AMÉRICA

Venezuela concorda voltar a receber deportados EUA após venezuelanos serem enviados para El Salvador

Repatriação será retomada no domingo, de acordo com o negociador-chefe do governo venezuelano; países romperam relações diplomáticas em 2019

Migrantes venezuelanos no Aeroporto Internacional Simón Bolívar em Maiquetia, Venezuela, nesta quinta (20) - Pedro Mattey / AFP

A Venezuela concordou neste sábado em retomar os voos de deportados pelos Estados Unidos, suspensos há um mês, enquanto os governos se acusam mutuamente de boicotar um acordo sobre o assunto alcançado em janeiro.

O anúncio chega uma semana após a deportação de 238 venezuelanos para o Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), uma prisão de segurança máxima em El Salvador, incidente que o presidente Nicolás Maduro chamou de sequestro.

O ritmo das deportações foi questionado pelo governo Trump, que revogou a licença de operação da petroleira americana Chevron na Venezuela. Caracas afirmou na quinta-feira que o Departamento de Estado americano estava "bloqueando" voos de repatriação para o país caribenho.

"Entramos em acordo para retomar, com o governo dos EUA, a repatriação de migrantes venezuelanos com um voo inicial amanhã, domingo, 23 de março", disse o negociador-chefe do governo venezuelano, Jorge Rodríguez, em um comunicado.

Os dois países romperam relações diplomáticas em 2019, durante o primeiro governo Trump, que impôs um embargo ao petróleo após considerar fraudulenta a primeira reeleição de Maduro em maio de 2018.

Washington também não reconheceu a proclamação de Maduro para um terceiro mandato após as eleições de julho de 2024, denunciadas como fraude pela oposição que reivindicou a vitória do exilado Edmundo González Urrutia.

Os Estados Unidos acusam os venezuelanos levados para El Salvador de pertencerem à organização Tren de Aragua, que surgiu na Venezuela e foi declarada terrorista por Trump.

'Migrar não é crime'
Para as deportações dos venezuelanos, o presidente americano invocou uma lei do século XVIII que permite a expulsão de "inimigos estrangeiros" sem julgamento. Caracas alega ser "anacrônica".

Trump negou ter assinado a invocação na sexta-feira, horas depois de o juiz James Boasberg, que suspendeu a expulsão de migrantes ordenada pelo governo, ter chamado as implicações do uso de uma lei de guerra de 1798 de "inacreditavelmente problemáticas".

— Não sei quando foi assinada porque eu não assinei. Outras pessoas o fizeram — disse Trump, sugerindo que seu secretário de Estado, Marco Rubio, era o responsável por assinar a ordem.

O governo Maduro denuncia uma campanha para criminalizar uma migração que, segundo a ONU, ultrapassou 7,5 milhões de venezuelanos desde 2014. Também nega que integrantes da facção criminosa Tren de Aragua estivessem entre os deportados para El Salvador.

"Migrar não é crime e não descansaremos até garantir o retorno de todos que requeiram e resgatar nossos irmãos sequestrados em El Salvador", acrescentou o comunicado.

Familiares dos deportados para El Salvador entrevistados pela AFP disseram que esse grupo de migrantes recebeu ordem de deportação para a Venezuela e foi transferido enganosamente para o Cecot.

Desde fevereiro, cerca de 900 venezuelanos foram repatriados, quase 400 deles dos Estados Unidos e o restante do México, onde ficaram retidos.