O que é um cardeal? Os "príncipes da Igreja" escolhem o novo Papa
Com funções importantes dentro da Igreja Católica, os cardeais são responsáveis por eleger o Papa e moldar a direção pastoral da Santa Sé
Cardeais de todo o mundo viajaram ao Vaticano para preparar o conclave que escolherá o sucessor do Papa Francisco, morto no dia 21 de abril, aos 88 anos. Os prelados, que ocupam uma posição central na hierarquia da Igreja Católica, têm a responsabilidade de eleger o novo Papa, seguindo um processo rigoroso e cerimonial. Mas, afinal, o que é exatamente um cardeal?
Alto dignitário
A palavra cardeal vem do latim cardinalis, que significa “fundamental”, e designa um alto dignitário da Igreja Católica escolhido pelo Papa para auxiliá-lo em seu governo. O título oficial é cardeal da Santa Igreja Romana.
Reunidos no Colégio Cardinalício — presidido atualmente pelo cardeal decano, o italiano Giovanni Battista Re, de 91 anos —, os cardeais formam a cúpula da Igreja. Por ser um título e não uma função, muitos deles são bispos de dioceses ao redor do mundo, enquanto outros ocupam cargos na Cúria Romana, o governo do Vaticano.
Na estrutura da Santa Sé, os principais dicastérios — equivalentes a ministérios governamentais — são dirigidos, em sua maioria, por cardeais.
Eleitores de Papas
Atualmente, há 252 cardeais na Igreja Católica, mas apenas aqueles com menos de 80 anos têm o direito de votar na escolha de um novo papa durante o conclave. Esses são os chamados cardeais eleitores, cujo número chega hoje a 135 — dois, no entanto, não irão participar por problemas de saúde.
O conclave ocorre a portas fechadas na famosa Capela Sistina e segue normas e procedimentos cerimoniais rígidos.
Criados, não nomeados
Os cardeais não são nomeados, e sim “criados” por decreto papal. O termo remonta ao período romano e indica que o beneficiário é elevado de posto por suas qualidades pessoais, e não designado para ocupar um cargo ou ofício vago.
De acordo com as normas do Vaticano, o Papa pode criar cardeais entre os homens “que se destacam notavelmente por sua doutrina, costumes, piedade e prudência na gestão de assuntos”.
Vermelho cardinalício
Os cardeais — também conhecidos como purpurados — vestem a cor vermelha, símbolo do Senado romano, que representa poder, prestígio, autoridade e o sangue de Cristo. Além da vestimenta característica, utilizam também um anel, tradicionalmente de safira, uma cruz peitoral, um báculo e uma mitra.
Uma criação política
A criação de cardeais reflete as orientações políticas e pastorais do pontífice, que costuma usar esse poder para moldar o grupo responsável por eleger seu sucessor. Durante seu pontificado, o Papa Francisco se esforçou para designar mais cardeais procedentes das "periferias" do mundo católico, lugares anteriormente ignorados por Roma.
Privilégios decrescentes
Conheça a ordem hierárquica e as funções dos cargos:
Papa: é o líder máximo da Igreja Católica, considerado o sucessor de São Pedro. Tem autoridade suprema sobre toda a Igreja, define doutrinas, nomeia bispos e cardeais, e representa a Igreja mundialmente. Reside no Vaticano. Também tem o poder de canonizar pessoas.
Cardeal: ocupam o segundo posto mais alto na hierarquia. São escolhidos pelo papa, geralmente entre os bispos. Fazem parte do Colégio de Cardeais, que aconselha o papa e tem como principal função eleger um novo pontífice em caso de vacância.
Arcebispo: responsável por uma arquidiocese, que é uma diocese de maior relevância, geralmente por sua história ou tamanho. Supervisiona os bispos das dioceses vizinhas em sua província e responde diretamente ao papa.
Bispo: governa uma diocese, que é uma região com várias paróquias. Tem a missão de ensinar a fé, administrar os sacramentos e orientar os padres e fiéis de sua diocese. Pode ser auxiliado por bispos auxiliares.
Padre: atua nas paróquias, celebra missas, confissões, batizados, casamentos e dá orientação espiritual à comunidade. É o principal elo entre os fiéis e a estrutura da Igreja.
Diácono: pode ser transitório (em formação para o sacerdócio) ou permanente. Auxilia o padre nas celebrações, pode batizar, celebrar casamentos e pregar. Não pode consagrar a Eucaristia nem ouvir confissões.
Os cardeais, também conhecidos como "príncipes da Igreja", recebem o tratamento de "eminência" e ocupam a segunda posição na hierarquia da Igreja, logo após o Papa. Eles têm autoridade para oficiar em todas as igrejas fora de Roma e podem ser sepultados nos templos. Ao longo do tempo, seus privilégios foram sendo reduzidos.
O Concílio Vaticano II limitou muitos dos benefícios antes concedidos aos prelados de alta hierarquia, como o uso exclusivo de compartimentos em trens ou salões do trono em suas residências. O Papa Francisco foi além: em 2021, reduziu seus salários para conter os prejuízos causados pela pandemia, e em 2023 determinou que os cardeais passassem a pagar aluguel para morar em apartamentos no Vaticano.