ESTADOS UNIDOS

Trump afirma que navios americanos deveriam trafegar 'de graça' pelos canais do Panamá e Suez

Presidente Donald Trump disse que as duas passagens, cruciais para a navegação global, "não existiriam sem os Estados Unidos"

O presidente dos EUA, Donald Trump (E), e a primeira-dama Melania Trump na cerimônia fúnebre do Papa Francisco na Praça de São Pedro, no Vaticano - Filippo Monteforte/ AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou neste sábado que os navios de bandeira americana, civis e militares, deveriam ter tráfego livre — e gratuito — pelos canais do Panamá e de Suez, duas das principais passagens marítimas globais.

Para ele, os dois canais, construídos nos séculos XIX e XX, “não existiriam” sem os Estados Unidos.

Na publicação em sua rede social, o Truth Social, Trump não explica o que motivou sua cobrança, apenas diz que “navios americanos, tanto militares quanto comerciais, deveriam ter permissão para navegar gratuitamente pelos dois canais, por onde passam 35 mil navios todos os anos.

Ele ainda afirma que pediu “ao secretário de Estado Marco Rubio que cuidasse imediatamente e registrasse essa situação”.

A ameaça não é inédita, ao menos no caso da passagem na América Central. Em seu discurso de posse, em janeiro, Trump disse que planejava “retomar” o Canal do Panamá, afirmando que a China o estava operando "na prática" e que o governo panamenho havia quebrado a promessa de manter a neutralidade do canal, algo negado pelas autoridades locais.

O Pentágono, como revelou a rede NBC, chegou a desenvolver “opções militares” para assumir o controle da passagem, o que causou protestos na Cidade do Panamá.

No mês seguinte, durante uma viagem de Marco Rubio à região, o Departamento de Estado publicou na rede social X que “embarcações do governo dos EUA agora podem transitar pelo Canal do Panamá sem pagar taxas, economizando milhões de dólares por ano para o governo dos EUA”.

A afirmação foi prontamente rejeitada pela Autoridade do Canal do Panamá (ACP), que opera a passagem: na ocasião, a instituição afirmou que "autorizada a definir pedágios e outras taxas para a circulação pelo canal", acrescentando que "não fez nenhum ajuste a eles".

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Rubio reconheceu que não havia qualquer tipo de acordo mas, ecoando um discurso da Casa Branca, apontou para uma suposta influência chinesa no canal — ele se referia a dois portos controlados por um conglomerado de Hong Kong na área, cuja venda foi anunciada em março mas suspensa por Pequim pouco depois. O governo panamenho, em uma concessão a Washington, também se retirou da Iniciativa Cinturão e Rota, um dos pilares da diplomacia econômica chinesa.

Com 51 km de extensão e um tráfego anual de 14 mil embarcações, o Canal do Panamá liga os oceanos Pacífico e Atlântico, e foi construído pelos EUA no início do Século XX, em uma iniciativa que envolveu a concessão de parte do território panamenho. Em 1977, o então presidente Jimmy Carter firmou um acordo com as autoridades locais, estabelecendo uma administração conjunta até 1999, quando o Panamá assumiria as operações.

O texto não inclui menções ao tráfego gratuito de navios americanos, apenas que as tarifas sejam "justas, razoáveis, equitativas e consistentes com o direito internacional", e que seja mantida a neutralidade no canal, algo que Trump, ao citar a presença de empresas chinesas, diz estar sendo violada.

— Fomos muito maltratados com esse presente tolo que nunca deveria ter sido feito, e a promessa do Panamá para nós foi quebrada — disse o republicano em seu discurso de posse, em janeiro.

Já a menção a Suez, rota primordial para os portos europeus e por onde passam cerca de 20 mil navios por ano, é uma novidade por parte do presidente americano. A passagem, que liga os mares Vermelho e Mediterrâneo, foi construída no século XIX por Egito e França, passou para o controle britânico em 1882 e nacionalizada pelo então presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, em 1956.

Segundo estimativas, cerca de 15% de todo o comércio marítimo global passam pelo Canal de Suez, que viu o tráfego de navios diminuir em meio aos recorrentes ataques contra embarcações na costa do Iêmen pelos houthis, um grupo financiado pelo Irã e que controla parte do país.