Outros tantos talentos do paisagista Roberto Burle Marx

Semana Burle Marx tem início na próxima quarta-feira, exaltando o mestre. As várias expressões artísticas serão mostradas

Tapeçaria de 1973 é somente uma das várias peças produzidas. Uma está no Palácio da Alvorada - Reprodução

Roberto Burle Marx cantava de ópera. Barítono talentoso, aprendeu música com a mãe, professora de piano, ainda criança. Roberto Burle Marx, também, era um exímio pintor. Revelava perfeição em cada pincelada. Era ainda desenhista, designer de joias e cozinheiro de mão cheia. Ao ponto de ter suas receitas impressas em um livro de quase 200 páginas. Talentos tantos, ocultos sob sua faceta de maior sucesso, a de paisagista, mas que estarão em evidência na próxima terça-feira, com início da Semana Burle Marx, realizada pela Prefeitura do Recife.

A arquiteta Beth Araruna, representante das obras pictóricas do multiartista nos anos 1980 e 1990, é uma das pessoas que vai desvendar o Burle Marx além dos jardins na semana que vem. Na quarta-feira, ela palestra sobre o tema no Instituto de Arquitetos do Brasil, no Derby. “Há muita coerência entre a obra artística com o que vemos nos jardins. Se você visse um projeto dele, e ele fez projetos realmente imensos, não sabia se era um produto técnico ou uma pintura. Tinha os verdes dos gramados e, sobre ele, uma mancha vermelha, por exemplo”, contou. “A primeira que Burle Marx saiu do Brasil para estudar na Europa, não foi para saber mais sobre paisagismo, para aprimorar os pincéis.”

Beth, dona de um estúdio de arte em Casa Forte, sabe identificar bons produtos. Lembra, também, dos seus produtos realizados como designer de joias. Criou mais de 2000. Algumas inspiraram a H. Stern e a levou a introduzir no mercado uma coleção com o seu nome. “O irmão dele tinha uma fábrica que as produzia. Foi isso que lhe deu a ideia de começar a desenhá-las”, contou. Da convivência com o mestre, ficou a percepção de uma mente incansável e versátil. “Ele viajava para ver um projeto de um jardim e lá procurava saber sobre arte, por exemplo. Estivesse onde fosse, estudava as plantas. Descobriu várias. Inclusive, algumas levam seu nome.”

A tapeçaria e a escultura foram outras áreas exploradas pelo artista. Seus desenhos foram transformados em grandes exemplares por artesãos especializados. No Palácio da Alvorada, na capital nacional, está um deles. As esculturas estão por todo o País, mas as dos cristais, em Brasília, são as mais famosas.

Depois da palestra de Beth na terça-feira, a Semana Burle Marx segue mostrando seu primor na cozinha. O chef Rafael Chamie fala sobre as receitas do livro “À Mesa com Burle Marx”. Que, segundo ele, são boas, mas precisam de expertise para serem executadas. “Se a pessoa não tiver um bom conhecimento de culinária e for usar o livro, pode não ter sucesso”, avaliou.

O jantar, no qual será servido um prato do livro, a sopa de cogumelo Paris, ocorre às 20h no Capitão Lima, restaurante de Chamie localizado em Santo Amaro, Centro do Recife. “Já servimos essa receita anteriormente, mas há várias outras que foram aprovadíssimas pelo público, como o arroz de morango, que fiz primeiro para amigos e depois à sério. A maioria dos pratos tem muitas cores, é muito bonito. A apresentação é de primeira.”

Burle Marx fazia comidas das tradicionais da cozinha internacional às regionais, segundo Chamie. Com muitos amigos influentes, costumava oferecer verdadeiros banquetes. Daí surgiu a vontade de ser autor do que servia e, também, o livro de receitas, contadas pelo filho e pelo cozinheiro do sítio em que os eventos eram realizados.

Ainda na Semana, será lançada a segunda edição do aplicativo Patrimônio PE, o primeiro no Brasil para a educação patrimonial, disponível desde 2015. Inicialmente, tinha imagens, textos e áudios informativos (ambos traduzidos para francês, espanhol e inglês) sobre 12 monumentos da RMR. “A partir do dia 8 de agosto, com a segunda edição, ele mostrará também as 12 praças de Burle Marx.”, contou o idealizador do projeto, o produtor Sandro Rodrigues.