China pressiona Shein a não deslocar produção para fora do país
Gigante estava prospectando fornecedores em vizinhos asiáticos para escapar do tarifaço de Trump
Os planos da gigante do fast fashion Shein de transferir parte da produção para fora da China enfrentaram oposição do governo chinês, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Pequim busca conter um êxodo da manufatura diante do aumento das tarifas impostas por Donald Trump.
O Ministério do Comércio da China entrou em contato com a Shein e outras empresas para desencorajá-las a diversificar suas cadeias de suprimentos buscando fornecedores em outros países, disse uma fonte próxima às discussões.
Segundo essa pessoa, os pedidos foram feitos nos dias que antecederam o anúncio de Trump sobre “tarifas recíprocas”, que levaram empresas a buscar formas de evitar o tarifaço. Não ficou imediatamente claro quais outras empresas foram contatadas.
Uma das formas como a Shein respondeu foi interrompendo as visitas para pesquisas de mercado que havia organizado para seus principais fornecedores chineses em fábricas no Vietnã e em outros países do Sudeste Asiático, afirmou outra fonte. As fontes pediram anonimato para discutir assuntos privados.
A ameaça de perda de empregos devido à transferência da produção para o exterior tornou-se uma grande preocupação para o governo chinês.
A Shein e o Ministério do Comércio da China não responderam a pedidos de comentário da Bloomberg.
A intervenção de Pequim para barrar os planos alternativos da cadeia de suprimentos da Shein ocorre em meio ao tarifaço de Trump e também diante da perspectiva da expiração de um mecanismo muito usado por empresas chinesas para acessarem o mercado americano. Em menos de um mês, expiram as isenções tarifárias para encomendas de pequeno valor importadas por consumidores americanos. Com isso, o custo dos produtos vendidos pela Shein e por outras asiáticas como Temu e Shopee aumentará significativamente.
As articulações do governo chinês junto às empresas também expõem uma contradição entre os interesses de Pequim e dos empresários, com o esforço estatal para proteger o setor industrial doméstico entrando em conflito com as empresas que buscam evitar custos cada vez mais altos.
Embora muitas indústrias chinesas tenham contornado as tarifas impostas durante o primeiro mandato de Trump transferindo a produção para o exterior — mais da metade das fábricas do Camboja agora pertencem a chineses, por exemplo — a ação do Ministério do Comércio sugere que Pequim não verá com bons olhos estratégias semelhantes desta vez.
Com a maioria dos produtos chineses enfrentando uma tarifa de importação de pelo menos 54% ao chegar aos EUA, muitos fornecedores estão sob pressão de seus clientes para arcar com grande parte do ônus tarifário ou considerar a mudança da produção para reduzir custos.
A Bloomberg informou em fevereiro que a Shein ofereceu incentivos a alguns de seus principais fornecedores de vestuário para adicionar linhas de produção no Vietnã, após Trump ameaçar eliminar a chamada brecha fiscal “de minimis”, que permite à Shein enviar pequenas encomendas diretamente aos consumidores dos EUA sem taxas. Essa brecha deixará de existir para pacotes vindos da China em 2 de maio, o que colocará os comerciantes diante de bilhões em tarifas adicionais.
Fundada na cidade chinesa de Nanjing, mas agora sediada em Cingapura, a Shein tem contado amplamente com uma vasta rede de manufatura de vestuário do sul da China para produzir blusas de US$ 2 e camisetas de US$ 10 para consumidores da América do Norte e da Europa.