Mercados saltam após trégua na guerra comercial entre EUA e China
EUA vão reduzir de 145% para 30% o imposto sobre importados chinesas; do outro lado, o país asiático reduzirá dos atuais 125% para 10%
Os Estados Unidos e a China vão reduzir por 90 dias as tarifas aplicadas sobre os produtos um do outro, segundo informaram em um comunicado conjunto, numa tentativa de aliviar as tensões comerciais. As duas maiores economias do mundo terão, agora, mais três meses para resolverem suas divergências.
Com a trégua, os mercados de ações na Ásia e na Europa subiram após o anúncio, e os futuros de bolsas americanas subiram. O petróleo também se valorizou — reagindo a menor possibilidade de uma diminuição do crescimento global da economia, o que demandaria menos a commodity — e os rendimentos dos títulos do Tesouro aumentaram.
Medido pelo índice DXY, que mede a moeda americana frente a uma cesta de outras seis, o dólar se fortaleceu, avançando mais de 1,2% no fim da madrugada desta segunda. O yuan offshore também valorizou cerca de 0,5% frente ao dólar.
Os contratos futuros atrelados ao indicador americano S&P 500 subiram 3%, enquanto os vinculados ao Nasdaq 100 avançaram 3,8% por volta das 3h28 (horário de Nova York). Em Hong Kong, o índice Hang Seng subia cerca de 3,3%.
Trégua
As tarifas combinadas de 145% impostas pelos EUA sobre a maioria das importações chinesas serão reduzidas para 30%, incluindo a alíquota relacionada ao fentanil, até 14 de maio.
Já as tarifas de 125% aplicadas pela China sobre produtos dos EUA cairão para 10%, conforme o comunicado e autoridades informaram durante uma coletiva realizada nesta segunda-feira, em Genebra, na Suíça.
“Concordamos que nenhum dos lados deseja o desacoplamento econômico”, afirmou o secretário do Tesouro, Scott Bessent. Ele acrescentou que houve “uma discussão muito robusta e produtiva sobre os próximos passos em relação ao fentanil” e que as negociações podem levar a “acordos de compra” por parte da China.
Bessent destacou ainda que as reduções tarifárias anunciadas hoje não se aplicam às tarifas setoriais impostas a todos os parceiros comerciais dos EUA, e que as tarifas aplicadas à China durante o primeiro governo Trump permanecem em vigor.
O comunicado dos EUA também afirmou que “as partes estabelecerão um mecanismo para continuar as discussões sobre relações econômicas e comerciais”.
A China sempre tratou as relações com os EUA com base nos princípios de respeito mútuo, informou a agência estatal Xinhua, citando um livro branco sobre segurança nacional. Segundo o documento, a China está comprometida com o desenvolvimento estável das relações com os EUA e considera que impor pressões e ameaças não é a maneira correta de lidar com o país.
O anúncio representa um passo em direção ao arrefecimento da guerra tarifária, que levou a uma queda imediata no comércio entre os dois lados do Pacífico. Os dois países já haviam relatado “progressos substanciais” nas negociações, o que animou os mercados e ajudou as ações chinesas a se recuperarem das perdas desde o anúncio das tarifas por Donald Trump, em 2 de abril, chamado por ele de “Dia da Libertação”.
O representante de comércio dos EUA, Jamieson Greer, disse que os EUA querem um comércio mais equilibrado com a China e que “nossos colegas chineses claramente vieram dispostos a negociar esta semana”.
A Casa Branca chegou a chamar o acordo de “acordo comercial” em um comunicado inicial divulgado no domingo, mas ainda não está claro qual é o objetivo aceitável para ambos os lados ou quanto tempo levará para alcançá-lo. A China, anteriormente, exigiu que os EUA retirassem todas as tarifas impostas este ano — algo incompatível com o objetivo dos EUA de reduzir ou eliminar o déficit comercial.
Embora os mercados tenham reagido positivamente às notícias recentes, a história mostra que pode demorar muito para se chegar a um acordo detalhado — se isso for possível. Em 2018, os dois países também concordaram em colocar a disputa “em pausa” após uma rodada de negociações, mas os EUA recuaram do acordo pouco depois, levando a mais de 18 meses de tarifas adicionais e novas conversas, até a assinatura do chamado “acordo de Fase Um” em janeiro de 2020.
No fim, a China não cumpriu o compromisso de compra previsto no acordo, e o déficit comercial dos EUA com a China aumentou durante a pandemia, preparando o cenário para a atual guerra comercial.