Transição de patrimônio exige preparo e tempo, dizem especialistas
Sucessão patrimonial deve começar cedo e ser conduzida com base no perfil de cada herdeiro
A sucessão patrimonial é um processo que exige planejamento, diálogo e tempo. Longe de ser um gesto automático, como "apertar um interruptor", o repasse de bens e responsabilidades para os herdeiros deve ser feito gradualmente, com base nas características e nos interesses das novas gerações, afirmam especialistas em gestão de fortunas.
“O ideal é começar ainda na juventude, respeitando o perfil de cada sucessor”, explica Yuri Freitas, chefe de planejamento patrimonial no Brasil do UBS Global Wealth Management. Ele lembra que uma preocupação comum entre famílias ricas é evitar que o conhecimento do tamanho do patrimônio desestimule os jovens a construir a própria trajetória.
A visão se alinha ao que defende o megainvestidor Warren Buffett, que recomenda deixar aos filhos o suficiente para que realizem seus sonhos, mas não tanto a ponto de não fazerem nada. “É necessário preparar esse herdeiro para que ele saiba lidar com o patrimônio no futuro”, reforça Freitas.
Processo
No Itaú Private, William Heuseler, diretor global de planejamento patrimonial, observa que a disposição de pais e mães para falar sobre o tema varia bastante. “Existe o desejo de engajar os filhos, mas também um certo tabu em tratar o patrimônio como algo familiar”, diz.
Roberto Freitas, sócio da G5 Partners, reforça que a transição deve ser progressiva e envolver as gerações simultaneamente por um período. “O ideal é que a geração seguinte assuma o protagonismo no momento certo”, afirma. A empresa atende mais de 300 grupos familiares e oferece capacitação por meio de sessões individuais que abrangem desde educação financeira até regimes de casamento.
No UBS, o programa For the Future é voltado à formação de herdeiros. O banco também organiza eventos na Suíça e promove comunidades internacionais para troca de experiências. A filosofia, segundo Freitas, é entender primeiro a composição do patrimônio — o que inclui não apenas ativos financeiros, mas também imóveis, obras de arte e empresas — e, depois, mapear a estrutura familiar, levando em conta aspectos como famílias multijurisdicionais.
Formação
O Itaú também mantém iniciativas para a formação de sucessores entre as mais de 11 mil famílias que atende. O programa Family Wealth Across Generations, realizado desde 2009, reúne herdeiros de 18 a 25 anos em encontros bienais. Há ainda ações voltadas para jovens em idade escolar, como o Ituber Experience e o Summer Job. Já o Summer Program leva maiores de 18 anos para uma semana de imersão em unidades do banco em cidades como Miami e Zurique.
Para aclimatar os herdeiros à gestão dos bens, uma alternativa comum são as doações em vida com reserva de direitos. “A segunda geração se torna proprietária, mas as decisões seguem com os doadores”, explica Roberto Freitas. Isso permite que o sucessor se familiarize com a estrutura patrimonial antes de assumir responsabilidades.
Heuseler destaca ainda a importância de reconhecer as aptidões individuais de cada herdeiro. “É uma forma de pensar na transmissão não apenas dos bens, mas também dos valores da família”, afirma. E, assim como aconselha Warren Buffett, garantir que os filhos usufruam do patrimônio sem abrir mão de seus próprios caminhos.