Fenômeno

Bebês reborn: especialista explica se bonecas podem ter uso terapêutico

As bebês reborn foram um dos assuntos mais comentados no Brasil nas últimas semanas

Bebês reborn - Free Pik

Fenômeno que existe desde a década de 1990, com início nos Estados Unidos, as "bebês reborns" se transformaram num dos assuntos mais comentados do Brasil nas últimas semanas.  

As bonecas que se assemelham com bebês reais são feitas de forma artesanal e, atualmente, podem custar entre R$ 400 e R$ 1.300 na internet.

Função terapêutica?
Um impulso para o assunto viralizar nas redes sociais foi o vídeo da  influenciadora Carolina Rossi, também conhecida como "Sweet Carol", em que ela simula um parto de uma bebê reborn. 

Entre críticas e comentários curiosos, a maioria das pessoas não entendeu os motivos pelos quais essas bonecas fazem tanto sucesso. 

Em contato com a reportagem da Folha de Pernambuco, o psiquiatra do Hospital Jayme da Fonte, Vítor Hugo Stangler, explicou se há um possível uso terapêutico das bonecas realistas. 

Vítor Hugo Stangler, psiquiatra do Hospital Jayme da Fonte. Foto: Cortesia.

O especialista detalhou que, apesar de não ter sido o motivo da criação, as bebês reborn podem sim ser utilizadas como um método de auxílio, principalmente para mães que perderam seus bebês durante a gestação ou de forma precoce.

"As bebês reborn foram criadas com o objetivo de deixar os bonecos cada vez mais próximos da realidade. Eles não surgiram, até onde sei, com um objetivo terapêutico de tratamento psicológico e psiquiátrico", iniciou Vítor Hugo Stangler.

"Não existem terapias que são baseadas especificamente na abordagem com as bebês reborn,  mas elas podem ser utilizadas como a figura de objeto para lidar com o luto e trauma de mães. É uma forma de trazer concretude àquela imagem do filho perdido que muitas vezes ela não vai ter acesso e isso ajudará no processo terapêutico. Muitas vezes as bebês reborn podem ser incluídas no processo de perda das mães com o processo de luto", analisou.

Outras possibilidades 
Além das mães que perderam seus bebês, outras pessoas podem ser beneficiadas com o uso de bonecas, segundo o psiquiatra.

Pacientes com deficiência intelectual e com quadros neurocognitivos como a Doença de Alzheimer compõem um grupo em que é possível o uso.

"O uso de bonecas, não especificamente as bebês reborn, pode ser utilizado para auxiliar a forma comportamental no controle da agitação desses pacientes. Apesar de não existir nenhum estudo que indique essa utilização, tem sido visto na prática que há uma boa resposta. Principalmente em quadros de agitação da demência", disse. 

Apoio especializado
Apesar da possibilidade do uso terapêutico das bebês reborn, o psiquiatra do Hospital Jayme da Fonte alerta que é necessário o acompanhamento de um profissional treinado e habilitado.

Fazer apenas pelo motivo de ter visto o relato de outras pessoas pode ser prejudicial.

"A viralização do assunto traz à tona um ponto muito mais questionável. É quando você começa a utilizar a fantasia para lidar com a realidade. É o que acontece muitas vezes quando começamos a utilizar o bebê numa forma de estilo de vida e tratá-lo como um bebê de verdade fora do ambiente terapêutico. Isso começa a abranger sua vida de uma forma bem ampla. As pessoas começam a fazer encontros de bebês reborn, ir a parques. Você percebe que a ideia não fica restrita ao ambiente terapêutico. A vida passa a girar em torno desse bebê reborn", enfatizou Vítor Hugo Stangler. 

De acordo com o especialista, essa utilização demasiada das bebês reborn pode trazer problemas ao invés de ajudar. "Você demonstra que não está conseguindo processar e lidar com aquele trauma. Você está vivendo a fantasia de que aquele trauma e perda não existe".