Mensagens revelam frustração de espiões russos em missão no Brasil e na Grécia
A maioria das mensagens retrata dois agentes infiltrados que precisavam desabafar
Após quase 10 anos de treinamento rigoroso em espionagem russa, Artem Shmyrev e sua esposa, Irina, trabalhavam como agentes infiltrados, com identidades falsas que planejavam usar pelo resto de suas carreiras.
As missões deles — a dela na Grécia e a dele no Brasil — são classificadas pelas agências de inteligência russas como um "privilégio". Mas mensagens de texto entre os dois, escritas em agosto de 2021 e recuperadas do telefone de Shmyrev, revelam o lado pessoal, muitas vezes frustrante, de suas vidas.
A seguir, três trocas de mensagens oferecem testemunhos únicos do trabalho e da solidão desses agentes. No que parece ser um procedimento padrão para espiões, eles trocavam mensagens em inglês, apesar de se passarem por cidadãos nativos de países com língua não-inglesa.
Essa troca de mensagens mostra uma dinâmica importante, não apenas em um casamento à distância, mas também na espionagem. O serviço de inteligência estrangeira da Rússia, o SVR, frequentemente une seus agentes secretos em casamentos no início de suas carreiras. Eles são enviados ao mundo como um casal, parceiros na espionagem e na vida.
Esses pares visam a diminuir a sensação de isolamento que pode afligir esses espiões durante anos, segundo especialistas.
Os Shmyrev eram diferentes. Foram enviados para países diferentes e ficaram separados por anos. Mas isso demonstra os desafios de trabalhar sozinho — indicam que o casal havia se frustrado com a labuta diária e, às vezes, um com o outro.
Essa troca se soma a um conjunto de evidências, coletadas em casos anteriores de espionagem russa, que sugerem que o trabalho secreto não é tão glamoroso quanto os recrutas esperavam.
Nos Estados Unidos, em 2010, documentos governamentais revelaram espiões russos trabalhando sem discrição. Artem, por exemplo, trabalhava como impressor 3D no Brasil, construindo seu disfarce enquanto ansiava por um trabalho de verdade. À distância, o casal tentava se apoiar, lidando com as demandas de um trabalho que acabou sendo muito diferente do que esperava.
As mensagens revelam o tipo de espionagem que os agentes estavam conduzindo. As mensagens mostram que Artem pressionou Irina a dedicar mais tempo à escrita de relatórios para que seus chefes em Moscou, na Rússia, entendessem o esforço que ela estava colocando em seu trabalho.
Irina, porém, não achava que seu trabalho — traduzir sites, criar campanhas publicitárias online e dar aulas para monitorar um grupo de estudantes americanos — valesse a pena ser reportado.
A maioria das mensagens retrata dois espiões que precisavam desabafar suas frustrações. O contato uns com os outros, pelo menos, lhes dava uma chance, às vezes, de serem eles mesmos.