Nem Wall Street escapa: Trump ataca benefício fiscal favorito da indústria de private equity
Presidente americano quer acabar com tratamento diferenciado sobre a participação nos lucros de executivos. Medida está no alvo de governos democratas e republicanos há uma década, mas enfrenta resistência
O presidente dos EUA, Donald Trump, quer acabar com um benefício fiscal usado por gestores de fundos de private equity, que investem em participações acionárias de grandes empresas, um feito que os políticos americanos tentam e não conseguem alcançar há mais de uma década.
É controverso o tratamento do código tributário sobre os lucros de private equity, venture capital e gestores de fundos de hedge nos EUA. No regime atual, executivos desses fundos pagam uma taxa menor de tributo sobre sua parte dos lucros porque esses retornos são tributados como ganhos de capital, em vez de renda normal de emprego.
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Em uma reunião com parlamentares republicanos na quinta-feira, Trump disse que fechar a brecha da participação nos lucros é uma prioridade. Tal mudança poderia reduzir o déficit nas contas públicas do governo federal americano em US$ 13 bilhões até 2034, de acordo com uma estimativa de dezembro do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês).
O Conselho Americano de Investimentos disse que encorajou o governo Trump e o Congresso a manterem “uma política tributária sólida e a liberarem mais investimentos de longo prazo que apoiem empregos, trabalhadores, pequenas empresas e comunidades locais”.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse em uma entrevista à Bloomberg Television na quinta-feira que as autoridades do governo estão “apenas começando o processo agora” sobre a política tributária.
Trump surfou em uma onda de populismo econômico e queixas generalizadas sobre o custo de vida até chegar à Casa Branca, colocando-o em rota de colisão com uma indústria multitrilionária que construiu uma máquina de lobby engenhosa em torno de como ela alimenta empregos e crescimento.
Uma década de tentativas
A ofensiva do presidente é a mais recente em mais de uma década de ataques ao que é chamado de participação nos lucros. Tanto presidentes democratas quanto republicanos tentaram acabar com o tratamento tributário dessa remjuneração, incluindo o ex-presidente democrata Joe Biden, em 2022, mas os interesses da indústria de private equity têm montado uma oposição feroz.
Na luta que se aproxima, espera-se que o setor continue a recorrer a um manual que foi aprimorado ao longo dos anos e argumente que o tratamento tributário atual dos lucros do capital privado é apropriado para um compromisso de “capital suado”, que não tem garantia de retorno.
Em disputas anteriores, gigantes das operações de fusões e aquisições destacaram como sua indústria alimentou negócios familiares nos últimos anos.
Empresas de private equity levaram senadores para visitar os negócios em que investem em seus estados de origem, deixando claro que empregos e impostos locais estavam em jogo. Eles encontraram aliados em organizações de representação do empresariado, como a Associação Nacional de Fabricantes (NAM, na sigla em inglês).
"As empresas de private equity têm trabalhado para mostrar que esse benefício fiscal alinha os interesses de investidores e gestores", disse James Maloney, sócio-gerente da Tiger Hill Partners, uma empresa de relações governamentais e estratégia. "Os formuladores de políticas precisam pesar o benefício da receita tributária contra o risco de grande interrupção em um modelo de investimento de longa data".
Bilhões em jogo
Há vastas somas de dinheiro em jogo. As maiores empresas de private equity de capital aberto, como Apollo Global Management, Blackstone, Carlyle e KKR estão sentadas em bilhões de dólares em investimentos que são elegíveis para o benefício fiscal sobre a participação nos lucros.
A KKR relatou US$ 7,9 bilhões de participação nos lucros não realizados em seus fundos de investimento e a Blackstone teve US$ 6,3 bilhões em receita líquida acumulada de desempenho no fim de 2024.
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A Apollo teve US$ 1,68 bilhão em taxas líquidas de desempenho acumuladas. É um benefício pessoal para os profissionais que têm participação acionária nos fundos – e a maior parte da remuneração desses executivos depende do desempenho de seus investimentos.
Para os sócios dessas empresas, a participação nos lucros representa uma parcela crescente de sua remuneração. A KKR, a Apollo e a Carlyle mudaram suas estruturas de pagamento nos últimos anos para alocar mais dessa forma de remuneração para seus profissionais de investimento, destinando mais da receita com taxas para seus acionistas.
Após os comentários de Trump, as ações de algumas das maiores empresas de private equity despencaram na sexta-feira, embora tenham reduzido as perdas ao longo do pregão. A KKR teve o pior desempenho, caindo 1,4%.
Apesar disso, o posicionamento de Trump não chega a ser surpreendente. Em 2016, o presidente já havia atacado esse benefício fiscal e, em 2017, o republicano incluiu o tema em medidas tributárias de seu primeiro governo, mas esse item dividiu os então assessores econômicos da Casa Branca.