VATICANO

Cardeais iniciam isolamento na Casa Santa Marta para conclave; conheça residência

Antes de 2005, os cardeais ficavam em quartos desconfortáveis e com poucos banheiros no Palácio Apostólico

Casa Santa Marta - reprodução

Os 133 cardeais eleitores do conclave começaram a se acomodar nesta terça-feira na Casa Santa Marta, no Vaticano, onde permanecerão isolados do mundo durante a eleição, que começa nesta quarta-feira (7), até a escolha do sucessor do Papa Francisco.


A residência onde Francisco viveu, chamada Domus Sanctae Marthae em latim, é um alojamento que o Papa João Paulo II mandou reformar no final dos anos 1990 para oferecer acomodações dignas aos cardeais que iam a Roma eleger um novo Pontífice. Antes, eles costumavam ficar em quartos pequenos, desconfortáveis e precários.

O conclave, segundo a Santa Sé, começará oficialmente às 10h de quarta-feira, quando os sinais de telefone serão cortados no interior do Vaticano para isolar os cardeais de influências externas.

Durante o processo, os "príncipes da Igreja" devem permanecer sem telefone, sem acesso à internet ou a meios de comunicação, e conservar o sigilo sobre tudo que diz respeito à eleição do novo Papa. Por isso, os cardeais permanecerão isolados na Casa Santa Marta, podendo sair apenas para se deslocar até a Capela Sistina, onde ocorrerá a votação.

A ordem para desocupar os quartos daqueles que residem habitualmente em Santa Marta — não apenas a chamada família papal, mas também figuras religiosas, prelados, embaixadores e outros inquilinos ocasionais — foi emitida no dia 22 de abril, um dia depois da morte de Francisco.

Os 133 cardeais comerão em espaços comuns, confessarão e terão momentos de oração, mas tudo isso deve acontecer longe de qualquer pessoa que não tenha feito um juramento de absoluta confidencialidade.

O número elevado de cardeais neste conclave fez com que a residência de Santa Marta, onde eles costumam se hospedar desde o rito de 2005, ficasse pequena: um edifício vizinho, que geralmente abriga funcionários do Vaticano, precisou ser aberto para acomodar os "príncipes da Igreja".

Antes de 2005, os cardeais ficavam em quartos desconfortáveis e com poucos banheiros no Palácio Apostólico, razão que levou João Paulo II a ordenar uma grande reforma.

Além disso, as forças de segurança do Vaticano vão monitorar o percurso que os cardeais eleitores devem fazer pelo menos duas vezes ao dia — manhã e tarde — para percorrer as poucas centenas de metros que separam a Piazza Santa Marta do "coração" do Vaticano, atravessando a Via delle Fondamenta e vários pátios até chegar ao pátio de San Damaso, de onde se acessa a Capela Sistina.

Santa Marta foi refúgio para judeus
Antes da reestruturação ordenada por João Paulo II, que lhe deu a configuração atual, Santa Marta era historicamente um "lazareto" papal para doentes de cólera: um pequeno hospital localizado fora dos palácios apostólicos quando, no final do século XIX, o Papa da época temia que a epidemia de "doença asiática", como era chamada, chegasse a Roma.

Em 1884, por ordem de Leão XIII, o edifício de Santa Marta foi transformado em um “lazareto para acomodar as famílias papais e as dos bairros próximos de San Pedro”, com uma espécie de ambulatório e uma igreja dedicada justamente ao seguidor de Jesus.

Segundo o relato do Evangelho, os três irmãos, Marta, Maria e Lázaro (amigo de Jesus que ressuscitou), frequentemente hospedavam Jesus Cristo em sua casa em Betânia, perto de Jerusalém, quando o Mestre visitava a Cidade Santa. E Marta, segundo as Escrituras, era quem mais cuidava dos cuidados práticos da casa como anfitriã.

A casa de Santa Marta também foi refúgio para muitos judeus durante os anos de perseguição nazi-fascista e para representações diplomáticas de países em guerra com a Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler. Finalmente, João Paulo II decidiu transformá-lo em uma "casa de conclave", com obras de restauração concluídas em 1998.

Hoje, Santa Marta, onde Francisco decidiu morar, dispõe de quartos com banheiro privado e serviços similares aos de um hotel. A distribuição dos quartos entre os cardeais para o conclave foi definida por sorteio.

Os funcionários que prestarão apoio durante a eleição - médicos, ascensoristas, trabalhadores do refeitório e dos serviços de limpeza, entre outros - também juraram na segunda-feira manter sigilo sobre o que acontecerá, sob pena de excomunhão. (Com La Nación)