Donald Trump dobra aposta na nova gestão
Judiciário e eleições podem limitar atuação do chefe de estado
O início do segundo mandato do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está sendo marcado por medidas polêmicas e de profundo impacto. A guerra tarifária com a China e o congelamento de recursos para as universidades do país, foram algumas das medidas adotadas por Trump.
Na última semana, o republicano também fez duras críticas ao presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, e sugeriu ter poder para demiti-lo.
Segundo o cientista político e professor de Políticas Públicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Arthur Leandro, o republicano chega ao seu segundo mandato com as cartas mais favoráveis que já teve à mesa: venceu no voto popular pela primeira vez; controla as duas Casas do Congresso e transformou o Partido Republicano em “reflexo de sua própria persona política”.
“Essa conjunção de fatores amplia sua margem de ação e reduz a necessidade de qualquer aceno moderador. Em outras palavras, Trump governa agora sem freios visíveis, o que lhe permite aprofundar sua agenda mais disruptiva, tanto no front interno quanto na cena internacional. O novo equilíbrio de forças — ou, melhor, o desequilíbrio a seu favor — elimina os ruídos institucionais que antes o contiveram, e abre caminho para a aceleração de projetos que fragilizam práticas democráticas consolidadas. O radicalismo, nesse novo ciclo, já não precisa se disfarçar de pragmatismo”, destacou.
Obstáculos
Apesar do poder institucional ampliado, o cientista político avalia que Trump ainda não governa sem obstáculos. Ele explicou que dois vetores seguem no jogo: a Suprema Corte dos EUA (SCOTUS) e as eleições legislativas de meio de mandato, previstas para 2026.
“A Corte, embora majoritariamente conservadora, tem um histórico de preservar certo grau de independência, e já sinalizou que não hesitará em barrar abusos que comprometam a ordem constitucional”, mencionou Arthur.
Pleito
De acordo com o especialista, há um padrão histórico de perdas para o partido do presidente nas eleições legislativas de meio de mandato, que serão realizadas no próximo ano. Esse fator pode “reequilibrar" a composição do Congresso e devolver à oposição “algum poder de contenção”.
“Embora Trump opere hoje em liberdade ampliada, ainda há forças institucionais — e eleitorais — que podem limitar a radicalização. O futuro da democracia americana, nesse cenário, dependerá da solidez das instituições e da reação do eleitorado às políticas que virão”, reiterou.