Policia: "suspeitos do falso atentado em Taboão usaram fuzil porque ninguém acreditaria em pistola"
Ex-prefeito acabou atingido no ombro e precisou passar por cirurgia no Hospital Albert Einstein
Os investigadores que apuram o ataque a tiros contra o então prefeito de Taboão da Serra (SP) e candidato à reeleição, José Aprígio (Podemos), ocorrido em 18 de outubro de 2024, acreditam que três secretários próximos ao político participaram do planejamento do atentado.
De acordo com o delegado da seccional da cidade, Helio Bressan, o grupo que elaborou o plano tinha como objetivo alavancar a candidatura de Aprígio — que acabou derrotado no segundo turno pelo Engenheiro Daniel (União) — e chegou a discutir qual armamento faria com que o atentado parecesse mais real.
— Há na investigação que alguém teria dito para fazer o ataque com tiro de pistola, mas outro teria respondido: ‘Não. Pistola ninguém vai acreditar. Vamos fazer de fuzil. Qual a blindagem do carro? (o veículo onde estaria Aprígio)’ — contou Bressan.
A Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) do Ministério Público cumpriram 11 mandados de busca e apreensão e dois de prisão temporária nesta segunda-feira contra suspeitos de envolvimento no crime.
Duas pessoas foram presas em flagrante, dentre elas Valdemar Aprígio, irmão do ex-prefeito e ex-secretário de Manutenção, detido por porte ilegal de arma de fogo. Os demais secretários investigados são José Vanderlei Santos (Transportes) e Ricardo Rezende Garcia (Obras).
A outra pessoa presa nesta segunda é Anderson da Silva Moura, suspeito de ter atuado como um “intermediário” entre o grupo político do ex-prefeito e os executores do atentado.
Além de Anderson, foi identificado como intermediário e está foragido Clovis Reis de Oliveira. Os três atiradores já haviam sido denunciados: um deles está preso preventivamente e os outros dois estão foragidos.
As investigações avançaram a partir de depoimentos de um envolvido no ataque que fez acordo de colaboração. Segundo essa pessoa, o plano envolvia pagamentos que totalizavam R$ 500 mil.
Os executores foram contratados dias antes do ataque, que não saiu como o planejado: após os primeiros disparos, feitos de dentro de um carro pelo homem que estava no banco de carona, o motorista acabou assumindo o controle do fuzil e fez disparos sem direcionar a arma como deveria.
Aprígio foi atingido no ombro e precisou passar por cirurgia no Hospital Albert Einstein, onde passou alguns dias internado.
Durante a operação desta segunda, também foram apreendidas seis armas, munição, celulares, computadores e pen drives, além de R$ 320 mil em espécie que estavam guardados no cofre do ex-prefeito — que disse à polícia que o dinheiro havia sido declarado em seu Imposto de Renda.
Os investigadores dizem não ter até o momento qualquer prova de que Aprígio soubesse do plano que o levou a ser baleado no ombro durante a campanha eleitoral.
A arma usada no episódio, um fuzil AK-47, ainda não foi encontrada.
— Até este momento, não há ainda como eu afirmar categoricamente que ele (Aprígio) estava participando disso. A gente tem alguns indícios, algumas coisas que fogem da normalidade. Mas ainda não tenho uma prova cabal. (...) Se era para fazer um atentado contra o prefeito, ele esteve em alto grau de vulnerabilidade por diversas vezes naquele dia, os indivíduos estavam na região, e ninguém atirou. Aquilo já começou a deixar uma suspeita na gente. Se era para ceifar a vida dele, por que não aproveitaram quando ele estava fora do veículo? — declarou Bressan.
Em nota, o advogado que representa Aprígio, Allan Mohamed Melo Hassan, reafirmou que o ex-prefeito é uma “vítima” e que “foi surpreendido” com o novo desdobramento da investigação.
Disse que o ex-prefeito “reitera a sua confiança no trabalho da Polícia Civil e no Ministério Público, e tem certeza de que todos os responsáveis serão devidamente punidos, após o devido processo legal”.