Guerra

Putin diz estar aberto a "solução de longo prazo" para a Ucrânia em primeira conversa com Trump

Presidente americano classificou o telefonema como "longo e produtivo", afirmando que ambos concordaram em iniciar "imediatamente" as negociações pelo fim da guerra

Donald Trump e Vladimir Putin - Elijah Nouvelage and Alexander Nemenov / AFP

O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira que quer encontrar uma "solução de longo prazo" para o conflito na Ucrânia através de "diálogos de paz".

A declaração ocorreu durante o seu primeiro telefonema conhecido com o presidente americano, Donald Trump, desde que ele retornou à Casa Branca, em janeiro.

O republicano, por sua vez, classificou a conversa como "longa e produtiva" e disse que as negociações por um cessar-fogo começarão "imediatamente".

— O presidente Putin mencionou a necessidade de abordar as causas fundamentais do conflito e concordou com Trump que é possível encontrar uma solução de longo prazo através de conversas de paz — disse a jornalistas o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Segundo Peskov, Putin falou com Trump sobre “a necessidade de eliminar as causas fundamentais do conflito” na Ucrânia.

A declaração foi vista como um sinal de que o líder russo não aceitará um simples cessar-fogo e buscará concessões mais amplas do Ocidente antes de interromper o combate — entre elas possivelmente o impedimento de que o país se junte à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), um pleito antigo de Kiev que, para alguns analistas, seria um dos motivos que provocaram o conflito.

Trump afirmou que ambos concordaram em iniciar "imediatamente" as negociações para acabar com a guerra na Ucrânia, acrescentando que ligaria para Zelensky para informá-lo sobre a conversa com Putin. Mais tarde, o Gabinete de Zelensky confirmou ao New York Times sobre a conversa com Trump, que durou 1 hora.

"Discutimos a Ucrânia, o Oriente Médio, energia, inteligência artificial, o poder do dólar e vários outros assuntos", disse o republicano em uma mensagem em sua rede Truth Social. "Concordamos em trabalhar juntos, muito de perto, inclusive visitando as nações um do outro."

“Cada um de nós falou sobre os pontos fortes de nossas respectivas nações e o grande benefício que um dia teremos ao trabalharmos juntos”, acrescentou Trump.

“Mas primeiro, como ambos concordamos, queremos acabar com os milhões de mortes que estão ocorrendo na guerra entre Rússia e Ucrânia.” Estima-se que várias centenas de milhares de mortes tenham ocorrido no conflito, não milhões.

Na postagem, Trump disse que a equipe de mediação dos EUA incluiria o secretário de Estado, Marco Rubio; John Ratcliffe, diretor da C.I.A.; seu conselheiro de segurança nacional, Michael Waltz, e seu enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Witkoff esteve em Moscou esta semana e conseguiu uma troca de prisioneiros, libertando o professor americano Marc Fogel, que ficou preso por mais de três anos na Rússia, em troca de um russo que estava detido nos EUA.

Trump, no entanto, não mencionou Keith Kellogg, o general da reserva que foi apontado como seu enviado para a Rússia e Ucrânia.

Segundo o Kremlin, Trump e Putin conversaram por quase 90 minutos. Há semanas, o republicano sinalizava o seu desejo de falar com Putin enquanto atuava para resolver o conflito. Assim que retornou ao cargo, o presidente americano deu 100 dias ao seu enviado especial Keith Kellogg para resolver o conflito.

Seu antecessor, Joe Biden, não falava com Putin há quase três anos. O último presidente dos EUA a visitar a Rússia foi Barack Obama em 2013, durante uma cúpula do G20.

Para Putin, o telefonema foi simbolicamente importante por marcar o colapso dos esforços ocidentais para isolá-lo diplomaticamente depois que ele invadiu a Ucrânia, há quase três anos.

Desde a reeleição de Trump, em novembro, o presidente russo tem feito muitos elogios ao americano, ressaltando a esperança do Kremlin de que o novo líder dos EUA possa reformular o relacionamento de Moscou com Washington e deixar de apoiar a Ucrânia.

Há a expectativa de que o plano de Trump para o fim da guerra seja apresentado durante a Conferência de Segurança de Munique, que começa nesta sexta-feira na Alemanha e contará com a presença do vice-presidente dos EUA, JD Vance.

O fórum, considerado o mais importante de segurança no mundo, deverá reunir ao menos 60 chefes de Estado, com a discussão sobre o futuro da guerra entre Rússia e Ucrânia — prestes a completar três anos — no centro do debate.

O telefonema entre Putin e Trump ocorreu no mesmo dia em que o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, falando na sede da Otan em Bruxelas, disse que era um objetivo “irrealista” para a Ucrânia restaurar suas fronteiras como eram antes de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. Hegseth acrescentou que os EUA não apoiam o desejo da Ucrânia de se juntar à Otan como parte de um plano de paz realista e sugeriu que a Europa assuma um papel maior em sua própria defesa, ecoando um ponto que Trump tem defendido há muitos anos.

Em resposta às notícias sobre a conversa entre Trump e Putin, as Nações Unidas disseram na quarta-feira que acolheriam qualquer esforço que levasse a negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia.

“Apreciaríamos qualquer esforço para resolver a guerra na Ucrânia que envolvesse os lados russo e ucraniano, portanto, obviamente, se ambos estiverem dispostos a se envolver no processo, isso seria um desenvolvimento bem-vindo”, disse o porta-voz da ONU Farhan Haq.