EUA pretendem superar vendas de armas a Taiwan do primeiro mandato de Trump para conter a China
Mesmo assim, muitos em Taiwan, temem que Trump possa não estar tão comprometido com a defesa da ilha quanto os antigos presidentes dos EUA
Os Estados Unidos planejam intensificar as vendas de armas para Taiwan, superando os níveis registrados durante o primeiro mandato do presidente Donald Trump.
A iniciativa visa frear as intenções da China, que tem aumentado sua pressão militar sobre a ilha democrática, segundo revelaram duas autoridades americanas à agência Reuters, sob condição de anonimato.
De acordo com uma das fontes, as notificações de vendas de armas para Taiwan poderiam “facilmente exceder” os US$ 18,3 bilhões aprovados entre 2017 e 2021, superando também os cerca de US$ 8,4 bilhões registrados durante o governo Biden.
As autoridades indicaram ainda que os EUA estão pressionando líderes da oposição taiwanesa a não se oporem aos esforços do governo para elevar os gastos com defesa a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da ilha.
Mesmo assim, muitos em Taiwan, temem que Trump possa não estar tão comprometido com a defesa da ilha quanto os antigos presidentes dos EUA. Durante a campanha eleitoral, Trump sugeriu que Taiwan deveria pagar para ser protegida e também acusou a ilha de roubar negócios de semicondutores americanos.
Mesmo sem relações diplomáticas formais com Taiwan, os EUA permanecem como seu principal aliado internacional e fornecedor de armamentos.
— É onde o presidente está. É onde todos nós estamos — afirmou uma das autoridades americanas, destacando o compromisso de Trump e de membros de sua equipe com o fortalecimento da “dissuasão severa” em relação à China. Segundo a fonte, Washington trabalha em estreita colaboração com Taiwan para estruturar um novo pacote de aquisição de armas, a ser ativado assim que a ilha garantir o financiamento necessário.
A Presidência de Taiwan confirmou à Reuters a determinação do governo em ampliar sua capacidade de autodefesa.
— Taiwan pretende aumentar a dissuasão militar enquanto continua a aprofundar sua cooperação de segurança com os Estados Unidos — disse o porta-voz do Gabinete Presidencial, Wen Lii.
O Ministério da Defesa taiwanês preferiu não comentar sobre possíveis novas compras, mas reafirmou declarações anteriores do ministro Wellington Koo sobre a importância da “solidariedade e cooperação dos aliados democráticos”.
Do lado chinês, o Ministério das Relações Exteriores reiterou sua oposição às vendas de armas americanas para Taiwan, criticando Washington por introduzir “novos fatores” que aumentariam as tensões no Estreito de Taiwan.
— Os Estados Unidos deveriam parar de criar novos fatores que poderiam levar a tensões — afirmou o porta-voz Lin Jian.
Internamente, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), busca aprovar um orçamento especial para elevar os gastos com defesa a 3% do PIB ainda este ano. No entanto, enfrenta resistência do parlamento, dominado pelo Kuomintang (KMT) e pelo Partido Popular de Taiwan (TPP), que aprovaram cortes orçamentários que ameaçam essa meta.
Essa instabilidade preocupa Washington.
— Estamos enviando uma mensagem bastante dura à oposição. Não atrapalhem. Esta não é uma questão partidária taiwanesa. É uma questão de sobrevivência taiwanesa — declarou uma autoridade americana à Reuters.
Três pessoas em Taiwan com conhecimento direto da situação confirmaram que o governo dos EUA e visitantes do Congresso dos EUA têm pressionado os partidos de oposição em Taiwan para não bloquearem os gastos com defesa, especialmente o próximo orçamento especial de defesa, que deverá ser proposto ao parlamento ainda este ano.
Em fevereiro, a Reuters revelou que Taiwan estava explorando uma compra multibilionária de armas dos EUA, na esperança de ganhar apoio do novo governo Trump. Espera-se que os novos pacotes de armas se concentrem em mísseis, munições e drones, meios econômicos para ajudar a melhorar as chances de Taiwan repelir qualquer ação militar das forças muito maiores da China.
Nos últimos anos, Pequim tem ampliado significativamente sua presença militar na região como forma de reafirmar sua reivindicação sobre a ilha. Taiwan, por sua vez, rejeita as pretensões de soberania de Pequim e afirma que apenas seu povo pode decidir o futuro da nação.