Defesa diz que bolsonarista acusado de matar petista tem sequelas neurológicas e não lembra do crime
Advogado Samir Mattar Assad conversou com jornalistas antes do segundo dia do julgamento, em Curitiba; o ex-policial penal Jorge Guaranho é réu pela morte de Marcelo Arruda
O advogado Samir Mattar Assad, responsável pela defesa do ex-policial penal Jorge Guaranho, alegou que seu cliente sofre de sequelas neurológicas e cognitivas e, por este motivo, não se lembra do crime pelo qual é acusado.
O réu responde na Justiça pelo crime de homicídio duplamente qualificado do guarda municipal e tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu (PR), em julho de 2022.
A declaração foi dada aos jornalistas na chegada do defensor ao Tribunal do Júri da capital parananaense na manhã desta quarta-feira.
Guaranho apareceu de muletas ao local onde ocorre o julgamento. Assad estava ao lado do réu e argumentou que seu cliente tem um projétil alojado no cérebro e sofre de lapsos de memória.
O advogado acrescentou que o ex-policial penal também foi alvo de violência por parte de Arruda.
"Ele sofreu nove disparos de arma de fogo, tem projétil alojado no cérebro, tem sequelas irreversíveis de caráter neurológico e cognitivo. Então, não lembra de nada, não lembra de nada da época", afirmou Assad.
O caso aconteceu em julho de 2022, em Foz do Iguaçu (PR), quando Guaranho invadiu a festa de aniversário de Arruda, que tinha temática do Partido dos Trabalhadores, e realizou disparos contra a vítima. Arruda foi atingido por quatro tiros e morreu.
O crime gerou ampla repercussão por ter ocorrido em um ano de acirrada polarização política entre os apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A defesa de Guaranho busca afastar a motivação política do crime, alegando que se tratou de uma tragédia e que o ex-policial penal não teve a intenção de matar. "A instrução está demonstrando que ele, em nenhum momento, teve a intenção de ceifar a vida do senhor Marcelo. Foi uma grande tragédia com vários fatores que contribuíram para esse final trágico", finalizou Assad.
Depoimento da viúva
O julgamento acontece em Curitiba após um pedido da defesa para garantir maior segurança. No primeiro houve depoimento de quatro testemunhas, incluindo a viúva de Arruda, Pâmela Silva, que relatou a dor da perda e a ausência do marido na vida do filho mais novo, que tinha apenas 40 dias na época do crime.
No depoimento, a viúva deu detalhes da ausência de Marcelo na vida do filho mais novo, que tinha 40 dias de vida quando o pai foi assassinado.
— O bebê não sabe o que é pai, o que é falar a palavra pai, ele não teve essa oportunidade de conhecer o Marcelo, ele não tem consciência do que é ter pai. Ele sabe quem é o Marcelo, eu coloquei várias fotos do Marcelo pela casa para que ele conhecesse quem é o pai dele (...) Eu não consegui viver essa coisa de mãe. Não pude dar isso, porque eu estava em um estado emocional muito delicado — afirmou Pâmela.
A expectativa é que a sentença seja anunciada nesta quinta-feira (13).
Relembre o caso
A comemoração do aniversário de 50 anos ocorria em uma área reservada da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, na Vila A, no dia 9 de julho de 2022.
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Paraná, o réu — desconhecido da vítima e familiares — se aproximou da porta do salão de festas de carro, com o som do veículo em alto volume, reproduzindo uma música de campanha do então candidato Jair Bolsonaro.
De acordo com as testemunhas, Guaranho havia saído de um churrasco com mulher e filho e soube que o festejo tinha como tema decorativo o Partido dos Trabalhadores e o então candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Aos gritos de "Bolsonaro" e "mito", o réu, que estava acompanhado da esposa e do filho – um bebê de colo – ameaçou Arruda mostrando que estava armado e afirmou que voltaria para matar a vítima.
Aproximadamente uma hora depois, Guaranho retornou ao local da festa, sozinho, e começou a disparar contra o alvo e convidados ainda da porta do salão. A ação foi registrada pelas câmeras de segurança. As imagens mostraram que a vítima tentou se esconder debaixo de uma mesa, onde foi alvejada à queima-roupa.
Jorge José da Rocha Guaranho está preso no Complexo Médico Penal de Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (PR). Ele foi demitido do cargo de policial penal por decisão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, por uso de recurso material da repartição em atividade particular (arma), improbidade administrativa e incontinência pública.
A decisão é resultado de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado à época do crime, para apurar a atuação do ex-agente da penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná.