Solução do caso Master passará por uso dos recursos do FGC, dizem fontes
Recursos seriam usados para fazer frente a passivos do banco que ficarem de fora da compra feita pelo BRB
O banco Master já se prepara para buscar ajuda no Fundo Garantidor de Crédito (FGC), considerando o cenário de que o BRB deixe de lado alguns de seus ativos, como precatórios, direitos creditórios e ações de empresas em dificuldades financeiras.
O BRB estima que, até agora, que pelo menos R$ 33 bilhões do total de ativos do Master (que chegavam a R$ 63 bilhões em dezembro de 2024).
O jornal Valor Econômico divulgou que o Master já enviou uma carta ao FGC pedindo auxílio financeiro. Procurado, o Master não confirmou a informação.
No mercado, entretanto, é dada como certa a participação do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), entidade privada mantida pelos bancos para garantir a estabilidade do sistema financeiro, no desfecho das negociações do Master.
Uma pessoa que acompanha as conversas afirma que uma das possibilidades é que FGC ofereça uma linha de financiamento para fazer frente aos passivos do Master.
Nesse caso, não haveria liquidação do banco, evitando a intervenção do Banco Central e a criação de algum stress no sistema financeiro.
A carteira do Master está sendo analisada por grandes bancos, incluindo o BTG, que tem interesse em papéis menos ilíquidos e de precificação mais difícil, como precatórios e direitos creditórios.
Se de fato o banco de André Esteves ficar com essa parte do Master, os recursos do FGC seriam usados pelo BTG para "administrar e gerir" esses passivos.
Isso evitaria contaminação do balanço do BTG. O banco de André Esteves já utilizou recursos do FGC quando comprou o banco Pan, da Caixa.
Mas a estrutura de como seriam usados os recursos do FGC ainda é duvidosa.
Paulo Bittencourt, estrategista-chefe da MZM Wealth, family office especializado em planejamento financeiro e gestão patrimonial, observa que ainda há pontos a serem esclarecidos.
Ele estima que o FGC poderia liberar até R$ 20 bilhões para a operação com o Master, mas talvez seja criado algum desconto para pagamento dos CDBs, que oferecem 140% do CDI.
— O dinheiro para pagar estes CDBs tem que vir de algum lugar onde você tem uma margem muito maior que essa. Então o BRB vai diminuir sua margem de ganho com empréstimos pagando por um custo do dinheiro que não captou? Outro ponto são as Letras Financeiras (títulos de crédito privados não cobertos pelo FGC). Quem vai ficar com elas com o compromisso de pagar? Eu acho que o FGC vai acabar limitando um certo valor para emprestar, algo como R$ 20 bilhões no máximo. Talvez criem uma regra do tipo: receba 50% do que aplicou agora ou espere o vencimento. Outra questão é qual a situação do caixa do banco Master hoje? No mercado secundário, mais de R$ 10 bilhões de CDBs já foram negociados com deságio — observa.
Uma fonte próxima ao FGC observa que a instituição sempre busca a saída mais "barata" para seu caixa.
Nesse caso, uma linha de financiamento para ajudar o Master e o bancos (ou bancos) que ficarem com parte de sua carteira é uma saída mais barata do que pagar diretamente os CDBs do banco.
O FGC, desde 2008, pode ser acionado pelo Banco Central em questões do sistema financeiro, mesmo se não houver a quebra do banco.
O Master está solvente neste momento, mas a desconfinça do mercado é que há um descasamento entre o fluxo do que o banco tem a receber e os compromissos que deve honrar.
No curto prazo, o Master precisa honrar Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), que somam R$ 7,6 bilhões.
Mas os recebimentos do banco, no ano, somam apenas R$ 8 bilhões.