Justiça russa acusa jornalista veterana de justificar terrorismo em meio a repressão à dissidência
Moscou intensificou a caçada contra dissidentes desde o início de uma operação militar na Ucrânia em 2022
Um tribunal de Moscou acusou nesta segunda-feira uma jornalista veterana de "justificar o terrorismo", uma acusação punível com até sete anos de prisão, em meio a uma repressão à mídia independente.
A Rússia intensificou a repressão à dissidência desde o início de uma operação militar na Ucrânia em 2022, acusando aqueles que não seguem a linha oficial de "justificar o terrorismo".
Os promotores acusam Nadejda Kevorkova, uma respeitada jornalista de 66 anos, especialista em Oriente Médio, de "justificar publicamente e incitar o terrorismo (...) com o objetivo de influenciar a opinião pública".
A acusação se baseia em duas publicações nas redes sociais, uma sobre o Talibã, que a Rússia reconhece como uma organização terrorista, e outra sobre um ataque islamista em 2005 na cidade russa de Nalchik.
Kevorkova, que foi presa em maio, trabalhou para grandes veículos de comunicação russos, incluindo a "Novaya Gazeta", mas também o "Russia Today", pró-Kremlin.
Na época, a agência Reuters também informou que a prisão de Kevorkova também decorreu de uma postagem no Telegram sobre um jornalista russo morto na República Centro-Africana em 2018 enquanto filmava um documentário sobre o grupo mercenário Wagner, cujo chefe Yevgeny Prigojin liderou uma tentativa de motim em junho de 2023. Prigojin morreu dois meses depois em um acidente de avião.
Nesta segunda-feira, Kevorkova compareceu ao tribunal com o cabelo preso para trás e um vestido preto com listras brancas, onde cumprimentou um grupo de pessoas de dentro da cabine de vidro onde os acusados são colocados.
Cerca de 20 pessoas, incluindo vários jornalistas, foram ao tribunal para apoiá-la.
O advogado de Kaloy Akhilgov afirmou que um veredicto pode ser conhecido em poucos dias.
O Kremlin exerceu um controle rígido sobre a mídia russa durante o longo governo do presidente Vladimir Putin, mas seu controle sobre a imprensa desde o lançamento da ofensiva na Ucrânia em 2022 atraiu comparações com a censura e a propaganda da era soviética.
Putin sancionou uma lei em março de 2022, poucos dias após o início da ofensiva na Ucrânia, que prevê pena de até 15 anos de prisão se forem divulgadas informações que busquem "desacreditar" as Forças Armadas russas e de divulgar o que o Kremlin considere como "informações falsas" sobre a guerra. Semanas depois, o presidente russo também alertou que limparia a Rússia da "escória e de traidores".
— Qualquer povo, e particularmente o povo russo, sempre será capaz de distinguir os patriotas da escória e dos traidores e cuspi-los como um mosquito que acidentalmente voou em suas bocas — disse o presidente russo à época.
Segundo dados do site de monitoramento independente russo, o OVD-Info, mais de 20 mil detenções já foram realizadas desde o início dos conflitos. Em relação aos profissionais da imprensa, 38 já foram presos e 144 acusados em casos criminais antiguerra com motivação política, segundo relatório de fevereiro do OVD.