Mudança na linguagem: Casa Branca adota estilo de comunicação da extrema direita
Perfis oficiais do Poder Executivo dos EUA adotaram um tom provocativo e ofensivo nas redes sociais durante o governo Trump
Desde o início do segundo mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos a Casa Branca, sede do Executivo americano, vem adotando métodos de comunicação provocativos e ofensivos bastante utilizados pela extrema direita.
Recentemente, sua conta oficial no X comemorou a prisão de uma suposta criminosa, aos prantos e algemada antes de sua deportação, cuja imagem alterada por IA no estilo Ghibli se tornou um meme. Pouco antes, a conta havia publicado um vídeo de deportados algemados ao som de "Closing Time", hit dos anos 1990 da banda Semisonic.
"Acho que isso resume muito bem a nossa política de imigração: 'Você não precisa voltar para casa, mas não pode ficar aqui'", disse a secretária de Imprensa, Karoline Leavitt, citando a letra com um sorriso. A Semisonic denunciou a mensagem imediatamente.
No Dia de São Valentim, 14 de fevereiro, a Casa Branca publicou uma imagem com as cabeças flutuantes do presidente e de seu czar da fronteira, Tom Homan: "Rosas são vermelhas/ Violetas são azuis/ Venham ilegalmente/ E nós os deportaremos", dizia a mensagem.
Para Marcus Maloney, professor de sociologia na Universidade de Coventry e especialista em discurso online, esta é uma estratégia de redes sociais que fala sobre "a '4Chanificação' da política americana", referindo-se ao 4Chan, um fórum online baseado em imagens que se tornou um centro de desinformação. Este fórum foi um dos pioneiros do chamado "shitposting" (shit = termo chulo para fezes e posting = publicação), uma forma de comunicação intencional na Internet que visa chocar, ofender ou confundir o discurso com o absurdo, que age como um troll (provocador) online.
— O primeiro governo de Trump abraçou os "shitposters" de extrema direita de 2016 para reforçar sua candidatura — diz Maloney. — O segundo incorpora seus métodos aos canais de comunicação oficiais.
É uma nova tática para a conta oficial que, não muito tempo atrás, apresentava uma série de comunicados de imprensa e declarações relativamente inofensivas.
Em resposta à indignação em torno do meme da deportada, Kaelan Dorr, vice-diretor de comunicações da administração, republicou a imagem, prometendo que "as prisões continuarão. Os memes continuarão".
— Grande parte da energia do movimento MAGA ("Make America Great Again") está online — diz Jacob Neiheisel, professor de ciência política na Universidade de Buffalo.
Ele explica que a atitude agora adotada pela Casa Branca "pretende chocar e ser vista como uma piada" ao mesmo tempo; é o tipo de "conversa de vestiário" que "tem sido uma constante" nas presidências não consecutivas de Trump. No entanto, apresenta uma tendência perigosa.
— Eles apelam para o menor denominador comum, que se torna normalizado nos círculos de elite e então se torna a retórica que as pessoas usam — diz Neiheisel.
Banalizar e difamar
Outra publicação infame da Casa Branca comparou as imagens e os sons de pessoas acorrentadas enquanto embarcam em um avião de deportação ao ASMR, o fenômeno sensorial auditivo que faz com que as pessoas encontrem relaxamento ou prazer nos sons.
— É uma linguagem frívola que "acaba prejudicando a seriedade da presidência, o cargo mais poderoso do mundo, e danifica sua percepção não apenas nacionalmente, mas também internacionalmente — diz Mark Hass, especialista em marketing digital e professor de comunicações estratégicas na Universidade Estadual do Arizona.
Essa forma de linguagem pode "banalizar" questões importantes, como a imigração, diz o especialista, que acredita que é desnecessário difamar as pessoas.
— E pode se tornar um reflexo pérfido dos objetivos políticos do governo Trump — diz Maloney.
O especialista explica que essa insensibilidade pode "abrir portas para políticas que desumanizam ou tornam grupos minoritários vulneráveis".
— O que eles estão fazendo é integrar as políticas idealizadas pela extrema direita — alerta.