Carnaval 2025

Mulheres ritmistas enfrentam preconceito como principal desafio nas baterias de samba

Movimento reúne mulheres de diferentes escolas de samba em busca de mais espaço e reconhecimento

Mulheres ritimistas enfrentam preconceito em baterias das escolas de samba - Quizomba / Divulgação

O Carnaval de 2025 no Rio de Janeiro, que teve a Beija-Flor de Nilópolis consagrada como campeã do Grupo Especial, evidenciou a crescente participação feminina nas baterias das escolas de samba, embora o espaço ainda seja predominantemente masculino. No entanto, para muitas ritmistas, o maior desafio continua sendo o preconceito e a resistência que enfrentam para se afirmar como parte essencial desse universo.

Joyce Lacorte, ritmista há 15 anos e integrante da Unidos do Viradouro, uma das escolas mais tradicionais da cidade, relembra como a presença feminina na bateria ainda é um ato de resistência. Para ela, apesar dos avanços na presença de mulheres, principalmente nos naipes mais leves como tamborim, chocalho e agogô, a falta de apoio e o preconceito persistem.

"Nossa capacidade ainda é posta em dúvida a todo momento, seja por comentários sutis ou por meros sorrisos de deboche", afirmou Joyce, destacando as dificuldades que as mulheres enfrentam ao tentar conquistar seu espaço nas escolas de samba, tradicionalmente dominadas por homens.

Dilma Marques, professora de história e ritmista da Grande Rio, também compartilha da mesma percepção sobre os desafios enfrentados pelas mulheres no Carnaval. Em 2023, Dilma realizou o sonho de fazer parte da bateria da Grande Rio, após aprender a tocar tamborim em 2019. Ela comenta que, apesar de estar em uma bateria que valoriza o trabalho feminino, as mulheres ainda enfrentam uma jornada tripla: além do samba, há os desafios de equilibrar a vida profissional e familiar.

"O que nos atrapalha é que vivemos numa sociedade machista onde mulheres no samba enfrentam jornada tripla", diz Dilma.

Ela também destaca a necessidade de mais empatia e consciência em relação à participação feminina nas baterias das escolas de samba, defendendo que os homens devem reconhecer seus privilégios e apoiar a mudança.

Crescimento 

Um movimento crescente, denominado Mulheres no Ritmo, tem sido fundamental na luta pela igualdade dentro das baterias de samba. Fundado pela ritmista Carolina Messias dos Santos, conhecida como Carol Santos, o coletivo registra e divulga, por meio de produções audiovisuais, o trabalho das mulheres nas baterias das escolas de samba, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. O movimento também se dedica a promover a equidade, questionando a escassez de mulheres em cargos de liderança nas agremiações.

Carol começou sua trajetória no samba tocando surdo de segunda na Torcida Independente, apoiando o São Paulo Futebol Clube. No Rio de Janeiro desde 2015, Carol desfila desde 2023 como parte da bateria "Tem que Respeitar Meu Tamborim", da Mangueira.

Para ela, o cenário está mudando: "Hoje, vemos mais mulheres tocando, ensinando e até comandando baterias. A presença feminina tem crescido não só nas baterias, mas também em cargos de direção, na parte musical e na organização das escolas. No entanto, essa evolução não aconteceu por acaso. Foi preciso que muitas mulheres enfrentassem barreiras para que outras pudessem chegar onde estão hoje", afirma.

Apesar da visível evolução na presença das mulheres no samba, Carol e outras ritmistas ainda enfrentam desafios relacionados ao preconceito, resistência e falta de oportunidades.

"Muitas vezes, as mulheres precisam provar o tempo todo que são capazes. Mas o cenário tem mudado, e ver cada vez mais mulheres nas baterias me enche de esperança e orgulho. A luta ainda existe, mas estamos avançando", diz Carol, com otimismo sobre o futuro.

O coletivo Mulheres no Ritmo atualmente conta com cerca de 20 ritmistas de diversos estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina. Além da divulgação do trabalho feminino nas escolas de samba, o movimento também realiza a cobertura dos desfiles de carnaval e promove o espaço para que as novas gerações de ritmistas possam encontrar mais oportunidades e reconhecimento.

O movimento defende que as mulheres têm o direito de ocupar todos os espaços, seja no carnaval ou em qualquer outro setor da sociedade. Como diz o slogan do coletivo: “Lugar de mulher é onde ela quiser”. O objetivo de Carol e suas colegas de movimento é continuar abrindo caminhos para as próximas gerações, garantindo maior espaço e visibilidade para as mulheres nas baterias das escolas de samba.

Por fim, as ritmistas afirmam que, embora o caminho ainda seja longo, as mulheres estão conquistando seu espaço no samba e, com isso, garantindo que as futuras gerações de sambistas tenham ainda mais igualdade e oportunidades para brilhar.