Oscar: Qual o discurso mais longo, o artista mais citado e os temas recorrentes?
Falas tinham em média três frases nos anos 1950 e foram a 15, em 2024; indicados deste ano são instruídos a limitar declarações a 45 segundos
No Oscar, ao longo dos anos, os fãs de cinema viram de tudo nos discursos dos vencedores: falas maçantes, intermináveis, constrangedoras, emocionantes ou até hilárias.
Alguns dos agradecimentos pelo prêmio ficam na mente, desde os suspiros atônitos de Anna Paquin, de 11 anos, até a ode feminista de Patricia Arquette que fez Meryl Streep se levantar para aplaudir de pé.
Uma análise da AFP de quase 2.100 discursos que remontam a março de 1953 — dos quais 80% são de homens — revela que os vencedores geralmente agradecem à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, à família, à equipe de filmagem ou a uma influência cinematográfica.
Os discursos tinham em média quase três frases na década de 1950, mas a partir de então os vencedores se tornaram mais falantes no palco: em 2024, atingiram em média 15 frases.
Para a edição 2025 da festa, os indicados foram incentivados a se limitar a 45 segundos.
No outro extremo, quase 200 vencedores pegaram o caminho rápido de volta para seus assentos, fazendo discursos de uma frase.
Em 1954, quando o trio de "Titanic" Charles Brackett, Walter Reisch e Richard Breen ganhou o prêmio de Melhor Roteiro Original, Brackett mal conseguiu dizer um "Obrigado" antes que o trio fosse conduzido para fora do holofote.
As mulheres, por sua vez, são as oradoras mais longas, com uma média de mais de nove frases, em comparação com sete frases dos homens.
Por categoria, as vencedoras de Melhor Atriz fazem os discursos mais longos, com 18 frases, duas e meia a mais do que seus colegas homens.
Daniel Kaluuya, Melhor Ator Coadjuvante por "Judas e o Messias Negro" em 2021, fez o discurso mais épico de todos os tempos, com quase 70 frases. Em três minutos e 30 segundos, o ator britânico que tem pais ugandenses agradeceu a cerca de 30 pessoas, de Deus à equipe, incluindo sua família e "todos que (ele) ama, de London Town a Kampala".
Gratidão
Naturalmente, a maioria dos discursos focam em agradecimentos — a palavra "obrigado(a)" aparece em quase 95% de todos os discursos na análise da AFP.
Dos 5% restantes, alguns foram mais imaginativos na escolha das palavras — Vincent Minnelli, por exemplo, expressou sua "gratidão" em 1959 quando recebeu o Oscar de Melhor Diretor por "Gigi".
Arthur Harari venceu em 2024 com Justine Triet por Melhor Roteiro Original ("Anatomia de uma Queda") — sua parceira disse todos os "obrigados".
Analisadas por categoria, as Melhores Atrizes com seus discursos mais longos também são as que mais dizem obrigada — em média, 6,2 vezes nos discursos.
Das suas mais de 60 frases, Halle Berry dedicou metade delas a agradecimentos em 2002, quando se tornou a primeira atriz negra na História do Oscar a ganhar a estatueta, por "A última ceia".
Depois de abrir com dois "Oh, meus Deus" seguidos por "este momento é muito maior do que (eu)", ela dedicou seu prêmio a "toda mulher de cor sem nome e sem rosto que agora tem uma chance porque esta porta foi aberta esta noite".
Em contraste, Frances McDormand, que não mede as palavras, quase pulou o "obrigada" completamente quando ganhou seu primeiro dos três prêmios de melhor atriz por "Fargo" em 1997.
Ela colocou um agradecimento bem no final -- "Obrigada por reconhecerem nosso trabalho" -- e deu os parabéns aos produtores por "permitir que os diretores tomem decisões autônomas de elenco com base nas qualificações, e não apenas no valor de mercado".
No dia 4 de março de 1943, Greer Garson subiu ao palco do Hotel Ambassador, em Los Angeles, para receber o Oscar de melhor atriz pelo trabalho em "Rosas da esperança" (1942), clássico dirigido pelo lendário William Wyler.
E o discurso da atriz segue há 80 anos como recordista como fala de maior duração na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.
Aos 38 anos, Garson falou por quase sete minutos em seu discurso de agradecimento. A fala foi tão grande que, à época, a Academia não se preocupou em preservar o discurso por completo. Hoje, a entidade lamenta só possuir, em vídeo, cerca de quatro minutos da fala.
De Deus a Spielberg
A concedente da estatueta dourada, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, é a entidade mais citada em discursos.
Na década de 1950, ela aparece em uma em cada 12 falas; na última década, em uma em cada duas declarações de vencedores.
Outra referência frequente é a "Deus", aparecendo quase 190 vezes em mais de 140 discursos.
Mais de seis em cada 10 ocorrências se referem à figura religiosa — pouco menos da metade o fazem como parte de frases com "Deus abençoe" o público, a América, a Academia...
Entre todas as ocorrências de "Deus", uma em cada cinco corresponde à frase "Oh (meu) Deus", que não se refere diretamente à figura religiosa.
Entre os indivíduos, o titã de Hollywood Steven Spielberg — indicado 23 vezes e vencedor em três delas — é o nome mais mencionado, aparecendo cerca de 40 vezes.