EUA: sobrevivente de poliomielite foi único senador republicano a votar contra Kennedy Jr.
Mitch McConnell cita conexão do secretário com 'perigosas teorias da conspiração'
A controversa nomeação de Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde dos Estados Unidos, aprovada pelo Senado americano nesta quinta-feira, contou com apenas um opositor dentro do Partido Republicano.
Trata-se de Mitch McConnell, parlamentar de 82 anos do estado do Kentucky, um sobrevivente da poliomielite que até hoje enfrenta sequelas da doença.
O placar da votação no Senado refletiu, além da divisão da Casa, a desconfiança que ronda a indicação de Kennedy Jr. ao cargo. Filho do ex-senador Robert F. Kennedy e sobrinho do ex-presidente John Kennedy, ele acumula posicionamentos antivacina e lidera um movimento polêmico em favor da "liberdade médica".
Todos os 47 parlamentares democratas votaram contra sua indicação, e os republicanos, à exceção de McConnel, a favor — culminando no placar de 52 a 48.
O senador do Kentucky, que ocupa a cadeira desde 1985 e até este ano atuava como líder do partido do presidente Donald Trump na Casa, recuperou-se da poliomielite aos 4 anos. Mas ainda hoje precisa administrar as sequelas, que impactam até sua forma de caminhar.
Ao longo dos últimos dois anos, ele também chamou a atenção da mídia por episódios de paralisia enquanto dava entrevistas.
"Indivíduos, parentes e famílias têm o direito de pressionar por uma nação mais saudável e exigir a melhor orientação científica possível para prevenir e tratar doenças", argumentou McConnel em um comunicado para justificar seu voto.
"Mas o histórico de embarcar em perigosas teorias da conspiração e de minar a confiança em instituições de saúde pública não credencia o senhor Kennedy a liderar esses importantes esforços".
McConnell contraiu a doença em 1944, anos antes da campanha de conscientização que seria lançada nos EUA, na década de 1950, e que eventualmente erradicaria a poliomielite no país.
Seu discurso pró-vacina ganhou destaque especialmente durante a pandemia de Covid-19, quando o senador fez um paralelo com seu trauma de infância para defender o rápido desenvolvimento de imunizantes e a proteção da população.
Histórico de declarações polêmicas
Kennedy vai liderar o Departamento Federal de Saúde e Serviços Humanos, uma agência extensa com 13 divisões operacionais, incluindo algumas — a Food and Drug Administration (FDA), os Institutos Nacionais de Saúde e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças — que ele chamou de corruptas.
Essas agências científicas já estão se recuperando do ataque de diretivas vindas do governo Trump.
Kennedy disse que quer enfrentar a epidemia de doenças crônicas, livrar os supermercados de alimentos ultraprocessados e erradicar os conflitos de interesse em agências federais e nos painéis de especialistas que as aconselham.
Ele também prometeu "seguir a ciência" na busca por pesquisas sobre a segurança das vacinas. Mas ofereceu poucos detalhes de como fará isso.
Kennedy Jr. assume um departamento com mais de 80 mil funcionários e um orçamento de US$ 1,7 trilhão (R$ 9,8 trilhões) em um momento em que cientistas alertam que a gripe aviária pode desencadear uma pandemia e as taxas de vacinação em declínio estão aumentando os temores de um ressurgimento de algumas doenças infantis.
Ex-advogado ambientalista, Kennedy passou grande parte das últimas duas décadas promovendo teorias da conspiração que ligavam vacinas infantis ao autismo.
Ele também disse que as vacinas contra a Covid-19 foram as "mais mortais" já criadas e questionou se os germes causam doenças infecciosas.
Durante acaloradas audiências de confirmação do Senado, os democratas alegaram que Kennedy tinha potenciais conflitos de interesse, incluindo o recebimento de honorários lucrativos de consultoria de escritórios de advocacia que processavam empresas farmacêuticas.
Ele também foi acusado de má conduta sexual e até mesmo relacionou tiroteios em escolas a antidepressivos.
Em 2024, 77 ganhadores do Nobel escreveram uma carta aberta ao Senado se opondo à sua confirmação. Eles acreditam que isso poderia colocar a saúde pública em "risco".