TERRA

Mais uma polêmica no Ártico: terreno gigantesco pode ser vendido por quase R$ 2 bilhões

Área fica no remoto arquipélago de Svalbard, na Noruega, região que está sob for pressão

Longyearbyen, a capital administrativa de Svalbard - Michael Haferkamp/ wikimedia

Um terreno privado no remoto arquipélago ártico de Svalbard, na Noruega, atraiu um grupo de compradores dispostos a pagar o valor pedido de € 300 milhões (US$ 341 milhões ou R$ 1,9 bilhão) — caso o governo norueguês não anule o acordo por preocupações geopolíticas.

O consórcio inclui investidores noruegueses e internacionais que “têm uma visão de longo prazo para proteger essa área contra as mudanças ambientais”, afirmou Birgit Liodden, uma das acionistas minoritárias que está vendendo o terreno e conhecida ativista climática, em entrevista na sexta-feira.

Segundo ela, os investidores são cidadãos de países-membros da OTAN e de nações signatárias do Tratado de Svalbard, mas não houve ainda diálogo com o governo norueguês sobre a venda.

A propriedade Sore Fagerfjord — um terreno de 6 mil hectares localizado a cerca de 65 km da principal cidade do arquipélago, Longyearbyen — foi colocada à venda em maio do ano passado. Posteriormente, o governo declarou que qualquer negociação ou acordo de venda deve ser previamente aprovado pelo Estado por motivos de segurança nacional. O Ministério do Comércio da Noruega reiterou essa posição à Bloomberg na sexta-feira.

Rivalidade entre potências globais por novas rotas marítimas
O arquipélago tem sido afetado pelo aumento das tensões geopolíticas, especialmente após o ex-presidente dos EUA Donald Trump declarar que queria “assumir o controle” da Groenlândia da Dinamarca. Svalbard é território norueguês, mas é regido por um tratado centenário assinado por cerca de 45 países, entre eles Rússia, China e Estados Unidos. A rivalidade entre potências globais na região se intensificou devido às mudanças climáticas, que vêm abrindo novas rotas marítimas com o derretimento do gelo.

Mais de 1.600 noruegueses vivam nas ilhas. E há também uma comunidade permanente de cerca de 200 russófonos, segundo dados do órgão de estatísticas da Noruega. A Rússia tem acusado repetidamente a Noruega de violar o tratado ao militarizar o arquipélago, o que o governo norueguês nega. No ano passado, autoridades norueguesas repreenderam o embaixador chinês no país depois que um turista chinês posou na ilha usando trajes militares.

— O acordo é uma solução muito boa, porque estamos cuidando do clima e não há nenhum aspecto de segurança envolvido— diz Per Kyllingstad, advogado que representa os vendedores do terreno.

Ele argumenta que o governo norueguês não pode impedir a venda, pois os compradores são ambientalistas interessados em preservar a natureza, o que, segundo ele, exclui a aplicação da lei de segurança.

O terreno em questão tem aproximadamente o tamanho de Manhattan, com mais de 5 km de costa e é repleto de montanhas, fiordes e vida selvagem ártica. De abril a agosto, há sol constante; de outubro a fevereiro, é a estação escura, sem incidência de luz solar.

A propriedade pertence há mais de um século à empresa norueguesa Aktieselskabet Kulspids. Fundada por famílias abastadas de Oslo interessadas nos recursos naturais da região — originalmente com o objetivo de minerar asbesto —, a empresa trocou de donos diversas vezes ao longo dos últimos cem anos.

Liodden afirmou que cerca de metade do valor da venda será destinado a projetos ambientais em Svalbard.

— São áreas imensas e sensíveis sobre as quais sabemos quase nada. Esta é uma forma de proteger uma região preciosa ameaçada pelas mudanças climáticas — disse ela.