ARGENTINA

Governo Milei dificulta acordos na cúpula da Celac, que pode terminar sem declaração

Encontro acontece nesta quarta-feira, em Honduras, com a presença do presidente Lula, entre outros; chefe de Estado argentino não participará

Javier Milei anunciou a desclassificação de documentos de inteligência relacionados à última ditadura militar - AFP

O cenário de profunda divisão que vive a América Latina atualmente ficará em evidência nesta quarta-feira, na cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), que será realizada em Honduras com a presença de alguns chefes de Estado, entre eles Luiz Inácio Lula da Silva — a grande maioria dos países será representada por chanceleres e outras autoridades.

Segundo O Globo apurou, até ontem à noite existiam duas possibilidades: que os 33 países que integram o grupo criado em 2010 não conseguissem chegar a um consenso — condição para aprovar resoluções — e, portanto, o encontro termine sem uma declaração; ou, como alternativa para evitar o desastre, a assinatura de uma declaração muito menor do que se esperava, e com países como a Argentina de Javier Milei deixando registrada, nas chamadas notas de pé de página, suas divergências sobre pontos do documento.

 

Essa foi a atitude do governo argentino na cúpula de chefes de Estado e de governo do G-20, em novembro do ano passado, no Rio. Segundo fontes oficiais brasileiras, “as negociações foram muito complicadas, e os presidentes deverão bater o martelo”.

A Argentina de Milei, como tem feito em outros âmbitos, se opôs a propostas sobre temas relacionados aos direitos das mulheres, políticas de gênero e aos chamados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), estabelecidos pelas Nações Unidas (ONU) no ano 2000, com o apoio de 191 países, entre ele as a própria Argentina. Alguns desses objetivos são erradicar a pobreza extrema e a fome, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna. “A Argentina não aceitou sequer falar em questões como desenvolvimento sustentável”, disse uma das fontes consultadas.

Milei veta qualquer documento que mencione os ODM, desde o início de seu governo. E na Celac basta um veto para impedir que um tema seja incluído numa declaração. A regra do consenso, nas atuais circunstâncias, paralisou o único grupo onde estão todos os países latino-americanos e, diferentemente da Organização de Estados Americanos (OEA), não participam os Estados Unidos. Mas presidentes como Milei, entre outros, atuam como representantes das posturas do governo de Donald Trump na Celac, o que acaba paralisando o governo.

Segundo as fontes consultadas, a situação será abordada por Lula em seu discurso, que, de acordo com as mesmas fontes, fará um diagnóstico do cenário atual e deverá "propor alternativas para que a regra do consenso não paralise o grupo".

Hoje, os principais aliados do Brasil na América Latina são Colômbia, Chile, México, Bolívia e Uruguai. O governo Lula está de olho no segundo turno da eleição presidencial equatoriana, no próximo domingo, que será disputado pelo presidente Daniel Noboa, alinhado com Trump, e Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, e, nas sombras, pelo Brasil.

Além de Lula, estarão presidentes os presidentes colombiano, Gustavo Petro, o uruguaio, Yamandú Orsi, e a mexicana Claudia Sheinbaum, que, diferentemente de seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador, tem uma agenda internacional ativa.