Coreia do Sul desliga alto-falantes que tocam K-Pop como forma de propaganda para a Coreia do Norte
Lee Jae-myung, o novo presidente da Coreia do Sul, disse que interromperia as transmissões de propaganda de seu antecessor
A Coreia do Sul desligou nesta quarta-feira os alto-falantes que vinham transmitindo músicas de K-pop, notícias e outras formas de propaganda para a Coreia do Norte ao longo do último ano — um dos primeiros gestos concretos do novo presidente eleito, Lee Jae-myung, para melhorar as relações intercoreanas.
O presidente Lee ordenou que os militares desligassem os alto-falantes de alta potência na tarde de quarta-feira para “ajudar a restaurar a confiança nas relações entre o Sul e o Norte e construir a paz na Península Coreana”, disse Kang Yu-jung, porta-voz de Lee.
As relações entre as duas Coreias atingiram seu ponto mais baixo em muitos anos sob o governo de seu antecessor destituído, Yoon Suk Yeol, à medida que os países intensificaram um confronto de provocações mútuas na fronteira. Yoon apoiava a ideia de espalhar informações externas para dentro do isolado Norte.
Ele permitiu que ativistas no Sul — em sua maioria desertores do Norte — lançassem grandes balões carregados com panfletos de propaganda que continham notícias e duras críticas ao líder norte-coreano, Kim Jong-un, chamando-o de “ditador sedento de sangue” ou de “porco”.
A Coreia do Norte reagiu com hostilidade aos balões e retaliou no ano passado enviando balões cheios de pontas de cigarro e outros tipos de lixo para o Sul.
O governo de Yoon respondeu ativando seus alto-falantes de propaganda há um ano, bombardeando soldados e aldeões norte-coreanos na fronteira com músicas de K-pop e notícias. O Norte aumentou o volume de seus próprios alto-falantes, transmitindo ruídos estranhos que os moradores sul-coreanos da fronteira consideraram tão irritantes que passaram a instalar janelas com vidros duplos e outros sistemas de isolamento acústico em suas casas.
Ao desligar seus alto-falantes primeiro nesta quarta-feira, o governo de Lee propôs, na prática, um cessar-fogo na guerra sonora. Autoridades militares sul-coreanas disseram que estavam monitorando a fronteira para ver se o Norte retribuiria desligando também seus equipamentos.
“Esperamos que a Coreia do Norte também pare com seus ataques sonoros, para que todos possamos voltar a ter uma vida normal”, disse Park Yong-cheol, prefeito de Gwanghwa, um condado sul-coreano na fronteira com o Norte.
Durante sua campanha eleitoral na semana passada, Lee criticou duramente a política de Yoon em relação à Coreia do Norte, acusando-o de aumentar desnecessariamente as tensões. Ele prometeu melhorar os laços intercoreanos buscando restabelecer os canais de diálogo entre as duas Coreias. Também defendeu que os dois países deixem de realizar ações que aumentem as tensões.
No início desta semana, o governo de Lee começou a pedir que grupos ativistas no Sul evitassem lançar balões de propaganda sobre a fronteira. Afirmou que os balões contribuíam mais para elevar a tensão política com o Norte do que para melhorar o acesso da população norte-coreana a informações externas.
Mas os ativistas insistiram que o envio de balões ao Norte fazia parte de sua liberdade de expressão garantida constitucionalmente. Também acusaram o governo de Lee de minar o direito dos norte-coreanos à informação e de apaziguar o regime de Kim em nome da redução de tensões.
Autoridades sul-coreanas indicaram que podem recorrer a leis domésticas de aviação e segurança pública para reprimir as tentativas de envio dos balões. Moradores da fronteira reclamam que as ações dos ativistas ameaçam sua segurança ao provocar tensões militares e incentivar a Coreia do Norte a retaliar com balões de lixo.
A Coreia do Norte não reagiu imediatamente aos mais recentes acenos de paz da Coreia do Sul.
No entanto, desde novembro o Norte deixou de enviar balões de lixo, num momento em que o Sul enfrentava meses de turbulência política interna, provocada pela breve imposição da lei marcial por parte de Yoon em dezembro e sua subsequente cassação e afastamento do cargo.
Sob o comando de Kim, a Coreia do Norte tornou-se cada vez mais hostil ao Sul. Encerrou todo o diálogo com Seul e Washington, e intensificou os testes de mísseis com capacidade nuclear. Kim prometeu tratar a Coreia do Sul não como parceira de reunificação, mas como inimiga que o Norte deve anexar — se necessário, com o uso de armas nucleares — no caso de uma guerra. Em outubro, o Norte demoliu com dinamite todas as conexões ferroviárias e rodoviárias entre as duas Coreias.
No Sul, Yoon também adotou postura de confronto em relação ao Norte. Seu governo expandiu os exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos e o Japão, envolvendo porta-aviões, bombardeiros estratégicos e caças furtivos, com o objetivo de dissuadir Kim. Yoon defendia espalhar a ideia de liberdade para o Norte a fim de penetrar no apagão informativo em que Kim se apoia há tempos para manter seu regime totalitário.