VATICANO

Fumaça preta e fumaça branca: como o Vaticano prepara o sinal do conclave?

Santa Sé recorre a componentes químicos para interferir na coloração da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina e dar aviso à comunidade Católica pelo mundo

Fumaça preta no Conclave - Vaticano News/Reprodução

O progresso do conclave, que ocorre a portas fechadas no interior da Capela Sistina, será medido em branco e preto até que seja escolhido o novo Papa. A cor da fumaça liberada ao fim de cada sessão de votação entre os cardeais, pela chaminé de cobre que se projeta do teto da capela, guarda o sinal decisivo sobre o futuro da Igreja Católica. A "fumata nera" indica que ninguém recebeu o voto de dois terços dos 133 cardeais eleitores, enquanto a "fumata bianca" anuncia o consenso sobre o nome do Pontífice.

O modo como as cores são adicionadas à fumaça permaneceu um mistério por décadas. O método de comunicação por fumaça é adotado desde o século XIX, mas apenas em 2013, quando o Vaticano revelou seu segredo, por ocasião do conclave que elegeu o Papa Francisco. Em comunicado, explicou que ambas as receitas são fórmulas pirotécnicas bastante comuns.

 

A fumaça branca combina clorato de potássio, açúcar de leite (que serve como um combustível facilmente inflamável) e breu de pinho. Já a fumaça preta usa perclorato de potássio e antraceno (um componente do alcatrão de carvão), com enxofre como combustível. O clorato e o perclorato de potássio são compostos relacionados, mas o perclorato é preferido em algumas formulações por ser mais estável e seguro.

Os produtos químicos são inflamados eletricamente em um fogão especial usado pela primeira vez no conclave de 2005, segundo a declaração. O fogão fica na Capela Sistina ao lado de um fogão mais antigo, no qual as cédulas são queimadas; a fumaça colorida e a fumaça das cédulas se misturam e sobem por um longo tubo de cobre até o teto da capela, onde a fumaça é visível da Praça de São Pedro. Um fio de resistência é usado para pré-aquecer a chaminé para que ela seja aspirada adequadamente, e a chaminé tem um ventilador como reserva para garantir que nenhuma fumaça entre na capela.

Tradicionalmente, após uma votação malsucedida, os funcionários adicionavam palha úmida às cédulas para produzir uma fumaça preta fuliginosa. Mas a confusão ocorrida durante o conclave de 1958, quando houve vários alarmes falsos — aparentemente porque a palha não conseguiu se inflamar — levou o Vaticano a encontrar um sistema mais infalível usando produtos químicos. Em 2005, as autoridades começaram a usar cartuchos, incluindo um marcado como “fumo bianco”, que criou a fumaça branca anunciando a eleição de Bento XVI. O cartucho foi projetado para produzir fumaça por seis minutos e meio.

Mesmo assim, houve uma certa confusão naquele ano sobre se a fumaça branca ou preta saía da chaminé, e os sinos tocaram na Basílica de São Pedro para confirmar a eleição. O Vaticano deverá tocar os sinos novamente este ano, como um reforço. (Com The New York Times)