VATICANO

Conclave: O que os cardeais buscam? O perfil do novo Papa em meio à herança de Francisco

Religiosos sinalizam preferência por um Pontífice pastoral e menos burocrata

Cardeais participam da missa do Sexto Novendial na Basílica de São Pedro, após o funeral do Papa e antes do conclave, no Vaticano - Filippo Monteforte /AFP

Uma das grandes questões que rondam a eleição do sucessor de Francisco são as características do próximo Papa e o que os cardeais reunidos no Vaticano levam em conta para votar. O vaticanista Filipe Domingues, durante uma participação no UOL News, indicou que a Igreja Católica procura um Pontífice “mais pastor e menos burocrata”.

— O que a gente sabe das conversas das congregações gerais, antes do Conclave, é que os temas discutidos são (aqueles abordados) pelo pontificado de Francisco. Essa igreja mais aberta, que está em contato com o mundo. Parece que a sinalização é que seja um papa mais pastor, ou seja, não tanto burocrata e mais diplomata, o que jogaria contra Pietro Parolin (favorito nas bolsas de apostas). — disse Filipe na entrevista.

Segundo casas de aposta, Pietro Parolin, cardeal italiano de 70 anos, é tido como favorito para suceder Francisco. Ele, que nunca se envolveu diretamente em assuntos considerados polêmicos da Igreja, é tido como candidato de compromisso entre progressistas e conservadores. Apesar de não se posicionar, em uma situação declarou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo era “uma derrota para a humanidade”.

— O Papa tem um grande poder de moral, como influenciador, nas relações internacionais... Francisco tinha essa capacidade de sentar em qualquer mesa e com qualquer um, e todo mundo parava para ouvi-lo. Agora, esse novo Papa, quem quer que seja, terá de saber encontrar esse equilíbrio, entre a evangelização (que seria essa Igreja mais pastoral) e geopolítico. — afirma Filipe Domingues, que questiona os futuros posicionamentos do novo Pontífice: — O que o Papa vai dizer sobre as guerras no mundo, como vai lidar com líderes autoritários, as questões sobre imigração e climáticas? São questões que o Papa Francisco tocou e colocou a Igreja em diálogo.

O primeiro dia de votação terminou sem consenso entre os cardeais na Capela Sistina, com a emblemática fumaça preta saindo da chaminé. Na manhã desta quinta-feira, o rito se repetiu, ainda sem resultado positivo.

O que os cardeais procuram no novo Papa?
Embora as deliberações do conclave aconteçam a portas fechadas na Capela Sistina, os cardeais reunidos no Vaticano deixaram algumas pistas sobre o perfil que procuram em um próximo Papa. Algumas das características foram mencionadas pelo Gabinete de Imprensa da Santa Sé ao fim da Congregação Geral realizada na terça-feira — a 12ª e última antes do início do conclave.

— O debate centrou-se nas reformas do Papa Francisco, que precisam ser levadas adiante: legislação sobre abusos, questões econômicas, a Cúria Romana, sinodalidade, trabalho pela paz e cuidado com a criação — explicou o secretário de imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, a jornalistas na terça-feira.

O padre Rafael Fernandes, coordenador do curso de Teologia da PUC-RS, disse à UOL que a diversificação de cardeais dificulta o consenso.

— Nós temos que levar em conta que hoje existe um colégio cardinalista muito diversificado, até pela própria expansão que o Papa Francisco realizou, seja colocando cardeais na Ásia e na África ou aumentando esse número de cardeais votantes. Então, essa diversificação, aqui, talvez, dificulte o consenso.