Guerra

Zelensky mantém rejeição à trégua sem 'garantias de segurança'

"Será um fracasso para o mundo inteiro se a Ucrânia for forçada a um cessar-fogo", disse o ucraniano

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky - Tetiana Dzhafarova / AFP

O presidente americano, Donald Trump, afirmou, nesta segunda-feira (3), que "não vai tolerar mais por muito tempo" a posição de seu par ucraniano, Volodimir Zelensky, depois que este manteve sua rejeição a uma trégua com a Rússia sem "sérias" garantias de segurança.

"É o pior que Zelensky poderia dizer e os Estados Unidos não vão tolerar mais isso por muito tempo", escreveu Trump em sua plataforma Truth Social, comentando um artigo da agência Associated Press intitulado "Zelensky diz que o fim da guerra na Ucrânia está 'muito longe'".

"Esse cara não quer a paz enquanto tiver o apoio dos Estados Unidos", declarou Donald Trump, que, durante seu tenso encontro de sexta-feira na Casa Branca, ameaçou Zelensky de deixar a Ucrânia "sozinha", caso ele não se mostrasse mais conciliador.

Enquanto isso, ainda nesta segunda-feira, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou ao chefe da diplomacia britânica, David Lammy, que Washigton está disposto a "negociar" para resolver o conflito e conquistar "a paz na Ucrânia", segundo seu porta-voz, Tammy Bruce.

Adotando uma postura semelhante à de Donald Trump, que disse que Zelensky não está "pronto para a paz", a Rússia, que invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, disse nesta segunda-feira que Zelensky deveria ser "forçado" a assinar um acordo para encerrar o conflito porque atualmente "não quer a paz".

A tensão de sexta-feira entre Zelensky, Trump e o vice-presidente americano, J.D. Vance, no Salão Oval da Casa Branca, agravou-se em relação às garantias de segurança exigidas por Kiev para a assinatura de um acordo sobre o acesso dos Estados Unidos aos recursos minerais ucranianos.

Quanto aos aliados europeus de Kiev, o presidente francês Emmanuel Macron mencionou no domingo a ideia de uma primeira trégua de um mês "no ar, no mar e nas infraestruturas energéticas".

No entanto, o governo britânico disse que não há acordo sobre tal iniciativa neste momento.

Na quinta-feira, será realizada uma cúpula dedicada à Ucrânia e a questões da segurança europeia em Bruxelas.


- 'Um fracasso' -

"Será um fracasso para o mundo inteiro se a Ucrânia for forçada a um cessar-fogo sem sérias garantias de segurança", disse Zelensky a imprensa em Londres no domingo.

"Vamos imaginar que em uma semana [após uma possível trégua], os russos começassem a nos matar novamente e nós reagíssemos, o que seria totalmente compreensível. O que aconteceria?", acrescentou.

Zelensky citou como exemplo o cessar-fogo no leste da Ucrânia entre 2015 e a invasão russa em fevereiro de 2022.

"Os russos dirão a mesma coisa que disseram há dez anos, que foram os ucranianos que violaram o cessar-fogo. Apresentamos provas de que foram eles. E quem se beneficiará? Os russos e jamais nós, os Estados Unidos, o presidente americano, ou nossos colegas europeus", disse.

Também assinalou que não seria fácil substitui-lo como presidente ucraniano, apesar dos apelos do governo americanos para sua saída.

Na semana passada, Trump acusou Zelensky de ser um "ditador" por seu país não ter realizado eleições por causa da guerra.

O presidente ucraniano lembrou que havia oferecido a sua renúncia em troca da paz e de que a Ucrânia fosse incorporada à Otan, o que significaria que ele já teria "cumprido [sua] missão.

Mas, na semana passada, Trump disse que os ucranianos podem "esquecer" a ideia de entrar na Otan, antes mesmo de receber Zelensky em Washington.


- Rússia contém seu avanço -

Convidados pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, quinze líderes europeus expressaram no domingo seu comprometimento em apoiar Kiev e a se rearmar contra a Rússia.

No terreno, a guerra iniciada pela Rússia há três anos continua causando mortes e destruição.

O comandante-chefe do Exército ucraniano, Oleksander Syrskyi, disse nesta segunda-feira que um "míssil balístico Iskander-M com bombas de fragmentação" atingiu uma base do Exército na região de Dnipropetrovsk no sábado, a mais de 100 km da linha de frente, deixando "mortos e feridos".

Segundo um blogueiro militar ucraniano, entre 30 e 40 soldados foram mortos no ataque, e até 90 ficaram feridos.

Enquanto isso, as tropas russas avançaram menos em fevereiro que nos meses anteriores, segundo dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), sediado nos Estados Unidos.

O Exército russo ocupou 389 km² em fevereiro, após ter conquistado 431 km² em janeiro, 476 km² em dezembro e 725 km² em novembro. Atualmente, as tropas de Moscou avançam em direção a Pokrovsk, cidade logisticamente importante na província de Donetsk.