opinião

Contradições sobre o uso correto das tecnologias em sala de aula e a questão do celular nas escolas

Em tempos em que a inteligência artificial se consolida como protagonista no cenário educacional global, é impossível não refletir — com certo desconforto — sobre o rumo que o Brasil tem tomado em relação à tecnologia nas escolas. Falo como cidadão, pai, advogado e, sobretudo, como educador. Enquanto países como China e Estados Unidos tornam o ensino de IA obrigatório nas escolas, aqui ainda debatemos se o celular deve ou não ser permitido em sala de aula — como se esse fosse o cerne da crise educacional que enfrentamos.

Permitam-me ser direto: quando uma escola proíbe o uso disciplinado do celular em sala de aula, ela está, na prática, assinando um atestado de incompetência pedagógica. Não se trata de defender o uso indiscriminado de dispositivos eletrônicos, mas de reconhecer que estamos falhando em preparar nossas instituições para uma nova realidade.

Uma revolução silenciosa (mas urgente)

Recentemente, Bill Gates afirmou que a inteligência artificial será capaz de substituir médicos e professores em até 10 anos (Fonte: *notjournal.ai*, Instagram, 2025). É uma afirmação ousada, mas não se pode ignorar o contexto: a IA já diagnostica doenças com mais precisão que profissionais humanos em certos casos, e plataformas educacionais estão cada vez mais adaptadas ao ritmo individual de aprendizagem dos estudantes.

Não estamos mais falando de futuro — estamos falando de presente. Na China, o ensino de IA já é política pública (Fonte: *jaimaginouisso*, Instagram, 2025). Os Estados Unidos seguiram o mesmo caminho. Esses países não estão apenas formando alunos. Estão formando cidadãos capazes de pensar criticamente sobre a tecnologia que os cerca.

E nós? Continuamos formando alunos para um mundo que já não existe mais.

O celular como símbolo do despreparo

Nada simboliza melhor essa dissonância do que a proibição do celular nas escolas. Essa decisão, embora muitas vezes bem-intencionada (como evitar distrações), revela a incapacidade institucional de enfrentar o verdadeiro desafio: reinventar a prática pedagógica.

O celular, hoje, é uma extensão do pensamento dos nossos jovens. É por meio dele que acessam conhecimento, constroem redes, resolvem dúvidas, aprendem línguas, programam, criam. Se isso não pode ser aproveitado pedagogicamente, o problema não está no aparelho — está na pedagogia. É mais fácil proibir do que ensinar a usar. Mais simples ignorar do que integrar.

Entre o medo e a inovação

Não afirmo que a IA ou os celulares sejam soluções mágicas. Tampouco defendo uma educação sem presença humana. Professores não são apenas transmissores de conteúdo — são referências, exemplos, escutas. Mas isso não impede que incorporem a tecnologia ao seu trabalho com inteligência, sensibilidade e propósito.

O mesmo vale para a medicina. Por mais que um algoritmo possa indicar um diagnóstico preciso, ele jamais substituirá o acolhimento, o olhar e a escuta de um médico humano. A questão aqui não é substituição, mas ampliação: como a tecnologia pode potencializar, e não apagar, aquilo que é essencialmente humano?

O papel da escola: resistência ou reinvenção?

Tenho visitado escolas em diversas regiões do Brasil e presenciado experiências inspiradoras com o uso pedagógico do celular e da IA. Projetos interdisciplinares, aulas gamificadas, produção de podcasts, investigações científicas apoiadas por aplicativos. Nada disso exige grandes orçamentos — exige visão, coragem e compromisso com o presente.

A escola do século XXI precisa deixar de tratar a tecnologia como inimiga. Deve acolhê-la, compreendê-la e integrá-la de forma crítica e criativa. Isso requer formação contínua dos docentes, atualização curricular e políticas públicas alinhadas à realidade digital que atravessa a vida dos alunos.

Conclusão: o desafio é nosso

A inteligência artificial, os celulares, a tecnologia... nada disso é, por si só, bom ou ruim. Tudo depende do uso que fazemos, das escolhas que tomamos e das prioridades que estabelecemos. E é nesse ponto que precisamos ser francos: se a escola continua proibindo o celular sem apresentar alternativas, está escolhendo a omissão. Está preferindo controlar a educar.

A revolução educacional já começou. O Brasil não pode seguir na arquibancada. Temos talentos, criatividade e disposição. O que nos falta é ousadia para mudar.

Não precisamos de escolas que ensinem a viver no século XIX. Precisamos de escolas que formem pessoas capazes de pensar, criar e transformar o século XXI.