Brasília

Lula acuado pelo "Centrão sem medo", considerado uma holding de apoio parlamentar

Marcos Nobre avalia que apoio de partidos da base do governo ao PL da Anistia expõe uma nova realidade

Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcos Nobre - Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Movimento ultraconservador do Congresso, que nunca fica longe do Governo, seja de esquerda ou direita, o Centrão ganhou uma nova alcunha: “O Centrão sem medo”. A definição é do professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de "Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro", vencedor do Prêmio Jabuti em 2023, o filósofo e cientista social Marcos Nobre.

Ele avalia que o apoio de partidos da base do governo Lula (PT) ao PL da Anistia expõe uma nova realidade do que se convencionou chamar "presidencialismo de coalizão". “O “Centrão sem medo” é como se fosse uma holding de apoio parlamentar: hoje, o governo ou tem 200 votos ou tem 380. Perceberam que, atuando como uma espécie de conglomerado, podem "deixar de ser vagões, como sempre foram, para ser locomotiva”, disse em entrevista ao jornal O Globo.

Na avaliação do pesquisador, partidos como PP, União Brasil e Republicanos formaram uma espécie de "holding de apoio parlamentar", o que ajuda a explicar por que o Legislativo "deixou de ser vagão para virar locomotiva". “Nos outros governos de Lula, a base passava no teste quando o Executivo precisava, mas nunca houve um programa comum. Só que agora, por uma série de razões, entre elas as emendas parlamentares impositivas e as emendas Pix, a fidelidade é menor, daí o que chamo de “Centrão sem medo”, afirmou.

O Governo Lula, segundo ele, embora tenha uma coalizão de 16 partidos, a base de apoio é mínima para evitar um impeachment, e precisa negociar com essa tríade de partidos, chamada por ele de “Centrão sem medo”, a aprovação de qualquer outra coisa.

“Esse bloco agora está pressionando o governo por uma reforma ministerial, e Lula está segurando. Então eles fazem chantagem com o PL da Anistia porque é onde dói mais para o governo, do ponto de vista simbólico, já que a defesa da democracia é a bandeira com a qual Lula foi eleito”, disse.

Sobre o novo Centrão, o Sem Medo, diz que há uma diferença da situação de hoje em relação ao que se chamava antes de presidencialismo de coalizão. "O Executivo tinha mais instrumentos para impor sua vontade nos outros mandatos de Lula, então a taxa de defecção da coalizão era mínima. Agora, o objetivo de uma reforma ministerial não é ganhar o voto desse deputado para o resto do mandato, e sim contemplar o suficiente para diminuir momentaneamente essa chantagem”.

E acrescenta: “Esses deputados estão com pressa para garantir uma maior capacidade de entrega nas suas bases, já que o próximo ano é de eleição. Quanto mais o governo atrasa uma resposta, mais aumenta a pressão nas redes sociais a favor desse PL da Anistia, e aí fica mais difícil haver um recuo".