Veja curiosidades das novelas de Janete Clair, que completaria 100 anos nesta sexta (25)
Novelista escreveu clássicos como 'Irmãos Coragem', primeira novela da Globo vendida para o exterior; 'Selva de pedra', um dos maiores ibopes da TV; 'Pecado capital' e 'O astro'
Só na TV, Janete Clair, que completaria 100 anos no dia 25 de abril de 2025, criou mais de 20 novelas.
A mineira era uma máquina de escrever: emendava uma obra na outra e no horário mais nobre da principal emissora do país, a TV Globo, o “das oito”.
São delas “Véu de noiva”, a primeira novela naturalista da Globo (“mais brasileira e atual”, disse o diretor Daniel Filho, na época da estreia, em 1969), “Irmãos Coragem” (1970), “Selva de pedra” (1972), “O astro” (1977), “Pai herói” (1979) e outras tantas.
Abaixo, confira detalhes das quatro principais obras de Janete, que o público jamais esqueceu.
Irmãos Coragem (1970)
Primeiro estrondoso sucesso da novelista, com Tarcísio Meira no papel de João Coragem (na foto, co Glória Menezes, com quem era casado e fazia par romântico na novela), irmão de Duda (Cláudio Marzo) e Jerônimo (Cláudio Cavalcanti).
No fictício povoado de Coroado, eles se revoltam contra o poder do coronel Pedro Barros (Gilberto Martinho), que controla o comércio de diamantes da região.
A novela marcou a estreia de um grande nome das novelas e do cinema brasileiro, no país no exterior: Sônia Braga, que fazia o papel de Lídia, mulher de Jerônimo.
A novela teve quase um ano de duração, com 328 capítulos, e foi a primeira que a Globo vendeu para o exterior.
Em 1995, quando a emissora completou 30 anos, foi feito um remake da obra, com Marcos Palmeira no papel de João, Marcos Winter, no de Duda, e Ilya São Paulo, no de Jerônimo.
Selva de Pedra (1972)
Cristiano ( Francisco Cuoco) e Simone (Regina Duarte) deixam Campos, no interior do Rio, onde ele teme ser acusado de um crime do qual participou, e partem para a capital.
Lá, se apaixonam, mas as tentações do poder colocam o amor dos dois à prova.
A obra — que marcou a estreia de Gloria Pires na TV, ainda criança — fez Janete Clair atingir a impressionante marca de 100% de share, ou seja, todos os aparelhos de TV ligados estavam sintonizados na novela. Foi no capítulo 152, na hora em que a personagem Simone, que se passava pela irmã, é descoberta.
Em 1975, quando "Roque Santeiro", de Dias Gomes, foi proibida pela Censura federal às vésperas de ir ao ar, a TV Globo precisou reprisar uma novela no horário das 8 porque não tinha material inédito como plano B.
A escolhida foi "Selva de pedra", compactada para 76 capítulos, exibidos enquanto "Pecado capital", também de Janete, era produzida.
Em 1986, uma versão em cores teve Tony Ramos no papel de Cristiano e Fernanda Torres, no de Simone. Foi o primeiro remake exibido no horário nobre.
Pecado capital (1975)
Com sinopse produzida a jato para substituir “Roque Santeiro”, proibida pela censura do governo Geisel, esta novela é considerada por muitos a obra-prima de Janete.
Cuoco interpreta o taxista Carlão, que encontra uma mala com dinheiro de assalto esquecida em seu carro. Entre usá-lo e devolvê-lo, muita coisa acontece na vida dele e de sua namorada, Lucinha, interpretada por Betty Faria.
O célebre destino de Carlão, quem morre no fim da trama, não era bem o Janete pretendia escrever. Ela gostava de finais felizes para seus protagonistas, e acabou indo ao ar a morte do malandro.
A ideia foi do diretor, Daniel Filho, que bateu o pé. “Ela falava: você vai causar uma revolução”, relembra Alfredo Dias Gomes, filho da novelista. “Ela queria que o público ficasse feliz.”
Em 1998, a novela também foi refeita, desta vez por Gloria Perez, a única colaboradora que Janete teve em tuda sua carreira.
O remake foi exibido no horário das 18h, e o papel de Carlão ficou com Eduardo Moscovis e o de Lucinha, com Carolina Ferraz.
O astro (1977)
“Quem matou Salomão Hayala?” parou o Brasil muito antes de aparecer Odete Roitman em “Vale tudo”.
Este foi um dos motes desta trama, cujo protagonista era o vidente picareta Herculano Quintanilha, vivido por Francisco Cuoco (na foto).
Quando ele conhece o inseguro Márcio Hayala (Tony Ramos, em sua estreia na Globo), passa a mandar e desmandar no império da família libanesa.
Foi na época desta novela que Janete começou a ser chamada de "Usineira de sonhos", apelido dado por Carlos Drummond de Andrade numa crônica para o Jornal do Brasil que tratava justamente da mobilização em torno do mistério da morte de Salomão, o empresário interpretado por Dionísio Azevedo.
O assassino foi Felipe (Edwin Luisi), o grande suspeito o tempo todo. “Ninguém pode me acusar de ter escondido o assassino”, disse Janete ao Globo no dia seguinte ao fim da novela.
"O astro" também marcou a estreia de Tony Ramos na TV Globo, no papel de Márcio Hayala, filho de Salomão.
"Cheguei na emissora com quase 13 anos de saudosa TV Tupi, que também fazia seus folhetins desde o início da televisão”, disse Tony, que, inclusive, apareceu nu na novela.
"Sou muito grato a Dona Janete ter confiado em mim duas novelas seguidas: ‘O astro’ e depois ‘Pai herói’. Não sou de ligar para autores, não gosto de perturbá-los, mas, às vezes, eles ligam porque querem informar de uma cena, nos prevenir do que pode acontecer daqui a uma semana... Dona Janete, quando fazia isso, era de uma doçura, de uma simplicidade, que encantava"