SAÚDE

Papa Francisco: o que são as almofadas nasais para oxigenoterapia, procedimento feito pelo pontífice

Terapia utiliza gás oxigênio em alto fluxo para elevar os níveis em pacientes com baixa saturação

Terapia com oxigênio de alto fluxo - Reprodução / Journal of Clinical Medicine

Hospitalizado há mais de uma semana, o Papa Francisco, de 88 anos, apresentou uma crise respiratória asmática de longa duração no último sábado que exigiu uma terapia de alto fluxo de oxigênio por meio de almofadas nasais, segundo o Vaticano. Ontem, a Santa Sé afirmou que a terapia continua.

A oxigenoterapia de alto fluxo é um tratamento indicado quando o paciente tem baixos níveis de oxigênio no corpo, segundo informações da Sociedade Torácica Americana. Isso porque o ar que se respira tem apenas 21% de concentração do oxigênio, o que é suficiente para um indivíduo saudável.

Porém, para aqueles com condições de saúde que estão afetando a absorção do gás essencial, como a grave pneumonia enfrentada pelo Pontífice, a técnica o fornece em um fluxo maior do que o normal.

De acordo com o Hospital de Pulmão St. Vincent, na Austrália, o oxigênio utilizado na terapia é aquecido a 37ºC e umidificado. Ele é fornecido ao pulmão por meio de um tubo inserido nas narinas, também chamado de cânula. O paciente respira normalmente pelo nariz durante o processo.

“A oxigenoterapia de alto fluxo ajuda a reduzir o esforço que o corpo precisa fazer para respirar. Ao diminuir o esforço da respiração e criar uma pequena quantidade de pressão positiva nas vias aéreas superiores, essa terapia ajuda a melhorar o fornecimento de oxigênio”, explica a instituição.

Entenda a evolução da internação do Papa
Os últimos problemas de saúde do Papa Francisco tiveram início ainda no começo do mês, quando a Santa Sé anunciou que o Papa realizaria suas audiências dos dias 6 e 7 de fevereiro em sua casa para se recuperar de uma bronquite. Na missa de domingo do dia 9, o sumo Pontífice pediu ajuda para terminar de ler sua homilia devido a dificuldades "para respirar".

Na quarta-feira seguinte, dia 12, durante sua audiência semanal no Vaticano, pediu novamente ajuda, dizendo que ainda não conseguia ler o texto devido à bronquite. A doença é uma inflamação dos brônquios, os canais que transportam o ar aos pulmões. Ela pode ser crônica ou aguda e geralmente tem como causa uma infecção respiratória.

Devido à persistência do quadro, na sexta-feira, dia 14, o Pontífice foi internado no Hospital Gemelli de Roma, na Itália, para realização de exames e tratamento. Segundo boletim do Vaticano, Francisco estava levemente febril, mas continuava “sereno e de bom humor”. Na segunda-feira, dia 17, porém, novos exames indicaram uma infecção polimicrobiana, o que levou a uma alteração no tratamento.

“Todos os exames realizados até o momento são indicativos de um quadro clínico complexo que exigirá internação hospitalar adequada”, disse o Vaticano. Uma infecção polimicrobiana acontece quando mais de um microrganismo age ao mesmo tempo, entre vírus e bactérias, por exemplo.

Os quadros em idosos costumam começar com uma infecção viral, que compromete as defesas do organismo e abre caminho para uma infecção bacteriana secundária, explicou ao GLOBO Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

No dia seguinte, 18, o novo boletim da Santa Sé apontou que “os exames laboratoriais, a radiografia do tórax e a condição clínica do Santo Padre continuavam a apresentar um quadro complexo”. “A infecção polimicrobiana, que surgiu em um contexto de bronquiectasia e bronquite asmática, e que exigiu o uso de antibioticoterapia com cortisona, torna o tratamento terapêutico mais complexo”, continuou.

Um novo exame de tomografia computadorizada também mostrou que a pneumonia era bilateral, ou seja, estava afetando os dois pulmões do Papa. O quadro é agravado por Francisco já não ter parte do pulmão, que foi retirada aos 21 anos após um quadro de pleurisia, uma espécie de inflamação que ocorre na pleura, a membrana que envolve os pulmões e a caixa torácica.

