais de 25 representantes de 13 países

Navio-patrulha Grajaú, da Marinha do Brasil - Marinha do Brasil/divulgação

Para os oficiais da Marinha do Brasil, Emanuel Ramos Ferreira e Rodrigo Moreira da Silva, esta é uma “oportunidade única”: eles foram os brasileiros escolhidos para integrar a equipe internacional que está servindo à bordo do superporta-aviões americano USS George Washington em sua terceira missão pela América Latina e região do Caribe. É a primeira vez, no entanto, que a operação Southern Seas, realizada pelos Estados Unidos desde 2007 no Atlântico Sul, abre as portas para uma comitiva estrangeira — que nesta edição conta com mais de 25 representantes de 13 países.

— Nossa comissão, chamada Estado-Maior embarcado, é responsável pelos exercícios bilaterais que estão sendo conduzidos entre a Marinha dos EUA e os países anfitriões, que são sete ao todo — explica o capitão de fragata Emanuel, natural do Rio de Janeiro e com 27 anos de carreira. — O Brasil está sendo o primeiro país a fazer essa parceria [na Southern Seas 2024] e está servindo de modelo para os próximos planejamentos de manobras que serão realizadas ao longo da operação.

Para ele, um exercício como esse, que também “comemora os 200 anos de relações bilaterais entre os EUA e o Brasil”, é importante para melhorar a interoperabilidade da Marinha brasileira, aperfeiçoando sua “capacidade de se comunicar com forças navais de nações parceiras”.

— É uma experiência única — afirma o oficial Rodrigo, nascido em Duque de Caxias. — Estamos convivendo com pessoas de outros países, outras culturas, mas que também têm muito em comum com a gente. Aprendemos muito com eles e eles conosco, tanto na parte profissional, quanto pessoal e cultural. A gente também diminui um pouco a barreira linguística. No navio, falamos português, espanhol, inglês. Além disso, conseguimos criar pontos de contato entre nações parceiras, o que é muito importante para o nosso país.

Os oficiais brasileiros embarcaram em 29 de abril na Estação Naval de Mayport, na Flórida, e seguirão viagem com a tripulação do USS George Washington até El Callao, no Peru, onde o desembarque está previsto para 21 de junho. De lá, o superporta-aviões americano vai para San Diego, na Califórnia, e depois para a Base Naval de Yokosuka, no Japão, onde deve chegar entre setembro e outubro para operar por mais 25 anos.

Popularmente conhecido como GW, o gigante USS George Washington mede 330 metros de comprimento por 78 metros de largura (40,8 metros na linha d'água) e desloca cerca de 110 mil toneladas no mar. Da quilha até o topo do mastro, são 74 metros de altura, o equivalente a um prédio de aproximadamente 24 andares. Seu interior comporta dez pisos acima do convés e outros dez abaixo, interligados por mais de 50 escadas. Além disso, tem capacidade para receber uma tripulação de cerca de 5 mil militares — o equivalente à população inteira de uma pequena cidade. Atualmente, estão embarcados 4,9 mil tripulantes, sendo mais de 3 mil alistados na companhia de navios e 1.450 na ala aérea, além de 250 oficiais da ala aérea e 200 da companhia de navios.

O superporta-aviões americano ainda possui dois reatores nucleares, que geram energia para alimentar as quatro hélices que movimentam o navio, bem como o restante da embarcação, incluindo os elevadores (que levam as aeronaves do hangar para o convés em apenas oito segundos), as catapultas para lançamento dos caças (que atingem uma velocidade de quase 2.000 km/h em instantes) e os cabos de retenção (responsáveis por frear as aeronaves no pouso). Sua ala aérea de bordo é composta por cerca de 90 aviões e helicópteros divididos em nove esquadrões — as aeronaves são as principais armas dos porta-aviões, servindo também para defesa da força-tarefa.

— A autonomia desse navio é algo que me chama muito a atenção. Por ser propulsão nuclear, ele pode navegar por um período indefinido, é como se fosse uma cidade que funciona de maneira autônoma. Tem tudo dentro do navio, ele produz até sua própria água. A única limitação, basicamente, é a comida — conta o oficial Emanuel.

Porta-aviões são geralmente os maiores — e mais caros — navios operados pelas Marinhas de Guerra. Sua principal função é apoiar e operar aeronaves que realizam ataques a alvos aéreos, flutuantes e em terra durante operações de projeção de poder sustentado, servindo como uma espécie de pista de pouso e decolagem capaz de se deslocar rapidamente pelo mar, dispensando assim aeroportos ou instalações convencionais.

O Brasil não possui porta-aviões no momento, mas opera um porta-helicópteros, o Atlântico, que é o maior navio de guerra da América Latina e "tem uma importância estratégica para a América do Sul", destaca o oficial Emanuel. Atualmente, o Atlântico está sendo empregado nas operações humanitárias no Rio Grande do Sul, em meio à catástrofe climática que deixou 157 mortos e mais de 581 mil desalojados em todo o estado.