Charlize Theron empresta interpretação vigorosa à espiã de 'Atômica'
Longa traz de volta a brutalidade à ação mas parece faltar fôlego para a trama inspirada em quadrinho de Antony Johnston ser especial
Histórias em quadrinhos continuam exercendo grande influência no mercado do cinema. A nova adaptação é "Atômica", inspirada no quadrinho "Atômica: a cidade mais fria", assinado por Antony Johnston, que estreia nesta quinta-feira (31).
O filme, que tem sua força na interpretação vigorosa de Charlize Theron como a espiã Lorraine, recorre às bases da HQ para criar um exemplar interessante que mistura ação e espionagem: a Alemanha de 1989, quando o muro de Berlim estava prestes a ser derrubado e todos sentiam os efeitos das crises políticas da Guerra Fria.
O filme tem uma trama mais ou menos confusa, uma espécie de homenagem ao MacGuffin, conceito popularizado por Alfred Hitchcock em que todas as ações dos personagens são motivadas por um certo objeto ou meta que não tem muita importância para a resolução da história.
Leia também:
Projeto Cinesolar traz exibição gratuita de filmes a Pernambuco
Produtoras brasileiras podem inscrever filmes para concorrer ao Prêmio Goya
Conheça novos olhares e talentos do cinema pernambucano
No enredo, o MI6, serviço secreto britânico, busca uma lista que detalha a identidade de seus espiões, artefato que caiu nas mãos de um agente russo. Para evitar mortes, o MI6 envia Lorraine, que irá ajudar as investigações de outro espião, Percival (James McAvoy).
A qualidade de "Atômica" está na maneira bruta como tenta revitalizar o gênero ação. Existe uma cativante proposta de realismo nas cenas mais intensas: lutas, perseguições de carro e acidentes explosivos são filmados pela perspectiva da verossimilhança, respeitando detalhes que costumam ser ignorados no gênero, como lógica ou gravidade.
O diretor David Leitch, que tem larga carreira como dublê, parece especialmente apaixonado pelas coreografias caóticas de desastres, injetando com sucesso doses extras de adrenalina nas principais cenas. Destaque também para a trilha sonora, com hits dos anos 1980, e para um colorido neon decadente, que cria a atmosfera ideal para a história.
O problema está na maneira confusa e às vezes aleatória como esse conceito de ação realista varia ao longo do filme. Duas cenas parecem indicar essa forma torta de criar brigas e violência.
Num primeiro momento, Lorraine escapa de um apartamento ocupado por seis ou oito policiais alemães. Ela briga e facilmente desarma e derruba todos com alguns socos. Duas ou três coronhadas são suficientes para deixá-los desacordados. Ela escapa sem arranhões, como uma Mulher-Maravilha, êxito absoluto na missão.
Em outra cena, a espiã luta contra mais ou menos essa mesma quantidade de inimigos, dessa vez criminosos russos. As lutas são mais longas e violentas, cada murro deixa marcas roxas, feridas e sangue.
Lorraine termina a briga como Rocky Balboa, inchada e cambaleante, desnorteada e tonta. É uma sequência que representa uma proposta de ação e violência com um ritmo frenético e autêntico, respeitando os limites do vigor e da realidade, diferente da primeira cena, 100% genérica.
O filme oscila entre instantes de personalidade forte, ação intensa e carismática, e outros momentos que parecem retirados de um exemplar qualquer do gênero. Parece faltar fôlego e criatividade para David Leitch transformar esta adaptação em algo realmente especial, ficando no meio do caminho entre algo bruto e divertido e outra parte maçante e ordinária.
Cotação: bom