NEGÓCIOS

Michael Klein quer voltar ao comando das Casas Bahia para "retomada da rota de crescimento"

Com mais de 10% do capital da companhia, mira em subir à presidência do Conselho de Administração para ajudar a varejista a competir num mercado "dominado por gigantes digitais"

Casas Bahia faz acordo extrajudicial para reperfilar dívida de R$ 4,1 bilhões - Reprodução

Michael Klein, filho do fundador do Grupo Casas Bahia (Casas Bahia e Pontofrio), está oficialmente abrindo caminho para retornar à companhia. Quer fazer a empresa deficitária voltar a crescer.

Com uma fatia agora superior a 10% do capital total, ele pediu que uma assembleia extraordinária de acionistas seja marcada para mexer na composição do conselho, conforme fato relevante divulgado pela varejista.

A meta é remover dois nomes, um deles o de Renato Nascimento, presidente do board, para, na sequência, disputar sua nomeação para a liderança do colegiado.

Klein, contam fontes de mercado, vem trabalhando em duas frentes. Em uma delas, mantém diálogo com membros do Conselho para conquistar apoio para seu retorno. Na outra, segue expandindo as ações da companhia sob seu chapéu.

O pedido da assembleia extraordinária foi feito por meio de carta enviada ao Conselho de Administração da Casas Bahia no último dia 31, segunda-feira. Ele propõe votar a destituição de Nascimento, há 13 anos no colegiado, e de Rogério Paulo Peres.

Está de olho na cadeira da presidência. Para o lugar de Peres, indica Luiz Carlos Nannini, que integrava o comitê fiscal da companhia, e tem larga experiência em auditoria.

Até o envio dessa carta, Klein, CB Autos (empresa do Grupo CB, do empresário) e Twinsf Fundo de Investimento, somavam 9,49% do capital. No dia seguinte, essa fatia subiu a 10,42%, reforçando o foco em “viabilizar o envolvimento” de Klein na gestão da companhia, de acordo com documento divulgado ao mercado.

Ele afirma que, com esse movimento, quer botar a companhia de volta nos trilhos e, principalmente, rumo ao crescimento. Na carta que apresentou ao Conselho, frisa que sua volta ao colegiado vai permitir que sejam dadas “relevantes e valiosas contribuições para o planejamento estratégico” da varejista, buscando “retomada da rota de crescimento” dos negócios e gerando valor aos acionistas.

Em paralelo, Klein diz que isso não seria feito de forma brusca, mas “sem causar movimentos disruptivos”, e preservando a atual gestão. A meta é “reconquistar a confiança de clientes e investidores”, além de competir num mercado “dominado por gigantes digitais”.

Desafios dentro e fora do negócio
Está na fragilidade da varejista em avançar nesse mercado digital, patinando em resultados negativos. Em maio de 2023, Renato Franklin, vindo de uma bem-sucedida trajetória na Movida, assumiu a presidência do grupo.

Quatro meses depois, a companhia deixou para trás a alcunha de Via, trazendo de volta o nome Casas Bahia e o slogan-chiclete “Dedicação total a você”. Com ele, foco em vender o que estava no DNA da companhia, geladeiras, fogões, itens da linha branca.

Naquele ano, a companhia registrou R$ 2,6 bilhões em prejuízo, quase oito vezes mais que em 2022. Em 2024, fechou um acordo com credores no âmbito de um processo de recuperação extrajudicial, o que permitiu repactuar R$ 4,1 bilhões em dívidas, alongando o prazo de pagamento e garantindo uma melhoria de R$ 4,3 bilhões no fluxo de caixa ao longo de quatro anos.

Com isso e outros esforços, as Casas Bahia fecharam o último ano com um prejuízo pouco acima de R$ 1 bilhão. As vendas on-line seguem sendo um desafio, tendo retraído em 20% ante a 2023.

Esse ponto é visto com um ponto de atenção por especiliastas e executivos do varejo que preferem não se identificar. Eles reconhecem a competência e qualidades de Klein em seu histórico no comando da varejista, sobretudo sua “genialidade” em crédito, mas temem que seja um movimento que leve a companhia “de volta ao passado”.

Alta de ações por especulação

Nesta quarta-feira, as ações da companhia fecharam cotadas a R$ 9,52, com alta de 2,37. Para analistas, esse aumento não representa, necessariamente, reação positiva do mercado ao movimento e Klein.

— Os papeis vinham muito descontados. E houve um efeito de short squeeze recente, ampliado por boatos divulgados em redes sociais puxando vendas — destaca Thiago Pedroso, analista da Criteria, se referindo ao movimento feito pelo investidor Renato Ferri.

Short Squeeze é o que ocorre quando uma ação tem um salto em valor porque a demanda pelo papel subiu rapidamente e por efeito de investidores que venderam a descoberto, ou seja, apostando em lucrar com a queda daquela ação. Quando o preço sobe, eles tem de recomprar os papeis para evitar perdas, puxando a alta.

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Mas isso não aconteceu isoladamente. Houve investidores surfando essa onda, como Ferri, que levou 5,11% das ações das Casas Bahia, como divulgado pela companhia.

— Possivelmente, também o Michael Klein aproveitou para comprar mais ações. Ter 10% da companhia hoje avaliada em cerca de R$ 900 milhões não é muito para ele. Entendo que planeja recuperar o legado da família. Mas, para fazer isso, há fatores que não dependem da varejista — pondera Pedroso.

Custo da dívida pesa

O maior desafio no cenário macro para as Casas Bahia, continua o analista, está na taxa de juros, já que apenas o custo da dívida da companhia, mesmo após o acordo com os credores, leva R$ 1 bilhão por ano da geração de caixa da varejista. Ele reconhece, porém, que há evolução operacional.

A própria companhia está atenta às movimentações. E em sua proposta para a assembleia ordinária de acionistas marcada para o fim do mês, traz a inclusão de uma poison pill no estatuto. A pílula de veneno, em tradução livre, é usada como um mecanismo de proteção da empresa e de seus acionistas em caso de oferta hostil para aquisição do negócio. Ela obriga que, nesses casos, seja realizada uma oferta pública de ações da companhia.

Outra proposta sobre a mesa é elevar em 40% a remuneração do conselho e da diretoria das Casas Bahia este ano, o que pode ter incomodado acionistas, afirmam fontes. Klein estaria disposto a barrar esse movimento, informa o site Pipeline, do Valor Econômico. Pedroso, porém, avalia que também esse ponto pede atenção porque pode ser uma estratégia para reter executivos em meio ao fraco desempenho da empresa.

— Entendo a discussão do quão alto é a remuneração dado o momento da empresa, o incômodo nos acionistas. Mas o fato é que não esta muito diferente do que é feito pelo mercado. A Americanas gasta R$ 72 milhões — destaca, acrescentando que a proposta na Casas Bahia e alcançar R$ 69,8 milhões.

Procurado, o Grupo Casas Bahia informou que a composição do Conselho é prerrogativa dos acionistas. E que o assunto não tem impacto na gestão da companhia ou em seu plano de transformação, que segue em execução, “com foco em disciplina financeira, eficiência operacional e crescimento sustentável”.