Relação entre os sedutores Syril Karn e Dedra Meero toma novos rumos na segunda temporada de "Andor"
Série do Disney+ aborda relacionamento entre agentes do Império, do universo Star Wars, que evolui entre o fanatismo e o desejo de poder
O que atrai duas pessoas? Necessidade de companheirismo, afeto e apoio emocional? Ou seus anseios individuais de avançar suas próprias posições e consolidar o poder em um império tirânico que está construindo uma superarma do tamanho da lua?
Na série “Andor”, do Disney+, a resposta acaba sendo um pouco de cada opção, pelo menos no caso de um dos relacionamentos mais estranhos — mas inegavelmente cativantes — que surgiram na franquia “Star wars”: o frustrado embusteiro Syril Karn (Kyle Soller) e a implacável agente de segurança Dedra Meero (Denise Gough).
Meero e Karn se tornaram um assunto fascinante para os espectadores da primeira temporada. À medida que a história deles se desenrola na segunda temporada, cujos três primeiros episódios estrearam terça-feira, os atores que os interpretam e o criador da série, Tony Gilroy, estão avaliando a jornada dos personagens.
Quando os espectadores conheceram Karn, ele era um inspetor meticuloso, mas azarado, obcecado em capturar o personagem-título da série, o ladrão e espião Cassian Andor (Diego Luna). Seus fracassos lhe custaram o emprego, e ele se tornou lacaio do Escritório Imperial de Padrões, uma divisão do sinistro Império Galáctico.
Em seu novo posto, cruzou o caminho de Meero, supervisora do Escritório Imperial de Segurança cujas atribuições incluíam torturar suspeitos de rebelião. O desajeitado Karn sentiu-se atraído por ela como uma potencial parceira romântica e como a personificação do Império que ele venerava.
A calculista Meero via Karn tanto como um meio para seu progresso quanto como um trapalhão que não merecia sua atenção.
Gilroy disse que Karn e Meero surgiram quando ele estava planejando “Andor”. Sabendo que queria começar com Andor cometendo um assassinato, Gilroy disse que sentiu que seria “um crime contra a natureza dramática não ter um perseguidor”.
Esse perseguidor acabou se tornando Karn. Ele diz que também deveria haver “o lado mais distante da história”. Isso o levou a Meero.
Estrutura maligna
Soller disse que apreciava como os primeiros roteiros de Gilroy para “Andor” retratavam a “natureza devastadora dessa enorme estrutura corporativa maligna” da qual Karn fazia parte, ao mesmo tempo em que davam ao personagem “uma vida interior que eu nunca tinha visto antes”.
Ele fez uma pesquisa histórica, comparando Karn a inúmeras pessoas da época da Segunda Guerra Mundial, que Soller descreveu como “pessoas normais — normal está entre aspas — que foram apanhadas pelo fascismo, que foram influenciadas pelo medo e por suas próprias inseguranças, sua falta de compreensão e falta de empatia”.
Gough disse que via Meero como focada, implacável e ambiciosa, e que encontrou seu caminho para a personagem por meio de diálogos escritos e instinto.
Gilroy disse que, à medida que a escrita de “Andor” progredia, algum tipo de colisão entre Karn e Meero tornou-se inevitável, uma ilustração de dois diferentes tipos de pessoas que seriam atraídas para um sistema autoritário como o Império.
"Acho que o que quero dizer com eles, em última análise, é o conflito entre a visão romântica do autoritarismo e a versão fanática dele" disse ele.
Karn é o fanático ingênuo que vê Meero como seu caminho para uma vida melhor, enquanto Meero é a crente convicta.
Momento crítico
Em uma cena da primeira temporada, um Karn cegamente devotado espera por Meero do lado de fora de seu escritório, com a intenção de se comprometer com sua causa.
Ela avisa Karn que poderia mandá-lo prender, mas em vez de fugir, ele responde: “Eu quero o que você quer. Sinto isso. Sei disso.” No fim da temporada, Karn salva Meero de uma multidão enfurecida na rua.
Os personagens foram deixados em um momento crítico, e estava claro para onde alguns fãs queriam que eles fossem em seguida.
Os primeiros episódios da segunda temporada de “Andor” revelam o que aconteceu com Meero e Karn após seu ato de heroísmo. (Detalhes desses episódios estão a seguir — pare de ler se quiser evitar spoilers.)
No episódio 2, descobrimos que os dois se estabeleceram em um relacionamento doméstico, no qual seus desejos contrastantes e patologias pessoais ainda estão em conflito.
Apesar das reservas que expressou, Gough disse que entendia por que Meero agora queria se unir a Karn — mesmo que fosse apenas para ficar de olho nele.
"Ele me viu no meu momento mais vulnerável" disse ela. "Então preciso ficar de olho nisso, porque não quero que isso fique exposto para o mundo"
E no Episódio 3, a dinâmica de dominação e conquista do casal é explorada ainda mais por meio de outro rito de passagem no relacionamento: uma refeição em casa, onde Karn apresenta Meero à sua mãe (Kathryn Hunter). Isso se torna o pano de fundo para uma batalha de vontades entre as duas mulheres.
Sem entrar em mais detalhes, Soller disse que se identificava com o dilema de Karn.
"Já passei por isso" disse ele. "Você regride completamente e desaba na cama por cinco minutos, ou precisa usar o banheiro por uns dez minutos e se olhar no espelho"
Gilroy fez alguns alertas sobre o quanto a história de Meero e Karn tinha a dizer sobre relacionamentos reais e terrenos, mesmo como um conto de advertência.
Quando está traçando o rumo de uma série como “Andor”, Gilroy disse que não tem nenhuma agenda específica além de explorar “o que seria dramático, o que poderia ser um comportamento verdadeiro e o que seria divertido”.
É somente quando ele discute essas escolhas criativas em retrospectiva, acrescentou — um exercício “puramente forense”, como ele mesmo disse — que ele é “forçado a ser um pouco mais analítico sobre o que pode estar acontecendo”.
Examinar seus personagens nesse nível só pode revelar muito sobre o romance.
"É um pouco como uma autópsia" disse ele.