OPINIÃO

Entre Bolhas e Ruas: reflexões de um pai

Ser pai de uma adolescente de 13 anos e de um menino de 8 é como navegar em mares revoltos, com ondas que ora empurram, ora desafiam. Você quer ser o leme, guiar com firmeza, mas também deixar que eles sintam o vento e aprendam a ajustar as velas. Três produções me fizeram mergulhar fundo nessas reflexões: as séries Adolescência, da Netflix, e Em Defesa de Jacob, da Apple TV, e o filme Confiar, que, mesmo anos após seu lançamento, continua por demais atual. Juntas, essas obras são indispensáveis para qualquer pai ou mãe que queira pensar sobre o peso e a beleza de criar filhos.

Adolescência me transporta para o universo da minha filha. Aos 13 anos, ela vive aquele momento em que o mundo parece um convite e um mistério ao mesmo tempo. Vejo nela a vontade de se aventurar, de questionar, de encontrar seu lugar. Mas o que ela escuta nas conversas com os amigos? O que absorve nos vídeos que pipocam no celular? Em Defesa de Jacob me provoca ainda mais, com sua história que mostra como os filhos podem carregar segredos que nem sonhamos. E Confiar — esse filme é um alerta. Ele escancara os perigos que rondam nossos filhos, especialmente na era digital, e me faz perguntar: estou vendo o que realmente importa?

Equilibrar liberdade e limites é o desafio. Minha filha já quer sair com as amigas, ter mais autonomia. Meu caçula, com seus 8 anos, ainda vive entre brincadeiras e descobertas, mas já capta as tensões que tento disfarçar. Quero que eles cresçam com raízes para se ancorar e asas para explorar. Só que, às vezes, sinto que, na ânsia de protegê-los, podemos, na verdade, construir redomas.

Redomas que não são só minhas. Vejo isso nos colégios, nos condomínios, nos clubes onde todos parecem se conhecer. Criamos bolhas, mundos à parte, onde nossos filhos convivem só com quem supostamente é parecido com eles. É um apartheid disfarçado, que separa não por lei, mas por escolhas que fazemos sem perceber. E, paradoxalmente, essas bolhas não garantem segurança. Pelo contrário: às vezes, é dentro delas que surgem os maiores desafios — pressões para ser perfeito, comparações cruéis, uma solidão que não explica.

Penso também nas crianças que não têm essas bolhas. Nos meninos e meninas que enfrentam o mundo com menos amparo, em realidades onde o futuro é uma promessa distante. Eles sentem as mesmas dúvidas, os mesmos medos, mas com menos margem para tropeços. Se criar filhos já é tão complexo para mim, com as condições que posso oferecer, o que dizer de quem navega mares ainda mais revoltos? Essa ideia me inquieta. Quero que meus filhos conheçam o mundo além dos muros, mas como abrir essas portas sem medo?

Não tenho respostas certas, e talvez isso seja o mais verdadeiro na paternidade. Não quero ensinar, porque estou aprendendo a cada dia. Quero apenas olhar para meus filhos e enxergar além do que eles mostram. Quero que brinquem na rua, que convivam com quem é diferente, que vivam as pequenas dores que ensinam a crescer — aquelas gozações que não viram bullying, aquelas frustrações que forjam o caráter. Quero que respirem o ar de um mundo maior, mesmo sabendo que esse ar pode trazer tempestades.

Adolescência, Em Defesa de Jacob e Confiar não me dão um mapa, mas me lembram que ser pai é carregar a responsabilidade de guiar sem sufocar, de proteger sem isolar. É querer acertar, mesmo sabendo que vou errar. E me sinto sortudo, imensamente sortudo, por meus filhos terem uma criação tão sólida, moldada pela dedicação incansável e pelo carinho da mãe deles e pela presença constante e amorosa dos avós. Com eles ao nosso lado, espero que estejamos construindo uma bússola para ajudar nossos filhos a navegarem esses mares vastos, belos e desafiadores. E, quem sabe, ao compartilhar essas inquietações, eu consiga despertar em outro pai ou mãe o mesmo desejo que carrego: o de entender melhor nossos filhos, de respeitá-los como são, e de ajudá-los a encontrar seu caminho.
 

Este texto passou por revisão de inteligência artificial para aprimorar clareza e fluidez.
 

Delmiro Campos, antes de tudo, pai.