Saída de Juscelino faz governo chegar à 10ª troca ministerial, em média uma mudança a cada 3 meses
Titular da pasta das Comunicações decidiu entregar o cargo após ser denunciado pela PGR por suspeita de desvio de emendas parlamentares
A saída de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações, acordada após o político ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de desvio de emendas parlamentares, levará o governo Lula a chegar à décima troca no primeiro escalão.
Desde o início do terceiro mandato do petista, em janeiro de 2023, a média é de uma mudança do gênero a cada 83 dias, ou pouco menos de três meses.
A nova troca, no entanto, é a primeira relacionada a suspeitas de corrupção, ainda que não vinculadas ao Planalto em si.
Antes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já mudou ministros por desgastes políticos, em meio a acusações de assédio ou para acomodar aliados do Centrão, por exemplo.
Veja abaixo a dança das cadeiras
Gonçalves Dias (sem partido): Deixou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República em abril de 2023, após virem à tona vídeos de sua postura durante os atos de 8 de janeiro daquele ano.
Daniela Carneiro (União Brasil): Em julho de 2023, foi substituída no Ministério do Turismo por Celso Sabino, do mesmo partido, em busca de mais apoio da sigla no Congresso.
Ana Moser (sem partido): A ex-jogadora de vôlei deixou o Ministério do Esporte em setembro de 2023 para dar lugar a André Fufuca (PP), mais uma vez numa costura política junto ao Centrão.
Márcio França (PSB): Nas mesmas tratativas, Silvio Costa Filho (Republicanos) assumiu a pasta de Portos e Aeroportos. França foi realocado no então recém-criado Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Flávio Dino (PSB): Deixou a Esplanada no início de 2024 para assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal ( STF) e foi substituído por Ricardo Lewandowski (sem partido) no Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Silvio Almeida (sem partido): Acusado de assédio por Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, acabou sendo trocado por Macaé Evaristo (PT) na pasta de Direitos Humanos e Cidadania em setembro do ano passado.
Paulo Pimenta (PT): Foi substituído por Sidônio Palmeira (sem partido) na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República no início deste ano após críticas à condução da área.
Nísia Trindade (sem partido): Um mês depois, em fevereiro, a ministra da Saúde não resistiu a diferentes pressões e deu lugar a Alexandre Padilha (PT).
Alexandre Padilha (PT): Antes de assumir a pasta da Saúde, Padilha ocupava a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, que passou a ser comandada por Gleisi Hoffmann (PT).
Juscelino Filho (União Brasil): Entregou o cargo de ministro das Comunicações para focar na própria defesa após ser denunciado pela PGR.
A PGR denunciou Juscelino por suspeita de desvio de emendas parlamentares no período em que era deputado federal.
A acusação foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vai decidir se torna o político réu. Em nota, Juscelino afirmou que é inocente e que confia na Corte para rejeitar a denúncia.
É a primeira denúncia apresentada pela PGR contra um integrante do primeiro escalão da gestão Lula neste mandato.
O relator do caso no STF é o ministro Flávio Dino, que foi colega de Juscelino na Esplanada quando ocupou a pasta da Justiça. A denúncia está sob sigilo.
Juscelino foi indiciado em junho do ano passado pela Polícia Federal pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Em declarações de 2024, ao comentar o desfecho do inquérito da PF, o presidente Lula defendeu que o auxiliar tinha o direito de "provar que é inocente", mas acrescentou que ele poderia perder o cargo caso as investigações avançassem:
— O que eu disse para ele: só você sabe a verdade. Se o procurador indiciar (denunciar), você sabe que tem que mudar de posição. Enquanto não houver indiciamento (denúncia), ele fica como ministro. Se houver indiciamento (denúncia), ele será afastado — afirmou o presidente duas semanas após a PF apresentar o relatório sobre o caso.
Em nota, a defesa de Juscelino disse que não foi notificada da denúncia, que, caso confirmada, será um "indício perigoso de estarmos voltando à época punitivista do Brasil".
"De toda forma", pontuou o texto, Juscelino "reafirma sua total inocência e destaca que o oferecimento de uma denúncia não implica em culpa, nem pode servir de instrumento para o MP pautar o país. O julgamento cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF), em quem Juscelino Filho confia que rejeitará a peça acusatória diante da sua manifesta ausência de provas".