Jejum intermitente ou dieta de restrição calórica: qual é o melhor para perder peso?
Estudo separou 165 adultos em dois grupos e avaliou qual teve a maior redução no número da balança após um ano
O mundo das dietas oferece uma ampla diversidade de mudanças alimentares para quem deseja diminuir o número que aparece na balança. Embora cada pessoa possa responder de forma diferente a cada uma delas, pesquisadores buscam identificar quais têm a maior eficácia geral para de fato reduzir o peso. E uma delas, que recebe cada vez mais destaque, ganhou um novo ponto a seu favor: o jejum intermitente.
Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, realizaram um estudo clínico que separou 165 adultos com sobrepeso ou obesidade de forma aleatória em dois grupos. O primeiro seguiu o jejum intermitente, enquanto o segundo adotou uma dieta de restrição calórica. Ao fim do acompanhamento de 12 meses, ambos perderam peso, mas o primeiro teve uma redução levemente maior.
“Foi surpreendente e empolgante para mim que tenha sido melhor. A mensagem mais importante para mim é que essa é uma estratégia alimentar baseada em evidências, especialmente para pessoas que tentaram a dieta de restrição calórica e acharam difícil”, diz Victoria Catenacci, professora da universidade e autora principal do estudo, publicado na revista científica Annals of Internal Medicine, em comunicado.
No trabalho, financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), o jejum intermitente avaliado foi um modelo chamado de 4:3, diferente do comum, que restringe o horário da alimentação todos os dias.
Nele, os participantes podiam comer livremente durante quatro dias na semana, embora fossem orientados a priorizar alimentos saudáveis. Enquanto isso, nos outros três, eles realizavam a restrição alimentar de modo a reduzir em 80% o total de calorias ingeridas, chegando a uma média de somente 400 a 700 calorias por dia.
“O modelo 4:3, no qual os participantes jejuam três dias por semana (de forma flexível, adaptável à rotina pessoal), pode representar um meio-termo mais viável para ser incorporado no dia a dia. Além disso, ele gera um déficit calórico significativo ao longo da semana”, avalia Danielle Ostendorf, também autora do estudo e pesquisadora da universidade na época.
Já os voluntários do segundo grupo, da dieta de restrição calórica, receberam uma meta diária de calorias projetada para produzir um déficit energético de 34,3% em relação ao que seus corpos precisavam todos os dias.
Os participantes de ambos os grupos também receberam uma assinatura gratuita de academia e foram incentivados a praticar pelo menos 300 minutos de exercício por semana. Além disso, tiveram suporte comportamental em grupo, instruções sobre contagem de calorias e um guia para atingir uma distribuição dietética de macronutrientes adequada.
Ao fim dos 12 meses, os participantes do primeiro grupo, do jejum intermitente, tiveram uma perda de em média 7,6% do peso corporal. Já os do segundo grupo, da restrição calórica, viram o número da balança diminuir 5%.
Aqueles do grupo do jejum também apresentaram mudanças mais favoráveis nos desfechos cardiometabólicos, incluindo pressão arterial sistólica, níveis de colesterol total e “ruim” (LDL) e de glicose em jejum, afirmam os pesquisadores.
Em um comunicado, Maria Chondronikola, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa Metabólica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que não participou do estudo, disse que o novo trabalho é “intrigante" e aborda "um tema que tem despertado significativo interesse científico e público”.
“O estudo é de alta qualidade, e sua conclusão sobre o efeito do jejum intermitente 3:4 na perda de peso é bem fundamentada (...) É possível que o jejum 3:4, quando combinado com um programa intensivo de apoio comportamental liderado por um nutricionista, possa levar a resultados superiores de perda de peso em comparação com a restrição calórica padrão”, continuou.
Adam Collins, professor de Nutrição da Universidade de Surrey, que também não estava envolvido com o estudo, afirmou que pessoas que praticam jejum em alguns dias da semana tendem a comer menos também nas outras datas, o que pode ajudar a explicar a eficácia superior.
“Sabemos, a partir de estudos anteriores sobre restrição energética intermitente (especialmente o jejum em dias alternados), que há uma tendência de algumas pessoas comerem menos também nos dias sem jejum, seja de forma inconsciente ou subconsciente”, disse em comunicado.
Além disso, o especialista afirmou que “manter qualquer dieta por 6 a 12 meses é desafiador”, por isso a estratégia do jejum, que tinha dias “livres”, pode ter sido mais bem sucedida.
“Mas, dentro de cada grupo, a extensão da perda de peso foi altamente variável, sugerindo que pode não ser a melhor opção para todos. Os próprios autores reconhecem isso em sua conclusão”, ponderou.