BRASIL

Banco Central publica ata do Copom que elevou a Selic a 14,75%

BC não deu sinais concretos de seus próximos passos

Banco Central do Brasil - Marcello Casal/JrAgência Brasil

O Banco Central divulgou nesta terça-feira a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, quando decidiu pelo aumento de 0,50 ponto percentual da taxa Selic, de 14,25% para 14,75% ao ano Esse é o maior patamar dos juros básicos desde agosto de 2006, quando a taxa também estava em 14,75%.

No comunicado da semana passada, o BC preferiu não dar indicações diretas sobre os próximos passos, mas as apostas do mercado financeiro se dividem entre manutenção em 14,75% no encontro de junho ou mais uma alta de 0,25pp, para 15%. Para o colegiado, o cenário de incerteza, especialmente externa, e o estágio avançado do ciclo de aumento da Selic, com impactos ainda a serem sentidos, demandam "cautela adicional" e flexibilidade. Desde setembro, os juros já subiram 4,75pp.

"Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação", disse o Copom, no comunicado, acrescentando que o comitê seguirá "vigilante" e que a "calibragem" do aperto dos juros continuará guiada pela convergência da inflação à meta.

 

Mesmo sem sinais concretos sobre o plano de voo nas reuniões futuras, o BC sinalizou em alguns momentos que está muito próximo do fim do ciclo de alta da Selic, se já não o encerrou. Em um trecho do comunicado, o colegiado destacou que o cenário para a inflação prescreve que os juros fiquem em nível "significativamente" contracionista "por período prolongado". Antes, o BC indicava que demandava uma política "mais contracionista", ou seja, que atua como uma força restritiva ao crescimento econômico.

"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta."

Outro indício na direção de uma interrupção próxima do ciclo é que o Copom sinaliza que agora o balanço de riscos para a inflação futura está simétrico, com as chances similares de que os dados inflacionários fiquem acima ou abaixo do que é projetado pelo BC.

Atualmente, o Copom estima que o IPCA - índice de inflação oficial - vai terminar este ano em 4,8% e 2026, em 3,6%. A meta é de 3,0%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

O equilíbrio do balanço de riscos se deu com a inclusão de mais uma ameaça baixista para a inflação: a chance de uma redução nos preços de commodities que produza efeitos desinflacionários.

Esse risco está ligado ao cenário internacional, que o BC classificou como adverso e "particularmente incerto" devido, principalmente, à política comercial dos Estados Unidos, em referência ao "tarifaço" praticado pelo governo de Donald Trump. Para O Copom, o cenário segue exigindo cautela dos países emergentes, sobretudo em um momento de maior tensão geopolítica.

"A política comercial alimenta incertezas sobre a economia global, notadamente acerca da magnitude da desaceleração econômica e sobre o efeito heterogêneo no cenário inflacionário entre os países, com repercussões relevantes sobre a condução da política monetária. Além disso, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com fortes reflexos nas condições financeiras globais."