Um espaço para família no Cotel
Internos do Centro e do Presídio de Igarassu têm lugar que permite a visita familiar humanizada e explora as relações no processo de ressocialização
“É um deserto e você vive muito longe dos seus filhos. Essa falta deixa tudo ainda mais pesado”, contou um interno do Centro de Observação e Triagem Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima. Ele é um dos 15 detentos que encontram seus filhos quinzenalmente nas quintas-feiras de manhã, no espaço ecumênico do Centro. O local é usado como “Sala Humanitária de Visitação do Papai”, destinada a oferecer conforto e privacidade.
E faz toda a diferença para a saúde mental do pai e para o desenvolvimento da criança. Em um ambiente com ar-condicionado, as crianças podem passar um tempo brincando com seus pais. A sala dispõe de brinquedos, banquinhos, cadeiras e mesas infantis, tudo com muita cor. O programa está funcionando também no Presídio de Igarassu (PIG) e destina este tipo de espaço para crianças de até um ano.
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Dependendo do caso, são abertas exceções com o aval do gestor da unidade. A oportunidade motiva os internos a voltarem a sociedade e ajuda na ressocialização do indivíduo, de acordo com a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres).
A primeira visão que João* tem dos dois filhos quando vão visitá-lo é deles correndo em direção aos seus braços, com um sorriso no rosto. Assim se inicia, em geral, o momento em família das quintas-feiras. A troca incansável de carinhos ocorre desde a chegada. “O que eu tenho percebido é que todas as vezes que eu encontro com o meu filho é uma renovação. É um renascer na minha vida, porque a gente vê na hora a força que ganhamos.”, contou João, 53, que está no Cotel há 7 meses.
O diretor do Cotel, Islam Honorato, ressaltou a relevância do programa. “A integração entre o preso e o familiar é um dos pilares para reintegração social”, destacou o diretor”. De acordo com ele, na semana em que acontece a visita, os reeducandos ficam mais tranquilos. “Eles saem renovados”.
O reeducando estrangeiro Johnny*, foi detido há 4 anos no Brasil por crimes financeiros cometidos em um país europeu. Ele tem seis filhos e sua família mora na Europa. Neste tempo de internação, conseguiu se encontrar com seus filhos apenas duas vezes, em dias de visita comum.
A quantidade de pessoas e a impossibilidade de levar seu filho recém nascido aos encontros do domingo chatearam sua esposa. Ela só retornou com os filhos para o Brasil a partir da implantação do programa “Sala Humanitária de Visitação do Papai”.
Desta vez, ele pôde conhecer sua filha de 9 meses e rever sua filha de 18 anos e seu filho de 16. O restante da família ficou na Europa.
O que causa angústia para a família estrangeira é principalmente a situação do sistema prisional brasileiro. “Preocupa porque eles vêem nos noticiários as barbaridades que acontecem em muitas prisões e ficam com medo que aconteça algo comigo”, explicou Johnny.
As visitas comuns acontecem todos os domingos, das 8h às 16h. Há um domingo no mês destinados apenas à visita de crianças com mais de um ano e jovens. O espaço usado para o encontro é o próprio presídio, e os visitantes transitam no ambiente do cárcere. Além do ambiente, a quantidade de pessoas nos dias de visita é um dos fatores que impedem que os pais consigam ter um momento familiar ao lado dos seus filhos.
Para psicóloga Elizabeth Cavalcanti, que já acompanhou as visitas comuns nos presídios em dias de domingo, o ambiente que o programa proporciona é benéfico. “No domingo, a criança pode entender que aquele ambiente pesado é normal. E são poucos os pais que estão ali pensando em estar mais próximos dos filhos, que precisam muito da presença paterna. Então, eu acho uma maravilha essa maneira nova de proporcionar as visitas.”