Ator Jeremy Renner revelou experiência de quase morte vivida em acidente; saiba qual
Pesquisa aponta característica comum entre mais de quatro mil pessoas que vivenciaram essa experiência
Há pouco mais de dois anos, o ator Jeremy Renner foi atropelado por uma máquina de tirar gelo que pesava sete toneladas. Em suas novas memórias, ele escreveu que quando estava deitado, prestes a morrer, experimentou algo extraordinário. Ele pôde ver toda a sua vida ao mesmo tempo, e sentiu uma "paz estimulante" e uma "conexão com o mundo". Ele também viu familiares e amigos diante de si, dizendo-lhe para não deixar-se ir.
O que Renner descreveu é "clássico das experiências de quase morte" — termo usado por pesquisadores para se referir a tais eventos —, disse Jeffrey Long, que criou uma Fundação voltada para a pesquisa de experiências de quase morte.
A Fundação de Long já coletou mais de quatro mil relatos semelhantes ao de Renner. Algumas pessoas que vivenciaram a experiência de quase morte relataram uma sensação de energia, paz e ausência de tempo, como descrito pelo ator. Alguns também disseram ter visto seu corpo de cima, avançar por um túnel em direção a uma luz e até mesmo encontrar Deus.
O público em geral pode estar familiarizado com esses acontecimentos através de um tipo de memórias que apresentam as experiências de quase morte como prova de um "além cristão". Mas estes relatos foram registrados em diferentes países, grupos demográficos e religiões, bem como entre ateus, e têm sido objeto de pesquisa científica há décadas.
Até agora, não há consenso científico sobre as causas das experiências de quase morte. Mas, seja qual for a causa, elas podem mudar a vida das pessoas: alguns perdem todo o medo da morte; outros mudam de profissão ou abandonam relacionamentos.
Por que elas acontecem?
As experiências de quase morte são difíceis de estudar porque as lesões e doenças catastróficas que podem causá-las não podem ser monitoradas por experimentos controlados. No entanto, os neurocientistas têm proposto uma série de teorias sobre suas causas, e muitos acreditam que as experiências derivam de uma complexa cascata de processos neurológicos e fisiológicos.
Em um artigo publicado em março, sete pesquisadores propuseram uma explicação que relacionava as experiências de quase morte com uma explosão de substâncias químicas cerebrais chamadas neurotransmissores, e uma ativação de receptores específicos no cérebro que produzem uma sensação de calma e imagens vívidas. O documento também afirma que as experiências de quase morte podem ocorrer quando pessoas parcialmente conscientes passam por períodos do sono em que fazem movimentos rápidos com os olhos, que é quando os sonhos mais sólidos ocorrem.
Outra sugere que alguns aspectos das EQM podem ocorrer por causa de uma disfunção na área do cérebro responsável por combinar em uma única experiência sensorial imagens, sons, movimento e o sentido inato de onde estamos. Isso poderia explicar uma das partes mais curiosas de experiências de quase morte: que algumas pessoas dizem, mais tarde, observar seu corpo de cima, e são capazes de descrever detalhes do que está acontecendo ao seu redor, mesmo que pareçam incapazes de saber.
Kevin Nelson, professor de neurologia da Universidade de Kentucky, observou que as pessoas podem ouvir mesmo quando aparentemente não respondem, e que as pálpebras dos pacientes geralmente estão abertas durante os esforços de reanimação. Portanto, eles podem perceber a visão e o som em tempo real, mas, como seu cérebro está confuso pela falta de fluxo sanguíneo, lembram-se do momento como uma perspectiva superior ao seu corpo.
Alguns pesquisadores, e um grande número de pessoas que tiveram experiências de quase morte, acreditam, porém, que essas experiências são verdadeiros encontros com o além. "Fé e ciência muitas vezes se confundem neste assunto, em parte porque tem um profundo valor emocional", disse Nelson. O médico, entretanto, acrescentou que "não há evidência científica de que podemos ter experiência humana fora do cérebro".
A Long, cuja prática médica se concentra em oncologia, acredita que a consciência das pessoas deixa o corpo durante as experiências de quase morte de uma forma que a neurociência ainda é incapaz de explicar.
Pesquisador de experiências de quase morte há 50 anos, Bruce Greyson afirma que, atualmente, o foco está em como os médicos poderiam ajudar aqueles que passam por isso a processar o que viveram. Médicos e enfermeiros são geralmente os primeiros a quem os pacientes descrevem suas experiências e, às vezes, respondem com desdém. "Para quase todas as pessoas que vivencia, a experiência de quase morte é uma das coisas mais importantes que aconteceu com eles na vida e, embora possa parecer insignificante para o profissional da saúde, não é para quem vive".