Na quarta-feira, dia 19, novos exames de sangue mostraram uma leve melhora, especialmente nos índices inflamatórios, disse o Vaticano. Na quinta-feira, a Santa Sé disse que a melhora continuou, que Francisco estava sem febre e que “seus parâmetros hemodinâmicos continuam estáveis”. O Papa seguia com alguns focos de pneumonia, mas respirava sem ajuda de aparelhos.

Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano - Foto: Filippo Monteforte /AFP

Na sexta-feira, dia 21, porém, os médicos do Pontífice disseram que ele não está fora de perigo, e que a maior preocupação era um risco de sepse – resposta inflamatória por todo o corpo decorrente de uma infecção. No sábado pela manhã, dia 22, Francisco apresentou uma crise respiratória asmática de longa duração, que exigiu uma terapia de alto fluxo de oxigênio com protetores nasais, disse o Vaticano.

Os exames de sangue também mostraram uma plaquetopenia, associada a uma anemia, que exigiu transfusões sanguíneas. No domingo, dia 23, a Santa Sé disse que não houve mais crises respiratórias, mas que o estado de saúde do Papa segue “crítico”:

“Ele foi submetido a duas unidades de hematologia concentrada por transfusão, com benefícios e um retorno do valor da hemoglobina. Sua plaquetopenia permaneceu estável; no entanto, alguns exames de sangue mostram insuficiência renal inicial leve, que está sob controle. A terapia com oxigênio de alto fluxo por meio de cânulas nasais continua”, afirmou o Vaticano.

Relembre os outros problemas de saúde do Papa
Logo no início do pontificado, o Vaticano deixou claro que Francisco teve parte de um pulmão retirado na infância. O pedido de divulgação foi do próprio Papa. Ainda aos 21 anos, Francisco — até então conhecido pelo nome de batismo Jorge Mario Bergoglio — quase morreu depois de desenvolver pleurisia, uma espécie de inflamação que ocorre na pleura, a membrana que envolve os pulmões e a caixa torácica.

À agência de notícias francesa AFP, o biógrafo do chefe do Vaticano, Austen Ivereigh, contou que os médicos removeram três cistos pulmonares do Pontífice em 1957 e parte do pulmão.

Em 2015, veio a público os problemas no quadril e fortes dores nas costas, que passaram então a reduzir sua mobilidade. Tratava-se de uma estreiteza no espaço intervertebral entre a quarta e a quinta vértebras lombares.

Mas o que mais afeta a locomoção do Papa hoje é uma artrose nos joelhos, que o faz hoje usar cadeira de rodas na maior parte do tempo. Em 2020, inclusive, Francisco não celebrou a tradicional missa de Ano Novo por dores no nervo ciático.

Além disso, em julho de 2021, o Papa teve parte de seu cólon removido em uma operação destinada a tratar uma doença intestinal chamada diverticulite. Mais comum em idosos, a enfermidade no sistema digestivo é caracterizada por um estreitamento da parede do órgão. Isso se dá por conta de saliências que se formam na região com a idade.

Em 2023, o Pontífice foi hospitalizado novamente por três dias devido a uma pneumonia grave. Poucos meses depois, voltou a ser internado por 10 dias para uma nova operação devido a uma laparocele que estava provocando quadros recorrentes de obstrução parcial do intestino.

Laparocele é um outro nome para hérnia incisional e acontece quando pacientes, após um procedimento cirúrgico abdominal, como o feito pelo Papa para diverticulite dois anos antes, desenvolvem uma hérnia no local da cicatriz.

Uma hérnia é uma protusão, como uma espécie de nódulo, formada pelo escape parcial ou total de um órgão ou um tecido por meio de uma abertura que foi aberta onde não deveria. Isso ocorre por má formação ou por enfraquecimento nas camadas que revestem o órgão, como do músculo abdominal.

Já no início deste ano, o Papa Francisco caiu e machucou o antebraço direito, apenas semanas após outra aparente queda ter resultado um hematoma grave no queixo do Pontífice. Em comunicado, o porta-voz do Vaticano anunciou que Francisco não chegou a quebrar o braço, mas precisou usar uma tipoia como precaução.