Lula espera que Juscelino peça demissão após denúncia da PGR, dizem auxiliares
Presidente já havia manifestado posição anteriormente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera, de acordo com aliados, que o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, tome a iniciativa de pedir demissão. Esses auxiliares lembram que Lula já havia deixado clara essa posição quando afirmou, em junho do ano passado, que o auxiliar deveria se afastar, caso a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentasse a denúncia.
Ministros próximos a Lula avaliam que é inviável Juscelino permanecer no governo após ser acusado pelo Ministério Público. Também lembram que o presidente sempre prefere que os seus ministros tomem a iniciativa de sair em momentos de crise, para que ele não tenha o desgaste de bater o martelo da demissão.
Lula foi avisado da denúncia de Juscelino enquanto estava na cerimônia de abertura da 29ª Feira Internacional da Construção Civil e Arquitetura, em São Paulo. De lá, irá direto para Honduras participar da 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Porém, o posicionamento do União Brasil de soltar uma nota de apoio ao ministro pode levar o Planalto a um impasse. Se forçar a saída de Juscelino, Lula pode desagradar um partido que é divido em relação ao governo.
Na sexta-feira, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), lançou sua pré-candidatura a presidente. Um ministro lembra que Juscelino tem muito prestígio junto a lideranças de seu partido.
Nesta terça-feira, a PGR denunciou Juscelino Filho por suspeita de desvio de emendas parlamentares no período em que era deputado federal. A acusação foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vai decidir se torna o ministro réu. Em nota, Juscelino afirmou que é inocente e que confia na Corte para rejeitar a denúncia.
É a primeira denúncia apresentada pela PGR contra um integrante do primeiro escalão da gestão Lula neste mandato. O relator do caso no STF é o ministro Flávio Dino, que foi colega de Juscelino na Esplanada quando ocupou a pasta da Justiça. A denúncia está sob sigilo.
Em junho do ano passado, Juscelino foi indiciado pela Polícia Federal pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Em declaração na época, Lula defendeu o direito de o auxiliar "provar que é inocente", mas disse que ele perderia o cargo caso as investigações avançassem.
— O que eu disse para ele: só você sabe a verdade. Se o procurador indiciar (denunciar), você sabe que tem que mudar de posição. Enquanto não houver indiciamento (denúncia), ele fica como ministro. Se houver indiciamento (denúncia), ele será afastado — afirmou o presidente duas semanas após a PF apresentar o relatório apontando os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.