Maître do Hotel Carlton em Cannes relembra casos com celebridades
Jean-François Pomares, maître do hotel Carlton, está prestes a se aposentar de carreira dedicada a satisfazer celebridades e turistas
Por quase 40 anos, Jean-François Pomares vem "administrando o imprevisível" como maître no luxuoso Carlton em Cannes, cargo que deixará em poucos meses após uma carreira dedicada a satisfazer celebridades e hóspedes comuns, com uma regra de ouro: nunca diga não.
Em sua profissão, "não" é "impossível" porque "encerra a conversa", disse à AFP Pomares, que começou a trabalhar no hotel de luxo em 1987, quando tinha apenas 15 anos.
Por lá passaram as maiores estrelas internacionais, de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger a Tony Curtis, Dennis Hopper, Michael Jackson e, mais recentemente, Robert de Niro.
"Estamos aqui para fazer o nosso melhor" acrescenta o homem de 61 anos, sorrindo, vestido com um paletó branco e uma gravata borboleta preta.
Ele garante todas as noites que o serviço no restaurante Riviera seja o melhor possível.
"A noite é meu elemento, é onde encontro minha realização" diz o maître, que termina o expediente entre 3 e 4 da manhã.
Encontros com estrelas
A madrugada é momento também propício aos encontros que marcaram sua trajetória, como aquela noite de inverno em que Alain Delon se aproximou dele.
"Ele me pediu para abrir o grande salão, onde jantares de festivais de cinema foram realizados" diz Pomares.
"Por quinze minutos, ele começou a me explicar que em tal mesa estava tal pessoa, etc. Acho que naquela noite ele precisava se reconectar com o passado"
Pomares confessa que nunca foi assistir a um filme durante o festival, evento que dá início à temporada de verão do hotel.
Em outra ocasião, ele teve a sorte de conversar com a atriz americana Sharon Stone, que estava lá para jantar.
"Era a mesa 24, ainda me lembro. Naquela época, ela não era nada conhecida" ele lembra.
"Ela voltou talvez dois ou três anos depois. Naquela época, já era uma verdadeira estrela mundial (...), e tive o prazer de ser reconhecido por ela"
No início do seu turno, Jean-François Pomares é o primeiro a se comunicar com a equipe da manhã.
"A transmissão de informações representa 70% do nosso trabalho. Se sabemos o que a pessoa vai pedir, onde quer sentar, a que horas vai chegar, se vai se atrasar ou não, isso nos permite antecipar muitas coisas" enfatiza.
Os "excêntricos" do festival
Apesar disso, seu trabalho envolve "sempre se preparar para o imprevisto", como ele diz.
"Mas eu adoro isso, é a adrenalina que me faz vibrar!" destaca.
Um exemplo foi quando um cliente inesperadamente pediu que ele organizasse seu pedido de casamento no píer da praia.
"Tivemos que encontrar um buquê de flores e montar um pequeno espaço no final do píer. Não sou muito bom em decoração, nem tenho muita habilidade, mas tivemos que pensar rápido (...) porque ia escurecer mais tarde" lembra ele, que foi um dos convidados para o casamento, também no Carlton.
Pomares destaca que, em sua área de atuação, o sorriso é "uma linguagem internacional que abre portas".
"Também recebemos muitos excêntricos que vêm porque é o festival, talvez querendo conseguir um papel" aponta o maitre.
"Nosso ponto forte é nos adaptar a todos, estarmos em sintonia com todos que encontramos, sejam eles celebridades ou não"
Um dia, ele conheceu um casal de 70 anos que parecia "nada confortável, deslocado".
"Até que a senhora me disse: 'Sabe, senhor? Meu marido e eu trabalhávamos no Hospital La Timone, em Marselha. Meu marido era zelador. Eu trabalhava no refeitório. Nossos filhos nos deram isso'" conta ele.
"Fiz de tudo para garantir que eles tivessem uma lembrança excepcional da noite, tanto que uma semana depois, a filha deles me ligou para me agradecer"