BRASÍLIA

Líder do PT no Senado diz que assinará CPMI do INSS: "Nenhum tipo de problema de fazer investigação"

Sessão é marcada por falas dos governistas que pediram investigações também sobre o período do governo de Bolsonaro

Rogério Carvalho (PT-SE) - Saulo Cruz/Agência Senado

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), afirmou que assinará o pedido para abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigação dos descontos indevidos nas aposentadorias do INSS, durante a sessão do Senado que ouve o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, nesta quinta-feira. Rogério Carvalho disse não temer a investigação.

O senador Jaques Wagner (PT-BA) dise que "talvez assine" pela instalação da CPMI. A sessão foi marcada por falas dos governistas que pediram investigações também sobre o período do governo de Jair Bolsonaro (PL).

— Eu acho que nós devemos defender que o partido deve participar desta CPMI. Não para segregar este ou aquele governo, mas para prender quem fez fraudes no INSS. Nosso partido, se mudar o fato determinado sem faz palanque, vai assinar esta CPMI, olhando a linha do tempo, sem problemas em fazer uma investigação profunda — disse Carvalho.

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Jaques Wagner disse as investigações podem mostrar irregularidades do governo Bolsonaro.

— Quem chamou a polícia de deixou ela investigar foi o presidente Lula. Eu não assino CPI, por achar que isto cabe à Polícia Federal. O Congresso deve cuidar dos problemas reais do Brasil, das matérias que importam. Mas, talvez eu assine essa, por acreditar que os ventos vão mudar — disse

Wolney protege governo Lula
Em suas falas, Wolney tentou afastar o governo Lula das fraudes em descontos em aposentarias e pensões pagas pelo INSS, em audiência no Senado nesta quinta-feira.

Queiroz afirmou que uma brecha aumentou o número de empresas que faziam cobranças indevidas. Ele citou um dispositivo inserido em medida provisória pondo fim à revalidação dos descontos associativos, em 2022. Segundo ele, isso levou a um aumento no número de empresas fraudulentas.

— É nesse momento, entre 2019 e 2022, que o ladrão entra na casa. Porque o fim da revalidação e a expectativa anterior que houvesse revalidação fez com que 11 novas associações se credenciarem no INSS. Essas empresas, que mais tarde descobrimos que eram 100% fraudulentas, a maior parte delas se estabeleceu nesse período — disse o ministro.

Uma MP editada em 2019 previa revalidação anual de autorizações para descontos de empresas, mas acabou sendo alterada pelo Congresso estabelecendo que isso seria feito a cada três anos a partir de 2021. Depois, uma nova alteração legislativa adiou essa exigência para 2022 — mudança que foi fruto de uma emenda assinada por Wolney quando era deputado.

— Nós estávamos dentro de uma pandemia do Covid-19, havia o distanciamento social, não era razoável que se fizesse uma revalidação onde os beneficiários, pessoas acima de 70 anos, em sua maioria, buscassem as associações e aí se deslocassem e comparecessem. Então era uma medida justificada e foi por essa razão que o Conselho Nacional de Previdência recomendou que fosse feita a dilação de prazo para a vigência ser a partir de 2022, quando já teria vacina e já teria um outro ambiente que não mais haveria necessidade de isolamento social — disse o ministro hoje.

— Nesse momento era discutida no Congresso a revalidação anual. Quando se opta, em 2022, a pôr fim à revalidação, essas empresas se sentiram livres para, a partir de 2022, ou seja em 2023 e 2024, passar um enormidade de descontos não autorizados que fez esse número subir exponencialmente, o que nós só detectamos depois da operação de abril de 2025.

Segundo as investigações, os valores descontados dos aposentados passaram de R$ 536,3 milhões em 2021 para R$ 706,2 milhões em 2022. Em 2023, deram um salto para R$ 1,299 bilhão e em 2024, atingiram R$ 2,637 bilhões. O número de entidades mais do que dobrou, saindo de 15 para 33 no período.

Wolney se desvinculou das nomeações feitas durante a gestão de Lupi, como o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o ex-procurador-geral do INSS, Virgílio de Oliveira Filho.

— Eram funcionários de carreira. Foram, então, escolhidos pelo então ministro Carlos Lupi. Não participei da nomeação, da escolha, não opinei sobre nenhum quadro.

Ele disse também que "vai às últimas consequências" para apurar as fraudes no INSS. Wolney respondeu aos questionamentos da oposição afirmando que as fraudes não começaram no terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

— As fraudes não começaram agora, mas terminaram neste governo. Foi nosso governo que pôs fim aquela farra para preservar os aposentados e punir aquelas associações. O presidente Lula já determinou que doa a quem doer, essa investigação vai até o fim para responsabilizar todos aqueles que estão envolvidos nas fraudes, não vai haver proteção a ninguém — disse.

Os convites foram feitos pelos senadores Sérgio Moro (União-PR), Dr. Hiran (PP-RR), Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos Rogério (PL-RO).

Entenda a investigação do INSS
A Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram no fim de abril uma megaoperação para combater descontos não autorizados em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS.

O chefe do órgão, Alessandro Stefanutto, foi afastado do cargo por decisão judicial e depois demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A operação, que envolveu centenas de policiais e auditores, foi autorizada pela Justiça do Distrito Federal para combater um esquema nacional de descontos associativos não autorizados em aposentadorias e pensões.

As investigações apontam que a soma dos valores descontados chega a R$ 6,3 bilhões, entre 2019 e 2024, mas ainda será apurado qual porcentagem foi feita de forma ilegal.

As investigações apontaram que havia descontos sobre valores pagos mensalmente pelo INSS como se os beneficiários tivessem se tornado membros de associações de aposentados, quando, na verdade, não haviam se associado nem autorizado os descontos.

Após a operação, o governo suspendeu todos os acordos que previam desconto nas aposentadorias.