ORIENTE MÉDIO

Presidente da Autoridade Palestina pede que Hamas liberte reféns, enquanto Israel bombardeia Gaza

Para Mahmud Abbas, o cativeiro do grupo terrorista, que ainda tem 58 reféns, proporciona 'justificativas' a Israel para continuar atacando o enclave

O presidente palestino Mahmud Abbas - Thomas Coex / AFP

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abbas, fez um apelo ao Hamas nesta quarta-feira pela libertação de todos os 58 reféns israelenses. Para ele, o cativeiro do grupo terrorista proporciona "justificativas" a Israel para continuar atacando a Faixa de Gaza. O pedido de Abbas ocorreu no mesmo momento que bombardeios israelenses atingiam Gaza na manhã desta quarta, quando a Defesa Civil anunciou que ao menos 18 pessoas morreram nos ataques.

— O Hamas deu desculpas à ocupação criminosa para cometer seus crimes na Faixa de Gaza, sendo a mais notável a retenção dos reféns — declarou Abbas em Ramallah, sede da Autoridade Palestina na Cisjordânia. — Nosso povo está pagando o preço, não Israel. Meus irmãos, entregue-os.

As relações entre o partido Fatah, de Abbas, e o Hamas são tensas há quase duas décadas, com profundas divisões políticas e ideológicas. O Fatah é a maior organização política e militar integrante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), uma confederação multipartidária que inclui vários grupos. Defensor de uma solução de dois Estados, o Fatah é rival do Hamas, que desde 2007 governa Gaza.

Israel prosseguiu com os bombardeios na Faixa de Gaza na manhã desta quarta. Dentre as 18 mortes confirmadas até o momento, 11 morreram em um ataque contra uma escola onde pessoas estavam refugiadas, de acordo com o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal.

— O bombardeio provocou um incêndio em larga escala no prédio e vários corpos carbonizados foram encontrados — relatou Bassal, acrescentando que outras quatro pessoas morreram após um ataque em uma região residencial no leste de Gaza. A Defesa Civil também confirmou mais três mortes em outros bombardeios e afirmou que há "corpos carbonizados" e pessoas "desaparecidas sob os escombros".

Desde a retomada da ofensiva israelense em março, após quase dois meses de trégua, 1.928 pessoas morreram em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde do enclave, governado pelo Hamas. Ao todo, desde o início da guerra, o número de mortes chega a 51.305.

O ataque do Hamas que desencadeou o conflito, em 7 de outubro de 2023, resultou nas mortes de 1.218 pessoas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP. Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 58 continuam em cativeiro em Gaza, mas 34 morreram, segundo o Exército israelense.

Em um comunicado conjunto feito no início do mês, os líderes da França, Egito e Jordânia defenderam, durante um encontro no Cairo, que a Faixa de Gaza deve ser administrada exclusivamente pela Autoridade Palestina. A ANP, liderada majoritariamente pelo Fatah, atualmente controla parte da Cisjordânia ocupada.

Os chefes de Estado também condenaram qualquer tentativa de deslocamento forçado de palestinos e pediram um cessar-fogo imediato. A declaração acontece em meio à escalada na guerra desde que a trégua firmada entre as partes, cuja segunda fase deveria ter entrado em vigor no mês passado, foi suspensa. Desde então, Israel tem lançado amplos ataques contra Gaza, e já ocupa 50% do seu território.

Informações do ministério: Ataque de Israel em Gaza nos últimos dias já deixou ao menos 90 mortos

O presidente da França, Emmanuel Macron, reforçou que o grupo Hamas "não deve ter qualquer papel" na administração da Faixa. A posição foi reiterada no comunicado conjunto. No comunicado, os três líderes reafirmaram ainda sua rejeição a qualquer deslocamento de palestinos de suas terras ou anexação de território, reforçando que essas ações violariam o direito internacional.

O plano de Trump para Gaza, apresentado no início de fevereiro, causou indignação internacional ao sugerir a transferência de palestinos para Egito e Jordânia, com a ideia de transformar o enclave em uma espécie de "Riviera do Oriente Médio". Tanto o Egito quanto a Jordânia rejeitaram a proposta com veemência, apesar da pressão vinda de Washington.